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Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Nova Lima

Flávia Costa Reis[1]

memorialhistoriadorinv@arquidiocesebh.org.br

Hebert Gerson Soares Júnior[2]

inventario@pucminas.br

A região onde se localiza a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar teve sua ocupação ligada às explorações realizadas pelos paulistas no século XVII. Sua descoberta, segundo Diogo de Vasconcellos (1904, p. 126), foi empreendida pelo Coronel Domingos Rodrigues da Fonseca Leme, que, ao adentrar nos sertões do Sabarabussu, por volta do ano de 1700, descobriu dois córregos auríferos – os ribeirões das Congonhas e dos Cristais – na região do Ribeiro do Campo (uma das primeiras denominações da região de Nova Lima, também utilizada por Antonil em sua obra Cultura e Opulência no Brasil, de 1711, p. 133). Em seus primórdios, a região era conhecida, ainda, por Congonhas das Minas do Ouro, Congonhas do Rio das Velhas, Nossa Senhora do Pilar das Congonhas e Congonhas do Sabará, sendo esse último o nome mais recorrente, prevalecendo até fins do século XIX, quando foi elevada à Vila no ano de 1891, passando a se chamar Vila Nova de Lima. Apenas no ano de 1923, por meio da Lei nº 843, recebe a denominação atual, Nova Lima.

Na década de 1720, já era grande a população local, entretanto, como aconteceu em várias outras localidades de Minas Gerais no século XVIII, com o esgotamento das minas, a região caiu no ostracismo. Auguste de Saint-Hilaire, que a visitou em inícios do século XIX, constatou que

Congonhas deve sua fundação a mineradores atraídos pelo ouro que se encontrava em seus arredores, e sua história é a mesma de tantas outras aldeias. O precioso metal esgotou-se; os trabalhos tornaram-se difíceis e Congonhas atualmente apresenta decadência e abandono. (SAINT-HILAIRE, 1941, p. 139).

A forma empregada para minerar o ouro de aluvião já não era eficiente, no entanto não significa que o metal havia realmente se esgotado. Em fins do século XVIII, o Coronel Manoel Pereira de Freitas, conhecido como Padre Freitas, comprou as terras de Morro Velho, onde iniciou novo método de mineração, com escavação, encontrando o precioso metal em grande quantidade. Em 1834, as minas foram vendidas para a empresa inglesa St. John d’El Rey Mining Company Limited. Após a nova descoberta e subsequente exploração das referidas minas, segundo Lima Jr. (1901, p. 335), a população voltou a crescer e a cidade a se desenvolver, dessa vez sob influência inglesa.

Tendo a população crescido significativamente em inícios do século XVIII, é de se esperar que um templo religioso tenha sido construído já nessa época. A tradição oral conta que a primeira igreja da região foi erguida em honra ao Nosso Senhor do Bomfim, próximo ao Ribeirão dos Cristais. A mesma tradição diz que, não muito tempo depois, um dos mineradores locais, ao se embrenhar na mata, teria visto uma mulher sentada sobre uma pedra, que lhe mandou erguer uma igreja em sua honra. Ao perguntar seu nome, ela respondeu que era Nossa Senhora do Pilar. Foi, então, construída pequena capela de taipa, posteriormente demolida, sendo erguida uma edificação maior, com esforço dos próprios paroquianos, na localidade onde hoje subsiste a matriz.

Sua paróquia foi criada por instituição episcopal do bispado do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XVIII, desmembrada da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Raposos, se tornando colativa por meio de decreto régio de 16 de janeiro de 1752. Não foi localizado o decreto de criação episcopal que, segundo Trindade (p. 96, 1945), se deu no ano de 1748. Encontrou-se, porém, documentação anterior a esse ano, em que a igreja de Nossa Senhora do Pilar já era referida como matriz, paróquia ou freguesia.

Nessa documentação, pertencente à Coleção Casa dos Contos e disponibilizada online por meio do site da Biblioteca Digital Luso-Brasileira, foi encontrado “Processo de Manoel Martins Mendes, vigário da freguesia do Pilar das Congonhas do Sabará[3], cobrando à Fazenda Real suas côngruas”. O referido vigário alega que “[…] asistio por vigário da Freguezia de Nossa Senhora do Pillar das Congonhas do Sabará no anno de 1718 para o de 1719 […]” (BIBLIOTECA NACIONAL, 1718-1722, grifo nosso), constando no processo, ainda, provisão do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Francisco de São Jerônimo, confirmando que designara o dito padre para Congonhas do Sabará, onde se lê “[…] provemos em Vigario da Igreja Matriz das Congonhas […] e que “[…] comprira a residencia na dita parochia e Matriz […]” (BIBLIOTECA NACIONAL, 1718-1722, grifo nosso).

Também na Coleção Casa dos Contos, encontrou-se “Processo referente a Valério Gomes Ferreira, vigário da freguesia das Congonhas do Rio das Velhas, cobrando da Fazenda Real as suas côngruas atrasadas”. Com o mesmo teor da documentação citada anteriormente, o referido vigário busca “[…] cobrar a sua côngrua dos anos 1720 a 721 que servio de parocho da Igreja Parochial de Nossa Senhora do Pillar das Congonhas Comarca do Rio das Velhas […]” (BIBLIOTECA NACIONAL, 1721-1725, grifo nosso).

Informação encontrada no Códice Costa Matoso, diz que:

Em o mês de dezembro de 1706 anos, cheguei a essas minas do Rio das Velhas […] e não havia mais que três freguesias em todo o termo desta Vila de Sabará: Roça Grande e Raposos e o mesmo Sabará. […]. Depois se repartiram a de Raposos [e] se fizeram três freguesias: Santo Antônio, Rio Acima; Rio das Pedras, Congonhas do Sabará; Santo Antônio da Mouraria do Arraial Velho. (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1999, p. 212).

Em trecho de inventário do ano de 1709, citado na obra Nova Lima: formação Histórica, a localidade é citada como araial (sic), pertencendo ainda, portanto, a Raposos: “Invento de bento pires – Anno do nascimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil sete sentos e nove aos quinze doas do mes de fevereiro do dito anno neste araial de nossa Senhora do pillar […].” (VILLELA, 1998, p. 254).

Já na Revista Trimestral de História e Geographia, do ano de 1844, cita-se que

Poucos menos annos tinham de existencia e categoria de Parochias os Arraiais de Congonhas, Rio das Pedras, Santo Antônio de Rio Acima, e Santo Antonio do Bom Retiro da Rossa Grande, com as povoações de Santa Rita, Santa Luzia, e Quinta do Sumidor […]. Pertenciam também á 2ª década do Sabará a Povoação do Curral de El Rei, e as da Piedade do Paraopeba do Bromado […]. (PONTES, 1844, p. 277).

Outras fontes comprovam que a criação da paróquia teria se dado antes de 1748, como na obra Arquidiocese de Mariana, onde se lê: “Foi visitada, em 1729, pelo Dr. Manuel Freire Batalha. Era, portanto, freguesia, embora de instituição episcopal.” (TRINDADE, 1953-1955, p. 68). A igreja consta, ainda, em listagem descrita no Códice Costa Matoso: Catálogo das igrejas paroquiais do bispado do Rio de Janeiro (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1999, p. 809-819), datada de cerca de 1744.

Portanto, mesmo não sendo possível localizar o decreto de criação da Paróquia, por meio da pesquisa realizada, podemos conjeturar o período aproximado em que tenha se dado. Esses trechos, juntamente com a documentação mencionada, dão a entender que as referidas freguesias possam ter recebido esse título em períodos próximos, possivelmente na segunda década do século XVIII. Segundo Teixeira (1942), ela teria se dado especificamente no ano de 1718, com a nomeação do referido Padre Manoel Martins, pois em documentação encontrada pelo autor, datada de 1717, Congonhas do Sabará ainda é referida como distrito.

Acredita-se, assim, que, como tantas outras à época[4], a Paróquia de Nossa Senhora do Pilar tenha sido criada pelo Bispado do Rio de Janeiro, não possuindo status, à princípio, de colativa, ou seja, custeada pela Coroa portuguesa. Essa condição foi atribuída pelo Rei, nas Minas, somente a partir de 1724, e, ainda assim, ficando restrita a poucas paróquias. A Matriz de Congonhas do Sabará receberia tal titulação apenas no ano de 1752, com a colação do Padre Jerônimo de Sá Vilhena.

 

Figura 01 – Antiga Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Fonte: http://historianovalima.no.comunidades.net/fotos-antigas-download-x, acesso em julho/2021.

Sua condição de Matriz ficaria abalada, entretanto, no ano de 1832, quando foi reduzida à filial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Raposos, por meio de Decreto da Regência, datado de 14 de julho. Devido, porém, ao grande número de protestos realizados, recebe de volta o título de paróquia, por meio da Lei nº 50, de 08 de abril de 1836, que diz em seu artigo 1º: “Ficam subsistindo as Freguesias de Congonhas do Sabará e de Raposos, e, anexando-se-lhes o território das Freguesias suprimidas de Santo Antônio do Rio Acima, e, do Rio das Pedras, servir-lhes-á de divisa o Rio das Velhas.” (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PROVINCIAL, 1836).

Quanto à edificação setecentista, encontrou-se documentação no Arquivo Público Mineiro, dos anos de 1773/1774, onde consta petição do padre Jerônimo de Sá Vilhena, então pároco na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, solicitando auxílio régio para construção da capela-mor, retábulo e sacristia. Segundo o documento,

A capela Mor da dita Matris e a Sacristia, estão na verdade ameassando ruina, e se celebra com indecencia o Sacrificio da Missa e guarda do Santissimo Sacramento […] despeza que se fará na reedificação da dita Matriz, menos da Talha do retabolo, q. por não averem naquele Destrito offes. proprios, não foi calculada […]. (ARQUIVO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTISTICO NACIONAL, 1773-1774).

E, ainda:

[…] ainda assim, com essa aflição recorreo o suplicante a Vossa Magestade no anno de sincoenta e trez, com Ardente zelo pelo Tribunal da Meza de Consciencia e Ordens, unidos todos para a ereção do novo Templo, havendo também remetido o risco […] ficando os Freguezes obrigados ao Corpo da Igreja […]. (ARQUIVO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTISTICO NACIONAL, 1773-1774).

A partir dessas informações, infere-se que a igreja se encontrava em mal estado quando foi solicitado auxílio no ano de 1753, petição novamente emitida em 1773 e somente respondida em 1784, com a devida aprovação.  Também a essa época, em 1778, foi produzida documentação, guardada na Coleção Casa dos Contos, em que se fala sobre a “Fatura da capela-mor, retábulo e sacristia da Igreja Paroquial da Freguezia de N. S. do Pilar das Congonhas do Sabará do bispado de Mariana”. Nela se menciona sobre editais para a contratação de candidatos ao trabalho e sobre vistoria feita pelos oficiais, possivelmente enviados pelo governo da capitania, a fim de que se viabilizasse a liberação da verba solicitada. Hoje, na porta principal da igreja, encontra-se gravado o ano de 1766, referindo-se, possivelmente, a esse período de obras.

Em 15 de julho de 1822, a igreja recebe a visita pastoral do bispo Dom Frei José da Santíssima Trindade. Seu relato descreve que a freguesia possuía “[…] apenas uma capela curada com orago de São Sebastião, duas léguas e meia distante da matriz […]. No arraial da matriz, que é agradável o seu local, acha-se a capela do Senhor Bom Jesus do Bonfim e a de Nossa Senhora do Rosário dos pretos, pobres, porém com decência.” (TRINDADE; OLIVEIRA, 1998, p. 119).

E ainda: “A igreja matriz, que está colocada em pequena altura no fim de um largo, faz um bom prospecto, como fica dito, mas não tinha atiro. ” (TRINDADE; OLIVEIRA, 1998, p. 119) Contava, então, com o altar-mor, “[…] com banqueta de prata e, fora este, […] mais seis altares, todos ornados com limpeza e decência.” (TRINDADE; OLIVEIRA, 1998, p. 119). Conforme dito anteriormente, Congonhas do Sabará sofreu as consequências da decadência da mineração, entretanto, sua Matriz, em 1822, mesmo sem luxos, apresentava-se com a decência necessária.

Uma real melhoria das condições locais somente foi sentida posteriormente às novas explorações de ouro pela mineradora St. John d’El Rey Mining Company Limited, sendo que, nos relatos de Richard Burton, em sua visita à localidade na década de 1860, já se nota que se trata de um local próspero. Quanto à igreja, ele relata que:

A matriz, restaurada pelo falecido Fr. Francisco de Coriolano, tem uma fachada de três janelas e um frontão coroado por uma cruz; as torres apresentam telhados suíços, virados nos cantos, à moda chinesa de Macau. […] Junto à porta gradeada, há um anteparo curiosamente pintado com as cenas da Paixão, além dos quadros representando as quatorze passagens, pendurados nas paredes. (TRINDADE; OLIVEIRA, 1998, p. 243)

Em fins do século XIX, entretanto, decidiu-se pela demolição dessa edificação e construção de uma mais moderna, possivelmente sob influência da construção da nova capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, tão próxima a Congonhas do Sabará. Não se conseguiu maiores informações sobre as referidas obras, mas, por meio das pesquisas realizadas, infere-se que, como acontecia com tantas outras igrejas “modernizadas”, a demolição da antiga edificação e a construção da nova teria se dado progressivamente, objetivando que não se interrompessem os ritos ali realizados e a frequência de seus fiéis. Assim, foi criada comissão de obras comandada pelo Coronel Augusto de Magalhães, com o auxílio da confraria do Santíssimo Sacramento e do então pároco João de Deus Macário.

A fase inicial das obras teria perdurado até em torno de 1912, data que também se encontra na porta principal da igreja, ao lado do já mencionado ano de 1766. Isso porque, nesse período, foram doados pelo Sr. George Chalmers, diretor da Mina de Morro Velho, as peças atribuídas ao Mestre Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, provenientes da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Vínculo do Jaguara[5], necessitando, assim, que a igreja passasse por novas obras de adequação aos retábulos adquiridos, por terem estes grandes dimensões. Correspondência entre Sr. Chalmers e o Sr. Augusto de Magalhães, confirma que, no ano de 1911, parte da talha doada já havia sido instalada.

Em abril de 1923, o então vigário Joaquim Coelho relata no Livro de Tombo da Matriz que “A Igreja tem uma parte nova que é o Corpo e outra antiga que é a Capella-mór”, sendo essa parte ainda da antiga edificação do século XVIII. No ano de 1926 as obras parecem ter sido finalmente encerradas.

Em fins da década de 1940, o então pároco José Campos Taitson solicita ao Iphan auxílio para reorganização dos retábulos da Jaguara no interior da Matriz. À época, ainda existiam, além dos quatro altares de Aleijadinho, mais quatro outros, dois deles remanescentes da antiga edificação e dois modernos. A reorganização das peças levou a mais uma reforma na igreja, finalizada com grande reinauguração no ano de 1956. De um modo geral, salvo algumas pequenas alterações, sua disposição interna é a mesma desde então.

Figura 02 – Praça Bernardino de Lima com a Matriz ao fundo (1943). Foto de Carlos Victor Gomes. Fonte: http://www.comissaodaverdade.mg.gov.br/handle/123456789/990, acesso em julho/2021.

Arquitetura:

A “nova igreja” finalizada no início do século XX, trouxe consigo os ideais da arquitetura eclética em voga à época, e foi implantada exatamente do mesmo modo que sua antecessora, com fachada frontal voltada para a atual Praça Bernardino de Lima, e circundada pelas vias laterais a esta. O adro, estreito e delimitado por muro com gradil, tem acesso principal por meio de escadaria.

A edificação apresenta partido tradicional em cruz latina, acrescida das torres e corredores laterais na nave e capela-mor, sendo esta última circundada também na parte posterior. O volume principal e mais alto marca a nave, transepto e capela-mor. Os demais formam corredores laterais na nave, capela do Sagrado Coração de Jesus à esquerda da capela-mor (lado do Evangelho), e sacristia à direita (lado da Epístola) e fundos da capela-mor. As torres estão posicionadas nas extremidades da fachada frontal (Sul), ligeiramente recuadas, o que confere uma tímida movimentação a ela. A cobertura se desenvolve acompanhando as volumetrias, com vedação em telhas cerâmicas do tipo francesas, procedentes de Marselha (Guichard Carvin & Cie. – Marseille, S Andre), na França, e da Fazenda do Vianna, em Rio Acima/MG. Estas últimas, possivelmente, para reposição daquelas marselhas perdidas/quebradas.

Figura 03 – Vista frontal da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Foto: Hebert Gerson Soares Júnior/Acervo do Memorial da Arquidiocese – Inventário do Patrimônio Cultural, 2017.

O frontispício é composto basicamente por três seções, separadas por cimalhas escalonadas. No térreo estão os ressaltos do embasamento e o acesso principal, através de três portas de madeira, molduradas e almofadadas, com verga em arco pleno. A porta central possui maiores dimensões que as laterais, e nela estão fixadas as duas placas com inscrições “1766” e “1912”, conforme mencionado anteriormente. Nas extremidades, as torres apresentam janelas retangulares, com molduras e vedação em vidro e gradil metálico. O nível do coro, é marcado pelas janelas de ferro e vidro colorido, alinhadas às portas do nível inferior, com verga em arco e enquadramento em molduras de argamassa. A central também possui maiores dimensões que as laterais. Sob cada uma das janelas, as alvenarias simulam guarda-corpo. Nesses dois primeiros níveis, entreposto aos vãos surgem pilastras escalonadas, onde também se sobrepõem as cimalhas e faixas entre os pavimentos, e os capitéis compósitos. Nas extremidades, repetem as duas janelas retangulares, enquadramentos com faixa e sobreverga emoldurada, vedação em vidro e gradil metálico, porém com disposição vertical. Arrematando toda a composição, cimalha dupla, com detalhe denticulado sobre as colunas. O frontão recortado, recebe nicho central, ladeado por pilaretes terminados em pináculos, e volutas nas extremidades junto às torres. A composição é arrematada por pequeno elemento triangular encimado por cruz. Os campanários são esbeltos e alongados, com parte inferior marcada pelos relógios moldurados, faixas escalonadas sobre as quais se apoiam as sineiras. O relógio da torre Oeste possui maquinário de acionamento na parte interna da torre, enquanto aquele da Leste acontece apenas como elemento de composição simétrica. No coroamento, cobertura em formato campanular, com estrutura de madeira e vedação em folhas de flandres, arrematada por grimpa metálica.

Figura 04 – Vista interna a partir do coro. Foto: Hebert Gerson Soares Júnior/Acervo do Memorial da Arquidiocese – Inventário do Patrimônio Cultural, 2017.

Ao entrar na igreja, chega-se diretamente ao átrio, localizado sob o coro, e ladeado pelas torres, cujos espaços internos abrigam a capela com conjunto escultórico do Calvário (lado do Evangelho), e escada helicoidal de madeira, para acesso aos pavimentos superiores (lado da Epístola). Separando o átrio e a nave, dois pilares dividem o vão e delimitam o espaço do pára-vento, em madeira entalhada e vazada.

A nave apresenta planta retangular, com arcadas laterais e clerestório[6], forro de estuque em módulos de abobadas transversais e, ao fundo, arco abatido em que está fixada a tarja do arco-cruzeiro. Assim como na fachada frontal, as janelas são metálicas com vedação em vidros lisos coloridos. Os corredores laterais são marcados por módulos com pilastras em ressalto, rosáceas, portas de acesso lateral, e forro de estuque em abóbadas de arestas.

O transepto é marcado pela balaustrada sinuosa da mesa de comunhão e os púlpitos, que se apoiam nas colunas laterais. Nas laterais, os braços formam duas capelas, com fundo facetado, onde se inserem as janelas em lancetas e os altares de madeira entalhada.

A capela-mor, elevada a partir do transepto, abriga conjunto formado pela mesa do altar, ambão/mesa da Palavra, cadeiras dos celebrantes, credências, lâmpada do Santíssimo e o retábulo-mor. Nas laterais do presbitério, dois vãos em arco fazem a comunicação com os corredores laterais, sendo os primeiros guarnecidos de balaustrada de madeira entalhada. O forro é feito em estuque, com formato de gamela. Os corredores também são elevados em relação ao piso do restante da igreja, possuem portas de acesso externo. As janelas são semicirculares, em esquadria de metal, com vedação em vidro. O corredor do lado do Evangelho possui cancelo em madeira torneada (jacarandá), que marca o arco de entrada da Capela do Sagrado Coração de Jesus (ou do Santíssimo Sacramento). No lado da Epístola, o corredor forma antessala para acesso à sacristia, disposta na porção Norte da edificação, em formato chanfrado, em volume mais baixo que o corpo principal.

No segundo nível, a igreja apresenta apenas o coro em formato sinuoso, com piso de tabuado corrido, e protegido por imponente balaustrada em madeira entalhada. No interior das torres as escadas conduzem aos campanários.

De modo geral, apesar das alternâncias das edificações e até mesmo as alterações posteriores à construção da atual igreja, há que considerar sua importância devocional, histórica e cultural para o município de Nova Lima. A devoção secular à Virgem do Pilar, o acervo de Aleijadinho advindo da Jaguara e o contexto de reconstrução da Matriz fazem deste um dos mais expressivos patrimônios da cidade. A presença inglesa também parece ter influenciado bastante na execução da obra, haja vista a precisão métrica de simetria observada nos levantamentos arquitetônicos durante o inventário.

Além da citada talha remanescente do Vínculo do Jaguara, protegida por tombamento federal (IPHAN) de 1950, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar guarda, ainda, belíssima imagem da padroeira, também atribuída a Antônio Francisco Lisboa, e conjunto de imaginária de sua antiga matriz, executadas em madeira, além de peças em gesso do início do século XX. A edificação é tombada a nível municipal, bem como as imagens de Nossa Senhora do Pilar e de Nossa Senhora da Conceição.

Referências Bibliográficas e Fontes

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ALMANAK Laemmert: Almanak Administrativo, Mercantil, e Industrial do Rio de Janeiro, n. 68, 1911. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=313394&pasta=ano%20191&pesq=%22nova%20de%20 lima%22>. Acesso em: 12 dez. 2019.

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1711. 

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ARQUIVO ARQUIDIOCESANO DE BELO HORIZONTE. Fundo NSP – 175. Livros de registros de provisões do clero. Estante 18, prateleira 3, sala 12. 1922 – 1960. 7 v.

ARQUIVO ARQUIDIOCESANO DE BELO HORIZONTE. Fundo NSP – 175. Livro de despachos gerais da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte.  Estante 18, prateleira 3, sala 12, 1922-1994. 10 v.

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[1] Possui graduação em História pela PUC-Minas (2007), pós-graduação em História da Arte pela Universidade Estácio de Sá e atualmente é aluna do mestrado do Programa de Pós-graduação em Artes, da Escola de Belas-Artes, da UFMG. Integra o corpo técnico de colaboradores do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte/ Inventário do Patrimônio Cultural.

[2] Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Minas (2014), e pós-graduação em Patologia, Terapia e Manutenção de Edificações (2018) pela mesma universidade. Integra o corpo técnico de colaboradores do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte/Inventário do Patrimônio Cultural.

[3] Antiga denominação da região de Nova Lima.

[4] A obra Ephemerides Mineiras apresenta ordem régia, onde consta que “[…] em 1712, cerca de vinte annos apenas depois de iniciado o povoamento de Minas-Geraes, já excedião de vinte as egrejas ou parochias existentes […]” (VEIGA, 1897, v. 4, p.174).

[5] Foram encontrados registros documentais da doação dos retábulos, a tribuna do coro e os púlpitos.

[6] O termo clerestório refere-se ao trecho de janelas altas que iluminam a nave, cujo uso remonta às basílicas romanas.



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