“Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao amor”. Essas palavras, escritas por Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, em setembro de 1896, inspiraram o título da Exortação Apostólica do Papa Francisco dedicada à santa de Lisieux: “C’est la confiance” (Só a confiança), publicada no domingo, dia 15 de outubro, no aniversário de 150 anos do nascimento da santa, em Alençon, na França.
Só a confiança” palavras que sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o fato de Santa Teresinha do Menino Jesus ter sido declarada Doutora da Igreja, explica o Pontífice.
Uma mensagem que faz parte do tesouro espiritual da Igreja
Papa Francisco explica que a escolha de publicar a Exortação no domingo, 15 de outubro, e não em uma data ligada à vida da santa, justifica-se pelo fato de que “a mensagem de Santa Teresinha possa ser assumida como parte do tesouro espiritual da Igreja. A data da publicação coincide com a da memória de Santa Teresa de Ávila para indicar Santa Teresinha como “fruto maduro” da espiritualidade da grande santa espanhola.
Os reconhecimentos dos Pontífices
O Santo Padre reconstitui as etapas do reconhecimento do extraordinário valor do testemunho espiritual de Santa Teresinha por meio das ações dos Pontífices: começando com o Papa Leão XIII, que permitiu que ela entrasse no convento aos 15 anos; passando por Pio XI, que a proclamou santa em 1925 e, em 1927, padroeira das missões; até São João Paulo II, que a declarou Doutora da Igreja, em 1997. “Por fim”, lembra Papa Francisco, “tive eu a alegria de canonizar os seus pais Luís e Célia durante o Sínodo da família e, recentemente, dediquei-lhe uma Catequese”.
O amor por Jesus de uma alma missionária
Em sua cela, a Santa de Lisieux havia escrito: “Jesus é o meu único amor” e, analisando sua experiência espiritual, o Papa observa que o encontro com Jesus “a chamava para a missão”, tanto que não concebia “a sua consagração a Deus sem a busca do bem dos irmãos”.
Ela havia entrado no Carmelo, de fato, “para salvar as almas”. Teresinha expressou assim a sua alma missionária: “Estou certa de que quanto mais o fogo do amor abrasar o meu coração, tanto mais (…) as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacito de ferro inútil, se me afastasse do braseiro divino), correrão, ligeiras, ao odor dos perfumes do seu Bem-amado, pois uma alma abrasada de amor não pode ficar inativa”.
O caminhito da confiança e do amor
Papa Francisco vai ao coração da espiritualidade de Teresa, aquele “pequeno caminho” também conhecido como o caminho da infância espiritual. Santa Teresa do Menino Jesus escreveu: “O ascensor que me há de elevar até ao céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena”.
O que conta para ela é a ação de Deus, a graça, não os méritos pessoais, porque é o Senhor que santifica. O Papa escreve: “Por isso, a atitude mais adequada é depositar a confiança do coração fora de nós mesmos, ou seja, na infinita misericórdia de um Deus que ama sem limites e que deu tudo na Cruz de Jesus.
O abandono nas mãos de um Pai
O Papa explica que em nossa existência, onde muitas vezes nos dominam os medos, o desejo de seguranças humanas, a necessidade de ter tudo sob controle”, a confiança e, portanto, o abandono em Deus que Teresa promove “liberta-nos de cálculos obsessivos, da preocupação constante com o futuro, dos medos que tiram a paz. (…) Se estamos nas mãos de um Pai que nos ama sem limites”, continua ela, isso será verdade: “Venha o que vier havemos de o ultrapassar e, de uma forma ou de outra, cumprir-se-á na nossa vida o seu projeto de amor e de plenitude”.
A “prova contra a fé” e a confiança na misericórdia
A vida espiritual da jovem carmelita não foi isenta de provações e lutas, particularmente no último período de sua vida, ela experimentou a grande “provação contra a fé”. Naquela época, o ateísmo moderno estava experimentando uma grande expansão e ela “se sente irmã dos ateus”, intercede e oferece a vida por eles, renovando o seu ato de fé. Ela acredita na infinita misericórdia de Deus e na vitória definitiva de Jesus sobre o mal.
Tudo em Deus é amor, até mesmo a Justiça. “Esta é uma das descobertas mais importantes de Teresinha”, diz o Papa, “um dos maiores contributos que prestou a todo o Povo de Deus. De modo extraordinário, penetrou nas profundezas da misericórdia divina e, de lá, retirou a luz da sua ilimitada esperança”.
A maior caridade na maior simplicidade
Santa Teresa quer “alegrar” o Senhor, quer corresponder ao amor de Jesus. “Tem a certeza de que Jesus a amou e conheceu pessoalmente na sua Paixão”, escreve o Papa Francisco. E sobre ela, continua: “Vive a caridade na pequenez, nas coisas mais simples da existência de cada dia, e o faz em companhia da Virgem Maria, aprendendo d’Ela que amar é tudo dar, e dar-se a si mesmo”.
No Coração da Igreja, minha Mãe, serei o Amor
Conforme a Exortação, de Santa Teresa de Ávila, Teresinha herdou “um grande amor pela Igreja, chegando a atingir as profundezas deste mistério”. Ela escreve em História de Uma Alma: “compreendi que a Igreja tinha um coração e que esse coração estava inflamado de amor. Entendi que somente o amor fazia os membros da Igreja agirem”. E então: “Sim, encontrei meu lugar na Igreja (…) No Coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor!”. O Papa Francisco comenta: “Não é o coração de uma Igreja triunfalista, mas o coração de uma Igreja amorosa, humilde e misericordiosa”. Ele acrescenta: “Tal descoberta do coração da Igreja é uma grande luz também para nós hoje, a fim de não nos escandalizarmos por causa das limitações e fraquezas da instituição eclesiástica, marcada por obscuridades e pecados, e entrarmos no seu coração ardente de amor, que se incendiou no Pentecostes graças ao dom do Espírito Santo”.
O dom total aos outros
As provações interiores vividas por Santa Teresinha, que às vezes a levaram ao ponto de se perguntar “se haveria céu”, levaram a santa a “passar de um fervoroso desejo do céu para um constante e ardente desejo do bem de todos”, e à decisão de continuar sua missão mesmo após a morte. “Desta forma”, lemos na Exortação, “chegava à última síntese pessoal do Evangelho, que partia da plena confiança para culminar no dom total aos outros”. O Papa Francisco afirma que “é a confiança que nos conduz ao amor e assim nos liberta do temor; é a confiança que nos ajuda a desviar o olhar de nós mesmos; é a confiança que nos permite colocar nas mãos de Deus aquilo que só Ele pode fazer. Isto deixa-nos uma imensa quantidade de amor e de energias disponíveis para procurar o bem dos irmãos”.
No final, conta só o amor
No último capítulo, o Pontífice explica que esta Exortação Apostólica lhe permite recordar que “o anúncio se concentra no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. Em última análise, conta só o amor”, escreve o Papa.
Para o Papa Francisco, “a contribuição que Teresinha nos oferece como santa e como Doutora da Igreja é levar-nos ao centro àquilo que é essencial”. O Papa se dirige aos teólogos e aos estudiosos da espiritualidade e diz: “Temos ainda necessidade de acolher esta intuição genial de Teresinha e tirar as devidas consequências teóricas e práticas, doutrinais e pastorais, pessoais e comunitárias. São necessárias audácia e liberdade interior para o poder fazer”.
A atualidade do “caminhito”
Aproximando-se da conclusão, o Papa recorda os principais aspectos do seu “caminhito” e sua atualidade. Em uma época marcada pelo fechamento nos próprios interesses, pelo individualismo e pela obsessão do poder, ela nos mostra a beleza de fazer da vida um dom, indica o valor da simplicidade e da pequenez e o primado absoluto do amor “superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho”. A Exortação se encerra com uma breve oração na qual o Papa invoca:
“Amada Santa Teresinha,
Ajudai-nos a ter sempre confiança,
Como fizestes vós,
No grande amor que Deus tem por nós,
Para podermos imitar cada dia
O vosso caminhito de santidade”.