Estamos na Quaresma. É…mais uma Quaresma, à qual uma grande parte dos batizados permanece indiferente. Mais quarenta dias que passam iguaizinhos aos outros exceto, talvez, por uma observação cansada: “Lá vai a gente ter de comprar ovos de páscoa outra vez”.
Preciso de sua ajuda. Veja bem: no Natal, tem toda aquela questão de consumismo, de apelo emocional, de propaganda enganosa, de prestações a pagar no ano seguinte, mas, pelo menos, se faz barulho, se faz estardalhaço. Sabe-se, bem ou mal, adequada ou inadequadamente, que alguma coisa está para acontecer. Um menino – que a grande maioria não conhece direito, está para nascer e alguns de boa vontade fazem a infalível Novena de Natal nos prédios, nas famílias. Melhor que nada, embora muito pífio para o meu gosto.
Na Quaresma, o que temos? Silêncio. Temos, é verdade, a Campanha da Fraternidade que fala da fraternidade a que se propõe. Muito justo. Mas, onde é mesmo que se fala explicitamente de Jesus, de Deus, do Pai de Amor? Qual é mesmo o meio que se utiliza para se dizer que aqueles quarenta dias são dias de purificação, de reflexão, de união ao sofrimento, morte e ressurreição de Jesus revivido hoje de tantas formas em tantos dos membros do seu corpo? Onde é mesmo que se diz que alguém se entregou por nós, que morreu por nós, que sofreu por nós? Como é mesmo que se diz que este tipo de amor ainda existe e é o que deve ser recordado e vivido nestes 40 dias?
Nas homilias se fala a valer. Mas os que estão lá dentro da igreja têm pelo menos uma noção do que se passa? E os que estão fora? Como chegar a eles? Quem trabalha comigo, ao me ver aperreada querendo fazer algo mais bem feito sem poder, querendo fazer um tapete de rosas no Corpus Christi (este é um sonho antigo que ainda realizo!) me ouvem dizer: “ Queria ser bem rica, bem rica, bem rica, mas bem rica, bem rica mesmo!”
Pois bem, nesta Quaresma, onde nem mesmo as igrejas conseguem expressar em sua liturgia e decoração o tempo em que vivemos – e não conseguem ou por ignorância ou porque não são “bem ricas, bem ricas, bem ricas”, gostaria de ser bem rica, bem rica, para colocar na TV, no horário nobre o sentido da Quaresma. O sentido do Amor que dá a vida. O apelo para amar e agradecer a Jesus, o convite a buscá-lo pobre e sofredor pelas ruas e unir-se ao seu sofrimento.
Queria ser bem rica, bem rica, para imprimir milhares de vias-sacras e formar grupos para rezá-las pelas casas de família de forma criativa, bela, que levasse à oração |
Queria ser bem rica, bem rica, para imprimir milhares de vias-sacras e formar grupos para rezá-las pelas casas de família não como uma repetição sem fim, mas de forma criativa, bela, que levasse à oração. Já pensou? Queria formar um pequeno grupo de músicos daqueles que não estão enquadrados em horários de ministérios e compromissos sem fim, mas que fossem livres o bastante para sair de casa em casa e cantar que nem as torrentes das grandes águas conseguirão apagar o amor e que nada nos poderá separar do amor de Deus.
E quanto à mídia? Já pensou, um super projeto de mídia: rádio, tv, jornais, revistas, panfletos dizendo que o Amor Ama hoje e que o Amor que Ama ainda não é amado! Que tudo não se resume a um semgracíssimo coelhinho sorrindo para um pedaço de cacau com parafina? Não queria que sentissem pena de Jesus, sangrando, ferido. Não! Queria que olhássemos para ele, nestes 40 dias e disséssemos: me ensina a amar como tu amas! Me ensina a calar como tu calaste! Me ensina a me dar como tu te deste! Me ensina a obedecer como tu obedeceste!
Não quereria, tampouco, que o projeto de mídia nos levasse a nos sentirmos culpados! Deus que me livre! Pelo contrário, queria que víssemos o coração pulsante e aberto de Jesus acolhendo o pecador, o sofredor, o deprimido, o solitário, o que perdeu o sentido de vida e dando a ele esperança nova, sangue novo, vida nova, novo perdão!
Queria encher os hospitais de esperança porque Deus, que também teve dor, é amor! Empanturrar as delegacias superlotadas de um respiro novo porque Deus é amor! Trazer sorriso aos prisioneiros porque Deus, como eles, foi prisioneiro, e Ele é amor!
Queria ser livre, leve e louca como Francisco a gritar que Deus é Amor (o “Amor não é amado” a gente deixava para depois, na hora em que fosse juntar algum mendigo do chão). Queria ouvir o pessoal da Toca gritando feito loucos no Centro da Cidade que Deus é amor.
Pois é. Se eu fosse bem rica, bem rica, moveria a mídia toda a cada Quaresma para gritar que Deus é amor! Por enquanto, cercada de mil cadeias, só posso escrever este artigo-desabafo e pedir ao Espírito Santo que Ele, que é bem rico, bem rico, mova os corações dos seus fiéis e os convença da grande verdade da Quaresma: Deus é amor! Deus é amor! Deus é amor! Deus é amor!
Em tempo: talvez você seja bem rico, bem rico. Talvez você possa fazer uma super-campanha de mídia – só 30 segundos no horário nobre! Talvez possa, lá para junho, no Corpus Christi, estender um tapete de beleza aos pés do Santíssimo. Pobre, bem pobre, ou rico, bem rico, você e eu podemos fazer deste tempo, um tempo de convencimento dos corações: DEUS É AMOR! Se o nosso coração queimar, o fogo do Espírito não será nossa maior riqueza?
Emmir Nogueira
co- fundadora Comunidade Católica Shalom