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Discernir como Igreja: Iluminar – artigo de Neuza Silveira, Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH

Esse é o título do terceiro capítulo do documento da CNBB n. 107, “Iniciação à vida cristã: Itinerário para formar discípulos missionários. No caminhar da nossa reflexão sobre os temas do documento percebemos como está sendo construído um itinerário que nos possibilita o entendimento para a realização da ação evangelizadora da Igreja de hoje, a fim de nos tornarmos sempre mais uma “Igreja casa da Iniciação à Vida Cristã”.

A Exemplo do itinerário apresentado por Jesus em seu encontro com a Samaritana, somos convidados a promover encontros semelhantes com os nossos catecúmenos e catequizandos. É oportunidade de provocar neles a grande alegria da experiência do encontro com o Messias e, com entusiasmo, partilhar com os outros, anunciar que ele já chegou e está presente no meio de nós. Uma forma de expressar a força da Igreja missionária e, ao mesmo tempo, gerar novos missionários. Ao promover uma efetiva “Iniciação à vida Crista”, é possível responder à urgência de se ter uma Igreja em “estado permanente de missão”.

Nesses dois mil anos de missão, a Igreja foi tentando se adaptar às exigências de cada época, ora com mais eficácia, ora com poucos resultados, mas sempre caminhou promovendo uma catequese que ajudava o povo a manter-se inserido na Igreja/comunidade. O catecumenato, processo catequético de iniciação dos primeiros séculos, foi uma maneira muito criativa encontrada para responder às urgências da época, tornando-se “verdadeira escola de fé.

Na Igreja antiga, a missão de iniciar na fé sempre coube à liturgia e à catequese. Ambas caminhavam de mão dadas, unidas, em um processo chamado de Iniciação à Vida Cristã, que tinha como centro a imersão no mistério de Cristo e de sua Igreja. Tudo acontecia em um clima de espiritualidade, orações, celebrações e ritos, um ambiente que chamamos de mistagógico – que se deixa impregnar do mistério da vida do ressuscitado. Trata-se do “querigma”, o anúncio fundamental dos que conviveram com o Senhor, passaram pelo escândalo da sua crucificação e a quem o Senhor apareceu ressuscitado, enviando-os em missão.

Por “Igreja Antiga” entendemos, aqui, as comunidades cristãs dos quatro primeiros séculos do Cristianismo. Tempos marcados pelo nascimento da Igreja, fundada na ressurreição de Jesus Cristo, com o envio do Espírito Santo e o testemunho dos Apóstolos, a chamada “era apostólica” (33-100). Entrelaçada com esse período, inicia-se a “era dos mártires” (64-311), com o surgimento dos Padres Apostólicos e dos Padres Apologistas: época das perseguições e do testemunho dos cristãos até a suprema identificação com o Senhor, com o derramamento do próprio sangue. No ano 313, a Igreja ganha liberdade de culto e as graças do Império Romano, iniciando-se um novo período, conhecido como a “era da Igreja Imperial”, marcada pela contribuição dos grandes Padres da Igreja, a “era de ouro da Patrística”, com os primeiros concílios ecumênicos.
Um segundo e mais longo tempo, o catecumenato, dentro do qual nasceu a catequese, passou a denominar todo o processo iniciático que culmina com a recepção dos três sacramentos de Iniciação Cristã e perdura no estado mistagógico por toda nossa vida, pois, continuamente, permanecemos em Cristo e Ele em nós. Do ponto de vista histórico, o catecumenato é um período de formação cristã, em etapas, de caráter catequético-litúrgico. Foi criado pela Igreja dos primeiros séculos, com o fim de preparar e acompanhar os convertidos adultos para a inserção no mistério de Cristo e à vida de comunidade eclesial. Esse processo catequético teve o seu auge no século IV. A Partir do século quinto, começa uma progressiva e negativa separação entre liturgia e catequese terminando todo o processo por volta do século sétimo, quando então toda a Igreja vive o momento de cristandade.

Hoje a Igreja nos propõe a conhecê-lo como modelo de inspiração. Trata-se de um modelo que apresenta vários elementos que, adaptados à nossa realidade, podem contribuir eficazmente na elaboração de itinerários próprios para cada contexto, para repensarmos o processo evangelizador e catequético atual. É importante ressaltar que a ideia de “modelo” do catecumenato antigo sirva antes de inspiração, leve-nos a uma mística, a um estilo iniciático de encontro e introdução da pessoa no mistério de Cristo, para que alcance a maturidade da fé e possa dizer, como concluiu o apóstolo Paulo: “Já não sou eu mais que vivo; é Cristo que vive em mim!”

A proposta apresentada pela CNBB é que tenhamos o modelo catecumenal “não como um projeto fechado, para ser seguido ao pé da letra em todas as situações, mas que “inspirando nele, possamos fazer usos de alguns elementos que podem ser adaptados à nossa realidade.

São elementos fundamentais do catecumenato: o caráter de iniciação, a intensidade e integridade da formação, a forma gradual, o emprego de ritos e a referência constante à comunidade. Tais elementos inspiram a prática catequética atual e são referência para toda forma de catequese.

Falar hoje de “Iniciação” não nos é muito habitual, embora ela continua acontecendo na vida de todos, pois sempre estamos iniciando em alguma etapa de nossa vida. A iniciação, no sentido religioso visa a uma transformação religiosa e social do iniciado. Em etapas e conforme a realidade de cada um, o iniciante vai percorrendo um caminho que, cada vez mais, o leva a um mergulho pessoal no mistério de Deus.

Sobre esse mergulho vamos continuar conversando.

 

 

 

Neuza Silveira de Souza é Coordenadora do Secretariado
Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte

 



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