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Educar em tempos de crise

 

Pouco tempo atrás vivíamos tempos de bonança. Grande parte da população brasileira passou a adquirir bens de consumo que antes não faziam parte do seu dia-a-dia. Também alguns serviços que outrora eram impensáveis de serem usufruídos, como viagens aéreas, por exemplo, passaram a estar acessíveis. Seja porque a renda efetivamente aumentou, seja porque o crédito passou a estar mais acessível, é certo que o padrão de vida em geral havia aumentado nos últimos anos.

Recentemente, porém, parece que só se ouve falar em crise e a ordem do dia é economizar, cortar gastos e, se possível, poupar. Nesse contexto, muitos pais estão perplexos sobre como enfrentar essa nova situação. Por vezes eles próprios não estão muito dispostos a deixar de usufruir de certas facilidades a que se foram habituando. Mas, mais que isso, talvez estejam tentando poupar a família, em especial os filhos, da parcela de sacrifício que lhes cabe nessa nova realidade.

Dizem que a origem etimológica de crise vem da palavra grega krísis, que era usada pelos médicos para definir a situação do doente depois de medicado, que entrava em “crise”, ou seja, haveria um desfecho: a cura ou a morte. Crise significa, então, separação, decisão, definição. Nesse sentido, é também, uma oportunidade.

Concretamente no tema que nos cabe, que é a educação dos nossos filhos, os momentos de aperto econômico são muito interessantes, pois trazem oportunidades educativas imperdíveis.

 

Quando falta o dinheiro, os pais têm de ser criativos para saber como se divertir com os filhos num orçamento mais apertado
A experiência mostra, porém, que com
isso muito se ganha no convívio familia

As pessoas que vivenciaram uma guerra sabem narrar como os apertos e privações imensos marcaram suas vidas para sempre. Aprenderam a viver com muito pouco, frequentemente não se queixam das dificuldades e, principalmente, sabem valorizar o que possuem. Bem ao contrário, muitos dos nossos jovens, que já nasceram imersos numa parafernália eletrônica e acostumados a desfrutar de muitas comodidades, frequentemente se queixam diante das adversidades e, por consequência, são pouco dados a se sacrificarem por um ideal que valha a pena.

Assim, nesses momentos, podemos fazê-los notar que a verdadeira felicidade não está nos bens de consumo de que talvez agora tenhamos de nos privar. Ela está, muitas vezes – quase sempre – em coisas completamente gratuitas, como sorrir, comtemplar uma bela paisagem, saber doar-se aos demais desinteressadamente, enfim, encontrar razões nobres para preencher os dias em atitudes benfazejas.

Em pesquisa recente realizada pelo SPC Brasil, os entrevistados foram indagados, dentre outras questões, sobre o que consideram ter uma vida realizada e feliz a partir de seu padrão de vida. Para atingir esse objetivo, 62% afirmam ser essencial ter tempo para passar com a família e os amigos. Ou seja, coisas para as quais o dinheiro é absolutamente desnecessário!

Quando falta o dinheiro, os pais têm de ser criativos para saber como se divertir com os filhos num orçamento mais apertado. A experiência mostra, porém, que com isso muito se ganha no convívio familiar. Além isso, é momento de recordar que “tem mais quem precisa de menos”. Não inventemos necessidades. Será que é preciso trocar o celular a cada seis meses? O restaurante requintado não pode ser, por vezes, substituído por um piquenique em família?

Um grande sábio dava um conselho que muito pode servir de guia para os pais nesse momento em que a situação econômica tende a ficar mais apertada: não se queixar quando falta o necessário; não ter nada como próprio, ou seja, considerar que tudo o que possuímos nos foi dado para cumprirmos a missão que nos cabe e; não ter nada de supérfluo. Se levarmos em conta esses conselhos em nossas vidas, talvez a crise seja para nós o que verdadeiramente é: uma oportunidade. Aproveitemo-la, pois, para sairmos dela mais virtuosos e, quanto aos nossos filhos, mais responsáveis e felizes.

 

Fábio Henrique Prado de Toledo

Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar

pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC



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