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Guarda a Palavra

Os frutos da liturgia dominical
Reflexão para viver na semana o que celebramos no domingo

Pe. Danilo César
 


Ao sair de casa, talvez você tenha se deparado com um idoso assentado na calçada pedindo esmolas, com uma criança perambulando entre os carros no sinal, ou ainda com um cidadão sendo desrespeitado só porque pensa diferente. Situações que para muitos de nós já não fazem diferença. Mas o que as leituras bíblicas do ultimo domingo nos dizem a respeito? Sobre o que refletimos? Você se lembra? Tivemos a semana inteira para pensar e agir. Que mudanças isso trouxe para a sua vida?

 
No sexto Domingo da Páscoa, que celebramos no dia 1° de Maio,  demos mais um passo no aprofundamento sobre a ressurreição do Senhor e a nossa ressurreição com Ele. Nos textos que ouvimos, dois temas sobressaem para nos acercar do mistério da vida nova: Deus faz em nós sua morada e nos convida a guardar a sua Palavra. Os dois temas se relacionam a partir de uma condicional que pode ser entendida também como consequência do amor a Cristo: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”, (Jo 14,23). Amar a Cristo é guardar sua Palavra e guardar sua Palavra resulta em ter a Deus como nosso “doce Hóspede”, tal como diziam os antigos místicos.

O tema da morada de Deus conhece no Antigo Testamento variadas evoluções. Sobressai o templo de Jerusalém como lugar dessa morada. No coração da sua arquitetura estava o “Santo dos santos”, um santuário onde se depositavam as “tábuas da lei”, dentro da arca da Aliança. Para os cristãos, contudo, é marcante a evolução que o evangelista João assinala no episódio da expulsão dos vendilhões do templo de Jerusalém: “Destruí este templo e em três dias o reerguerei” (Jo 2,19). Jesus declara seu corpo, morto e ressuscitado, segundo o próprio evangelista, como o templo de Deus (cf. Jo 2,21). Ele, pela sua morte e ressurreição, é o fiel guardador da vontade do Pai, da sua Palavra. Pelo Batismo, somos feitos membros desse corpo morto e ressuscitado de Jesus, o soerguido Templo novo de Deus. O Batismo é o sacramento dos que aceitaram viver segundo a Palavra de Jesus, aceitando com ele, voluntariamente, experimentar a morte para o pecado e o renascer para uma vida nova. O Batismo nos insere, como brotos, na videira que é Cristo, operando um enxerto. Saímos do tronco velho para o tronco novo que é Cristo. Agora, somos um com ele, e por isso mesmo, templos de Deus. Dessa forma Deus preferiu morar: não entre paredes de pedras ou tijolos, mas num edifício vivo, feito de pedras vivas: Cristo e os cristãos, o “Cristo inteiro” (Christus totuus), como diziam os antigos. No livro do Apocalipse, (segunda leitura), a Jerusalém que desce do alto não tem templo…

Guardar a Palavra de Jesus, que é do Pai (cf. Jo 14,24), significa fazer a sua vontade e rejeitar o pecado e a morte que um dia o primeiro casal introduziu no mundo. É, pois, viver a vida nova do Novo Adão, Jesus, que faz “com prazer”, a vontade de Deus (cf. Sl 40,9) e que, por isso, ressuscitou, pois não viveu segundo a desobediência, o pecado e a morte, mas segundo a escuta, a obediência e a vida. Por isso cantamos durante a comunhão, recebendo os sinais da entrega de Cristo: “Ó morte, onde está tua vitória, Cristo ressurgiu, honra e glória”.

 

 

Quatro passos para vivenciar o Evangelho
 

 
1.    Ler as leituras do domingo que passou. Se possível, reler uma ou duas vezes. Os textos estão disponíveis na Liturgia diária, ou no nosso site.

2.    Fazer suas próprias relações entre as leituras: Aclamação e evangelho; evangelho e primeira leitura; primeira leitura e salmo; todo o conjunto com a segunda leitura. Em seguida, leia o comentário que disponibilizamos na sequência.

3.    Faça da palavra a sua oração. Escolha um lugar silencioso para rezar. Cante o refrão que propomos ao final do comentário, faça seus pedidos inspirados pelas leituras desse exercício e conclua com a oração que oferecemos ao final.

4.    Durante a semana retome as leituras, o comentário, as orações e observe como o Espírito de Deus vai transformando o seu viver.
 

 

 

Caminhando com o Senhor:

Como apontam as orações do dia e da comunhão, é preciso viver segundo o mistério que celebramos. Coisas muito importantes para nos ajudar a viver a vida nova em Cristo podem se deduzir:

Ser morada de Deus é contar com a sua permanência em nossas vidas, nos amparando nos momentos desafiantes e tristes, quando fazer a vontade e guardar Palavra dele nos parece mais difícil. Mas também contar com sua presença para nos fortalecer nos momentos bons, alegres, de superação e vitória, a fim de não cedermos nessas horas e para que sintamos esses momentos como parte dessa vida nova, acenos da felicidade plena que almejamos em Cristo e na sua ressurreição. Ser morada de Deus também deve gerar em nós uma confiança renovada: “não se perturbe, nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27b). A presença de Deus em nós, aumenta a nossa autoconfiança, a nossa força interior, a nossa coragem de viver;

Somos morada de Deus, mas o irmão também o é. Reconhecer a mim e ao outro como morada de Deus implica em gerar novas relações de respeito e de reverência para com o mistério do outro em nossas vidas. Deus fez de mim e do meu próximo pedras vivas do mesmo Templo que é Cristo. O Espírito que nos ergueu para a vida nova, os ergueu também. O Espírito que nos faz experimentar com Cristo os momentos de cruz e de capacidade de entrega, e autodoação, os capacita também. Estamos no mesmo caminho! Sejamos, portanto, mais simpáticos aos irmãos que vivem conosco o desafio do evangelho. Sejamos mais respeitosos, sejamos mais compreensivos…
 

Reconhecer o irmão como morada de Deus, leva-nos a constatar tristemente que a dignidade que Deus lhes dá muitas vezes não é reconhecida, ou garantida nas situações de pecado: fome, violência, ultrajes, fraquezas, vícios, desemprego, direitos desrespeitados, etc. Devemos lutar para evitar isso. Gerar esforços e iniciativas, ainda que pequenas e tímidas para devolver um pouco de dignidade a quem dela foi privado;

 


Somos morada de Deus, mas o irmão também

 

 

 

Guardar a Palavra e viver com Deus em nós, significa reconhecer a comunidade de fé como esse novo Templo. Com todas as dificuldades e limites, nossas comunidades são Templo de Deus e por escolha dele. Não estamos nos referindo ao edifício onde nos reunimos para celebrar, mas à própria comunidade-Igreja reunida, os irmãos e irmãs com os quais somos presenteados para viver o evangelho, aqueles que nos ajudam e aqueles que nos desafiam. Reconhecer o Espírito em nós deve gerar uma confiança tal de poder até, como os apóstolos, falar em nome de Deus quando está em questão o bem de todos os que se acercam do Reino: “nós e o Espírito Santo decidimos…” (At 15,28), disseram eles para acolher os pagãos.

Guardar a Palavra é viver a vida nova de ressuscitados em Cristo. Jesus, por sua fidelidade à vontade do Pai, à Palavra de Deus, ressuscitou dos mortos, porque nele não dominavam o pecado e a morte. Nós fazemos, infelizmente a experiência do pecado e, portanto, da morte. Temos que nos exercitar para deixar tudo o que é desnecessário para nós e para os outros (cf. 1ª leitura): abster-nos dos sinais da idolatria, e de tudo o que pode gerar divisões internas. Mas precisamos discernir o que evitar hoje, como discerniram os primeiros cristãos. Somos chamados a promover a nossa entrada e dos demais no Reino que tem doze portas abertas, isto é, com a totalidade e a universalidade que este número significa. Porque o único critério será – GUARDAR A PALAVRA!

Guardando a Palavra de Deus e fazendo a sua vontade, reencontramos o jardim que um dia Adão e Eva perderam, ao optar pela desobediência e a morte. Em outras palavras, ressuscitamos com Aquele que guardou a Palavra-vontade do Pai e que também por isso ressuscitou dos mortos.

 

Refrão:

Guarda a Palavra, guarda no coração!
Que ela entre em tua alma e penetre os sentimentos.
Busca noite e dia, a luz do amor de Deus!
Se guardares a Palavra, ela te guardará!

 

Oração:

Ponde, Senhor, vossa Palavra em meus ouvidos e purificai minha mente e meu coração.
Fazei que, ouvindo a vossa Palavra e cumprindo a vossa vontade, eu me afaste do pecado e da
morte e me aproxime da vida nova que Jesus nos
alcançou com a sua ressurreição.
Amém!

 



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