A ressurreição de Jesus é a certeza da vitória também para todo aquele que crê. N’Ele se realiza o desejo mais profundo do ser humano à verdadeira alegria e à verdadeira vida |
Após quarenta dias de penitência, eis que brilha uma grande esperança. De fato, sem essa vitória sobre a morte, diz São Paulo, vazia seria a nossa pregação e vã a nossa fé. (Cf. 1 Cor 15,14). Por isso, estamos aqui para algumas reflexões na convicção de que a ressurreição de Jesus abre o horizonte da mais autêntica alegria, pois faz parte do plano de amor de Deus para vencermos a morte também nós e viver, já aqui, uma vida plena de sentido.
1.O lado humano e existencial da ressurreição. Nossa perspectiva se inicia na experiência humana cotidiana. Todos os dias vivemos, morrendo a cada instante vivido, mas cotidianamente ressuscitamos, do cansaço para o descanso, do sono para o despertar, da tristeza para a alegria, da dor para o remanso. Assim, renascemos a cada dia, a cada nova estação, a cada novo ciclo, a cada novo ano. Desse modo, podemos dizer que só se vive morrendo, pois somos sempre para o fim, dado que hoje vivemos no tempo. Mas para o cristão, só se vive também ressuscitando. A fé foi na ressurreição foi, para os discípulos, um aprendizado e intimidade com o Senhor. A partir daí, dizemos que a ressurreição faz parte da estrutura da vida daquele que vive da fé.
2. O lado divino da ressurreição. Em Jesus descortina-se o lado divino dessa profunda experiência humana chamada morte. “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto”. (Jo 12, 24). A ressurreição de Jesus realiza a aspiração mais profunda do ser humano a viver para sempre. N’Ele também nós somos mais que vencedores e a morte se torna travessia. Ele foi o primeiro a vencer o antigo inimigo e abriu a porta da verdadeira alegria, como Ele mesmo nos havia assegurado: “Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. (Jo 15, 11). E a chave de leitura para ressuscitar sempre é o amor, razão de nossa alegria verdadeira. Somente Deus poderia vencer a morte, pois “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. (Jo, 13, 1). O amor de Jesus pela humanidade o leva a superar a morte.
3.O aprendizado dos discípulos, nosso aprendizado. O evangelho do domingo de páscoa nos mostra a experiência da fé dos primeiros discípulos. De fato, “Eles ainda não haviam compreendido que, conforme a Escritura, era necessário que Jesus ressuscitasse dos mortos”. (João 0, 9). As expressões “bem de madrugada”, “primeiro dia” e “a pedra removida” nos mostram a busca de Maria Madalena “primeireando”, saindo em busca de respostas. Mas o sepulcro vazio apenas lança dúvidas, pois ela corre e diz aos discípulos “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”. Ela corre porque ainda não sabia o que era a ressurreição. Embora buscasse, ainda não tinha a fé na vitória de Jesus. A resposta dos discípulos foi imediata. Eles também correram. Foram em direção ao sepulcro. Eles correm por amor, pois haviam perdido o Senhor. João viu e acreditou. Ver significa fazer a experiência da intimidade com Jesus. Quando, mais tarde, os discípulos disseram a Tomé “Nós vimos o Senhor!” (Jo 20, 24), era porque experimentaram, no mais profundo, a intimidade da fé no ressuscitado. Somente a partir da intimidade com Jesus, damos o passo para viver da fé. As palavras de Maria Madalena aos discípulos mostram claramente que ela pensava que tinham roubado o corpo do Senhor. Esse é o primeiro impacto sobre a comunidade e a faz reagir. Se, por um lado, o túmulo vazio convida à fé na ressurreição, por outro, é a intimidade com Jesus, a experiência das aparições, que leva a comunidade a amadurecer a fé na ressurreição. Também nós vamos aprendendo, em comunidade, a viver da fé na ressurreição, na intimidade com Jesus e na vivência do amor.
Alegremo-nos e exultemos. A ressurreição de Jesus é a certeza da vitória também para todo aquele que crê. N’Ele se realiza o desejo mais profundo do ser humano à verdadeira alegria e à verdadeira vida. Por isso, ele mesmo nos havia dito “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. (Jo 14, 6). Desejo a todas as mulheres e a todos os homens uma feliz e santa páscoa. Uma páscoa de intimidade com o Senhor, uma páscoa com espírito, uma páscoa com encontro e muita paz.
Padre Márcio Paiva
Artigo originalmente publicado no NS Rainha Informativo