“A Igreja vive da Eucaristia”. Estas palavras se tornaram o ponto de partida para o ensino de São João Paulo II em sua carta encíclica sobre a Eucaristia, escrita em 2003. Ele nos apresenta a Eucaristia como fonte de vida da Igreja e fonte de nossa vida de fé. Inspirados por essa solene afirmação, reconhecemos a Eucaristia como sacramento-fonte que alimenta a comunhão, a fraternidade e o serviço.
Jesus Cristo é o “pão de Deus que desce dos céus e dá vida ao mundo” (João 6, 33). Quem d’Ele se alimenta permanece unido a Ele. Daí podermos falar em comunhão, pois ao recebermos o corpo e o sangue do Senhor, estabelecemos profundo vínculo de vida e de interação com Ele. O que Jesus Cristo é alimenta e sustenta em nós o que somos chamados a ser: filhas e filhos amados do Pai, irmãs e irmãos na grande fraternidade do Reino. Na recepção da Eucaristia podemos experimentar a seiva divina que nos vem pela presença real de Cristo e nos revitaliza para a caminhada cotidiana e construção da história.
Toda vez que recebermos a Eucaristia deixemos ecoar em nosso coração o apelo da fraternidade e o desafio do serviço |
Essa comunhão com Jesus Eucarístico há de transbordar-se em crescentes ondas de fraternidade. Aquele que se identifica com Jesus Cristo, que adere ao seu Evangelho e o recebe eucaristicamente descobre que o caminho da vida eterna passa pelo coração e pela história do outro. Não há vida evangélica se se exclui o irmão. Dito de outro modo, o encontro com Jesus Cristo inclui, necessariamente, a presença e o cuidado com o irmão. No “amai-vos uns aos outros” (João 13,34) está inscrita a nova lei, a identidade do povo cristão: a fraternidade.
Comunhão e fraternidade serão reconhecidas como autênticas expressões da adesão a Jesus Cristo enquanto se desdobrarem no serviço a Deus e aos irmãos. O verdadeiro serviço a Deus exige o serviço aos irmãos. E toda forma de serviço aos irmãos é, mesmo sem traços religiosos, serviço a Deus: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mateus 25,40). Nesse sentido, toda forma de serviço aos irmãos contém um teor eucarístico, isto é, de comunhão com Jesus Cristo e com o seu Evangelho. E para aqueles que não creem, servir seus irmãos é um caminho para o encontro com Aquele que se fez “pão para quem tem fome”. A sensibilidade para o encontro com o pobre é uma porta aberta para o encontro com Jesus Cristo que nos pobres se faz presente.
Portanto, não deixemos dissociar em nossa vida cristã os laços profundos entre comunhão, fraternidade e serviço. Toda vez que recebermos a Eucaristia deixemos ecoar em nosso coração o apelo da fraternidade e o desafio do serviço. Não foi por isso que São João, o Evangelista, uniu o mistério da ceia eucarística com o lava-pés (João 13), sinal eloquente da diaconia que torna autêntico o encontro com o Cristo Eucarístico?
João Justino de Medeiros Silva
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte