Um leitor assíduo de obras de sua área de formação, como teologia e filosofia e da literatura cristã da Igreja Católica, dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, desenvolveu o gosto pelos livros ainda na infância. Ele também se inspira nos romances e poesia, nacionais e estrangeiros. Nesse campo da escrita, autores como Machado de Assis, Guimarães Rosa e Dostoiévski marcaram sua trajetória como leitor. O Bispo concluiu o seu doutorado em Ciência da Religião, pela Universidade Federal de Juiz de Fora. “Vulnerabilidade pós-moderna e cristianismo” foi o tema do seu pós-doutorado na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje).
Dom Vicente guarda o hábito simples, mas muito prazeroso de visitar livrarias, sempre que pode. Há cerca de 20 anos, descobriu a arte da escrita quando editava jornal da Congregação Redentorista – Província do Rio de Janeiro. Desde então, acolheu o desafio, que é sofrido. “Um texto custa muito suor, mas é uma alegria. Na escrita podemos aprofundar o melhor de nós”, costuma dizer. Desde então, já publicou livros em prosa e escreve também poesias e poesia musicada. Gravou dois CD’s. Na Dica Literária dessa semana, dom Vicente partilha com os sacerdotes da Arquidiocese de BH uma oportuna sugestão: o livro Brumadinho – 25 é todo dia, de sua autoria. O manuscrito de 163 páginas, publicado pela Expressão Popular, nos traz por meio da prosa e poesia reflexões sobre a tragédia de Brumadinho, que no próximo 25 de janeiro completa três anos.
Com a linguagem carregada de afetos, Brumadinho – 25 é todo dia – revela o luto e a luta, em uma caminhada de fé e vida. “Alguém um dia me perguntou: por que ficar recordando sempre disso? Lembro para que nunca seja esquecido que esse crime jamais poderia ter acontecido. Ele matou 272 pessoas e destruiu a bacia do Paraopeba”, recorda dom Vicente, que é o bispo referencial para a Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser). “Eu não sobreviveria como pessoa e nem como bispo responsável por essa região dramaticamente afetada se eu não me lembrasse disso todo dia. Então, espero que esse livrinho ajude você a pensar e agir diante de tantos gritos humanos e da terra. Ele é também um convite a uma conversão ecológica”, convida o autor.
Quem é o próximo?
Não se trata de ideia
abstrata, distante
uma lei pronta
barco sem navegante
O próximo, nosso irmão
mostra-se é no caminho
dureza do chão
sem hora marcada
desaloja planos
veja a história
do bom samaritano
Trecho do poema “Quem é o próximo”
Brumadinho – 25 é todo dia – Pág. 59