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Ensinamento de Santo Afonso sobre a oração (2)

“Quem reza se salva, quem não reza se condena”

 

Na edição passada, afirmamos que Santo Afonso apresenta a oração como meio essencial para aprofundar nossa relação com Deus. Segundo o santo, todos recebem ajuda suficiente para rezar. A oração se fundamenta na redenção abundante que Jesus oferece a todos.

Oração e salvação são duas faces de um mesmo mistério. Nosso santo chega a fazer uma afirmação contundente: “quem reza se salva, quem não reza se condena”. A todos Deus oferece a graça da oração. Ela é, portanto, acessível. Se formos fiéis à graça da oração, rezaremos e, se rezarmos, receberemos as graças de que necessitamos para viver o Evangelho, numa vida virtuosa, o que nos conduzirá à vida eterna.

A oração verdadeira para Afonso é a que transforma a vida, portanto, a que converte. Só sabemos se uma oração é verdadeira quando produz conformidade com o Evangelho e suas exigências. Rezar não é, pois, tentar convencer Deus a fazer o que eu quero, mas conformar-se à sua vontade sobre mim. Santo Afonso gostava de repetir: “o teu gosto e não o meu”. Hoje há uma inversão ilusória: “o meu gosto e o não o teu”, o que não está de acordo com o Evangelho de Jesus.

No seu realismo, nosso doutor da oração afirmará: “qualquer coisa que você fizer, faça-a com e para Deus”. Essa máxima afonsiana nos ensina a buscar a conformidade da própria vida com Deus. A vida cristã não consiste em buscar uma experiência extraordinária de Deus, mas em assumir a vida ordinária, banal – do jeito que ela é – com Deus.

Afonso aconselha três devoções especiais: à paixão de Cristo, ao Santíssimo  Sacramento e a Nossa Senhora. O cristianismo postula que Deus busca o ser humano e quer amizade com ele. São devoções que explicitam a revelação de Deus em Jesus. Deus se encarna para se aproximar do ser humano. A encarnação se realiza através de Maria. Nela, Deus gera o seu Filho no poder do Espírito Santo para nossa salvação. A condição humana, Jesus a recebe por meio de Maria. A Eucaristia prolonga na história a salvação que Jesus nos trouxe na sua paixão e ressurreição.
 

“A condição humana, Jesus a recebe por meio de Maria. A Eucaristia prolonga, na história, a salvação que Jesus nos trouxe na sua paixão e ressurreição”

As três devoções resumem as etapas da viagem de Deus ao coração humano. Ele se encarna, morre, ressuscita e se entrega a nós na Eucaristia. A proposta de Santo Afonso se apoia, pois, no presépio, na cruz, no sacramento. A coisa é simples, orar não supõe conhecimentos esotéricos, não é para pessoas espiritualmente privilegiadas ou para uma elite espiritual. Todos recebem a graça para orar.
   
Encontrar Deus na oração exige apenas abrir-lhe o coração, falar-lhe com confiança, dizendo-lhe tudo aquilo que trazemos em nós, sem nada esconder: medos, dificuldades, temores, preocupações, esperanças. Sabemos que ele nos conhece por dentro, mas, mesmo assim, sentimo-nos convidados a partilhar os detalhes mais íntimos da

“Rezar não é, pois, tentar convencer Deus a fazer o que eu quero, mas conformar-se à sua vontade sobre mim”

nossa vida, porque isso aprofunda nossa intimidade com ele e desperta em nós a confiança na amizade que ele nos demonstra. Para nosso santo, “não é senão uma conversa entre Deus e a pessoa. A pessoa eleva a Deus os seus afetos, os seus desejos, os seus medos, os seus pedidos. E Deus fala-lhe ao coração, fazendo-a conhecer a sua bondade, o amor que sente por ela e o que a pessoa deve fazer para agradá-Lo”.

Pela oração, entramos na intimidade de Deus, para partilhar com ele o que somos e para descobrir o que ele quer de nós. O mais importante é que ela seja um encontro verdadeiro e sincero com Deus.  Mas quais as condições para a oração? Disso falaremos no próximo número.


Pe. Paulo Sérgio Carrara, CSSR.
Professor de teologia na FAJE e no ISTA, em Belo Horizonte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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