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Ensinamento de Santo Afonso sobre a oração (3)

As condições da oração: humildade

 

Segundo Santo Afonso, a oração se define como uma conversa familiar com Deus. Pela oração, o orante entra no mistério de  Deus, torna-se íntimo, amigo de Deus. Não para obrigar Deus a fazer a sua vontade, o que seria muito mesquinho, mas para fazer a vontade de Deus, na qual ele encontra a sua felicidade. Amar a Deus por Deus mesmo, sem outro interesse, é a proposta dos santos. A matemática afonsiana da oração é simples: oração + vontade de Deus = felicidade.

A felicidade que Deus proporciona não se assemelha a que o mundo dá. Essa é fugaz, passageira, ilusória. A que vem de Deus permanece, tem sabor de eternidade. O mundo não pode dá-la, nem tirá-la. É própria das pessoas espirituais e não depende das circunstâncias. Mas, quais as condições para orar? Afonso apresenta algumas.
    
Humildade: Ela caracteriza a verdadeira oração.  “Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graças aos humildes” (Tg 4,6).  A especial atenção de Deus aos humildes é testemunhada pela Sagrada Escritura desde o Antigo Testamento: “a oração do humilde penetra as nuvens, não dá descanso até que atinja a meta, não desiste até que o Altíssimo intervenha” (Ecl 35,21). Santa Teresa de Ávila dizia que “a humildade é a verdade”, por isso agrada tanto a Deus.

Ser humilde exige se reconhecer frágil, precário, necessitado da graça de Deus. Soberba é característica da autossuficiência, um bastar-se a si mesmo. Humildade significa reconhecer a necessidade da graça de Deus. Brota de certo auto desespero. O humilde experimenta que não pode salvar a si mesmo. Sabe que, entregue às suas próprias forças, perder-se-ia necessariamente. Ele se experimenta impotente diante de suas fragilidades e por isso recorre a Deus, sua única salvação.
 

“A humildade é a maior das virtudes e o orgulho, o pior dos pecados. Nem o pecado afasta o humilde da oração. Ele busca Deus na confiança”

A virtude da humildade supõe reconhecimento da própria situação de criatura. O ser humano não se dá o ser. Não tem em si mesmo sua origem. Ele vem de outro. Deus lhe dá o ser e o mantém na existência. Sua vida está enraizada num mistério que o ultrapassa e que ele não explica. Um mistério que demanda submissão, mas não assusta, porque é amor. O amor se revela o fundamento último do real, mas sua aceitação se faz por meio da humildade. O ser humano é criatura, frágil e precária, mas querida por Deus e sustentada por ele. A única atitude possível diante dele é a humildade. Por isso Santo Afonso a apresenta como a condição indispensável para a oração.

A oração aproxima extremos: grandeza de Deus e fraqueza humana; poder de Deus e impotência humana; sabedoria de Deus e loucura humana; amor de Deus e egoísmo humano. Só quando se desveste de sua fantasia de onipotência e onisciência, o ser humano está apto para orar, para mergulhar no mistério indescritível que chamamos Deus e que se aproximou de nós em Jesus Cristo. 

O humilde se aproxima de Deus não para apresentar-lhe suas virtudes e méritos. Reconhece que seus méritos são os dons de Deus. Como ensina Santa Teresinha, ele vai a Deus “de mãos vazias”. Não tem medo de apresentar a Deus os seus pecados. O verdadeiramente humilde não tem medo de sua miséria: “Todos os homens são frágeis, mas cada um deve dizer a si mesmo: eu sou o mais frágil de todos”, diz A Imitação de Cristo*. Santo Afonso encoraja o pecador a se aproximar de Deus sem medo do seu pecado, mas confiante na misericórdia.  Chega a afirmar que o pior pecado é, muitas vezes, o que vem depois do pecado, ou seja, a tentação do desespero, da perda da confiança e do afastamento de Deus. Não. Deus não despreza um coração contrito e humilhado. “Não desprezais, ó Deus, um coração contrito e humilhado” (Sl 51,19).  Deus resiste aos soberbos, mas concede sua misericórdia aos pecadores humildes. Disse um grande espiritual: “É melhor o pecado ao lado da humildade do que o orgulho ao lado da virtude”.  A razão é simples: a humildade é a maior das virtudes e o orgulho, o pior dos pecados. Portanto, nem o pecado afasta o humilde da oração. Ele não confia em si mesmo, sabe de que é feito, reconhece suas fragilidades e pecados, por isso se mostra audacioso: busca Deus na confiança. E a confiança é outra condição para a oração. Dela falaremos na próxima edição.

 

Pe. Paulo Sérgio Carrara, CSSR.
Professor na FAJE e no ISTA, em Belo Horizonte.

 

*A Imitação de Cristo: Livro devocionário cristão, por 500 anos, o mais lido em todo o mundo.



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