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Eucaristia: a mística bênção

Encontramos no Catecismo da Igreja Católica (CIC) a seguinte afirmação: “A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja exprime seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que ele realizou por meio da criação, da redenção e da santificação (CIC, 1360)”.  Em seu comentário sobre o livro do Gênesis, São Cirilo de Alexandria (375-444) estabelece um paralelo entre Adão e Jesus: o primeiro contagiou toda a humanidade com a força de sua desobediência, enquanto Jesus, o novo Adão, tornou-nos um só corpo com ele, na “mística bênção” – a Eucaristia.  

Na Eucaristia vivemos momentos especiais de bênçãos. No ofertório, a humanidade bendiz, abençoa, agradece a Deus pelos dons do pão e do vinho.

Na Eucaristia vivemos momentos especiais de bênçãos. No ofertório, por meio do presidente da celebração, a humanidade bendiz, abençoa e agradece a Deus pelos dons do pão e do vinho, símbolos de todos os alimentos, frutos da terra, do nosso trabalho e da bondade de Deus: “Bendito sejais, Senhor Deus do Universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano que agora vos apresentamos e para nós se vai tornar pão da vida”.

Ocorre, entretanto, em nossas celebrações eucarísticas algo a se lamentar: o canto das oferendas abafa a aclamação pela qual abençoamos Deus: “Bendito seja Deus para sempre”.  Deus abençoa o homem com os dons. A humanidade responde de forma agradecida. No final da missa, nós que a iniciamos com o sinal da cruz, recebemos do presidente a bênção trinitária de despedida. No Missal Romano há 20 formulários de bênçãos solenes para os diversos tempos litúrgicos e 26 orações de bênção sobre o povo. Não podemos nos esquecer do rito para a aspersão dominical da água benta, com sua longa e bela oração de bênção sobre a água.

 

O povo quer se aproximar do padre. O rosário a ser abençoado pode ser a
oportunidade
de se achegar a ele e receber uma atenção especial.

 

 

 

A Eucaristia é riquíssima fonte de bênçãos.  A introdução ao Ritual de Bênçãos publicado em 1984 afirma: “A Igreja recebe no mistério eucarístico a graça e a virtude pelas quais se torna, ela mesma, uma bênção no mundo”.  O que justifica, então, que os fiéis, logo após a Eucaristia, procurem o padre para outras bênçãos? Termina-se de celebrar a Eucaristia, sacramento fonte e ápice da vida cristã, no qual Cristo cumpre a promessa de ficar para sempre conosco, e muitos membros da assembleia ainda carecem de um sacramental, de uma espécie de anexo à grande bênção.

Não estamos autorizados a desvalorizar a bênção como sacramental. Ao contrário, cabe-nos aprender a distinguir as bênçãos encontradas nos livros litúrgicos daquelas que se alinham aos exercícios piedosos e a religiosidade popular. De qualquer forma, mesmo procuradas após a grande bênção da Eucaristia, não desistiremos de descobrir momentos mais adequados para “bem-dizer” a Deus e abençoar-nos uns os outros, porque para isto fomos chamados: ser herdeiros da bênção (1 Pd 3,9). 

 

O rosário a ser abençoado pode ser a oportunidade de se achegar a ele e
receber
uma atenção especial.

Na celebração do mistério Pascal de Cristo ritualizamos o sacrifício do Filho ao Pai. Na Eucaristia estão condensadas todas as bênçãos que o Pai nos transmite por meio de Cristo (Ef 1,1). No entanto, a participação na Eucaristia parece não suprir a avidez de nosso povo por bênçãos. Negar a bênção ofende e afasta as pessoas da comunidade, com exceções. O povo quer se aproximar do padre. O rosário a ser abençoado pode ser a oportunidade de se achegar a ele e receber uma atenção especial. Que satisfação poder recorrer a um homem revestido de um poder que existe para todos: abençoar, tornar bendito um objeto ou um objetivo a ser alcançado. Afinal, muitos não entendem a grandiosidade da Eucaristia: querem realmente outra bênção, que supra a distância do mistério celebrado, ou querem ver o padre, falar com ele?

 Uma simples celebração de bênção feita pelo padre torna um objeto sagrado ou permite que o fiel seja atendido em sua necessidade de curar-se, ou fazer uma boa viagem. A sofreguidão por bênçãos mostra-nos que precisamos aperfeiçoar a catequese, aproximar ainda mais nossas celebrações da linguagem do povo, é preciso superar o peso histórico de uma evangelização eucarística medieval.

 

Pe. Antonio Damásio Rêgo Filho
Pároco da paróquia Santa Teresinha
do Menino Jesus da Santa Face

 



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