Não é nem nunca foi surpresa. Ou pelo menos não deveria ser. Não cabe, portanto, indignação, surpresa ou desespero nesta hora. A transformação de debate em embate é simples sintoma de causas mais complexas, atávicas, quase inevitáveis.
Alguns, inclusive, podem até achar divertido. Talvez consumam o desfile triste de ideias pobres como reality show onde o conflito triunfa sobre a comparação de ideias e pontos de vista. Onde se foca na desconstrução de adversários em detrimento da construção do futuro. A ausência de ideias é provavelmente o maior indutor de agressões.
Não dá para esperar que uma poça d’água tenha profundidade de poços. Da mesma maneira, não é razoável que, um ambiente em que o processo eleitoral dispensa até mesmo apresentação de programas e governo claros, documentados e discutidos, produza campanhas, debates e discussões de alto nível. Não teria logica.
A desobrigação da apresentação previa de ideias, intenções e programas deixa pouco material para conversa. Daí a repetição. Dai a falta de conteúdo. Dai o vácuo de ideias baldias. E, como vácuo é coisa que sempre tende a desaparecer, floresce a agressão. E com ela o nível baixa.
A beleza da democracia não está na inevitabilidade dos acertos. Está na naturalidade e rigor com que os erros são corrigidos pelo voto |
A constatação de que o conteúdo é escasso e que o processo eleitoral não se baseia em ideias, entretanto, resvala no obvio. Qualquer contato com a realidade claramente indica o encontro do debate eleitoral com a sarjeta.
A responsabilidade, entretanto, não pode ser exclusiva dos políticos. Políticos servem a uma demanda. Oferecem aquilo que precisam para ser eleitos. Certamente, se não oferecem programas, é porque programas deles não são exigidos. Se as ideias são superficiais, é porque profundidade não é demandada.
Talvez, portanto, exista alguma responsabilidade da sociedade na qualidade daquilo que olhos e ouvidos suportam. Possivelmente, fosse a audiência mais exigente, o espetáculo seria mais rico.
A melhoria do nível, portanto, não pode ser oferecimento voluntario dos candidatos. Precisa ser extraída através de votos que selecionam o melhor e eliminam o pior. Sem eleitor exigente, não há salvação.
A beleza da democracia não está na inevitabilidade dos acertos. Está na naturalidade e rigor com que os erros são corrigidos pelo voto.
Elton Simões
Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV);
MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria)