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Flor de quaresmeira

 

 

Quaresma, tempo forte que se aproxima com uma convocação: “caminhemos para as fontes”! Tantos descaminhos e trilhas que nos afastaram do rumo do Evangelho… Hora de recolocar as rodas nos trilhos, calçar o número certo dos calçados, lavar a pilha de roupa suja, desempoeirar as prateleiras do coração, agradecer ao mal com um decisivo não, hastear a bandeira do amor, jogar as gavetas no chão.

Só o essencial. Pouca coisa precisa quem desejar voltar: acolher a graça da conversão, acender o incenso da oração, a o farol da partilha, a lanterna interior do jejum. Deixar que essa chuva nos lave das máscaras e adereços. Olhar bem no fundo das nossas gavetas: o que ficou escondido e o que ficou esquecido? Revelar para si o oculto e para os outros o olvidado: hora de reconhecer o pecado e proclamar a graça.

Olhar para os lados: tantas cruzes ao longo do caminho! Tantas vítimas do egoísmo, da indiferença, do ódio. Em cada face um vero ícone do solidário Filho de Deus. Descer da cruz os injustiçados, compadecer-nos de sua condição, derramar azeite em suas feridas, conduzi-los à hospedaria do amor. Comprometer-nos até a volta, voltar a eles e saldar as nossas dívidas com os pobres!

 

Empreender caminho com o Cristo pelo deserto, dobrar-se nele à guia do Espírito. Subir o monte para contemplar sua glória, escutar sua Palavra

Jejuar de cara limpa com o perfume da vitória. Os pecados foram vencidos pela cruz do Senhor, não pelos nossos méritos. Buscar a piedade verdadeira que oculta aos outros a busca de santidade. Desejar e fazer em segredo o bem, sem acusações ou presunções. Roupagem difícil de tirar: arrogância espiritual – que mal! Escutar, obedecer, calar mais que falar, agir, não ostentar! Pôr os pés na terra: nossa origem, nossa miséria. Assumir a condição criatural: deixar Deus se regozijar com aquilo que criou.

Empreender caminho com o Cristo pelo deserto, dobrar-se nele à guia do Espírito. Subir o monte para contemplar sua glória, escutar sua Palavra! Pedir-lhe da água que sacia de verdade a sede que nos aplaca. Sentar à beira do poço como seus amantes e discípulos: é nosso esposo! Abrir os olhos: é nosso Messias. Deixar que suas lágrimas chorem nossa morte e sua voz nos arranque das nossas sepulturas.

Confessar a fé junto aos irmãos ao redor da mesa: Deus nos salva! Bálsamo que escorre sobre os anos abraâmicos da humanidade. Entoar suas maravilhas em suave alegria na ação de graças dos redimidos. Caminhar sob a guia do Bom Pastor e ansiar pela mesa farta das suas promessas, pelas pradarias da liberdade, pelas águas do descanso: meta pascal dos escolhidos. Incluir a flor da nossa quaresmeira no arranjo floral dos irmãos e esperar que, ao seu tempo, os botões venham se abrir, colorindo novamente os tons verdadeiros da filiação divina. Adentrar a noite com lâmpadas nas mãos. Esperar no jardim a suave voz do Jardineiro para que, de novo, conosco caminhe. Não temamos ao escutar seus passos, nem nos envergonhemos perante seu olhar amoroso.

 

Pe. Danilo César dos Santos Lima
Liturgista



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