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Dimensões teológicas da Iniciação à Vida Cristã II-artigo de Neuza Silveira, Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético

A catequese encontra-se inserida no grande tema dos processos da evangelização da Igreja. Os processos iniciáticos, que culminam nos sacramentos da Iniciação à vida Cristã, introduzem a pessoa que os buscam no mistério de Cristo e da Igreja. Essa, por sua vez, anuncia o Evangelho com toda sua vida: o tríplice serviço da palavra, da liturgia e da caridade, a exemplo do próprio Cristo, que vivendo no meio de nós,  nos possibilita presenciar, através de suas atividades, a vinda do Reino de Deus.

Jesus, por amor, viveu e morreu, ressuscitou e nos ofertou sua vida em prol da nossa salvação. Fazendo-se alimento para nós, a Eucaristia que celebramos torna-se o ponto culminante do anúncio eclesial da Boa Nova de Deus, em Jesus Cristo, porque, segundo o adágio dos pais da Igreja, “a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”.

Procurando conhecer Jesus Cristo, nós o encontramos no Novo Testamento, uma coleção constituída de vários textos a saber: as 13 cartas do apóstolo Paulo; os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, que apresentam as narrativas da vida, ensino e morte de Jesus Cristo; o livro Atos dos Apóstolos, com a narrativa do ministério dos apóstolos e da história da Igreja primitiva; algumas epístolas pastorais e católicas carregadas de instruções, resoluções de conflitos e outras orientações para a Igreja primitiva, finalizando com o Apocalipse do apóstolo João. Essa coleção  escrita após a Ressurreição de Jesus, conhecida primeiramente como ‘Nova Aliança” e por volta do segundo século denominada ‘Novo Testamento’ desde o início está a nos dizer que Cristo é o testador, aquele que , depois de ter sofrido a morte por nós, nos fez herdeiros do  Reino eterno – o Reino por Ele prometido-, constituindo conosco uma aliança, ou seja, um contrato do qual fazemos parte e somos responsáveis pela sua realização.

A Aliança com Deus é sempre nova e eterna. O amor de Deus é de sempre e para sempre. Ele fez uma aliança de amor com Israel no deserto. Jesus Cristo, o eterno repouso para quem o busca, é também para nós aliança eterna e definitiva, inaugurada na Páscoa e confirmada na sua ascensão e envio do Espírito no dia de Pentecostes.

O Anuncio de Jesus no Novo Testamento

No Novo Testamento, Jesus anuncia a Boa Nova de Deus tanto quando proclama o sermão da Montanha, como quando ensina aos discípulos, conversa com as pessoas, conta as suas histórias, quando cura um doente ou liberta alguém afligido por um “espírito impuro”. Em Marcos capítulo 1, versículo 27, esse gesto é reconhecido como “ensinamento novo”. Além de proclamar, anunciar, ensinar, encontramos outras várias formas de ação de Jesus que podem ser consideradas instruções para o nosso agir pessoal e para a nossa ação evangelizadora.

A catequese, ao empregar a metodologia narrativa, ou seja, mostra ‒ não apenas afirma ‒ a partir dos atos e palavras de Jesus que, nele, Deus se revela. Somente assim, pode nascer a obediência da fé, como opção livre e dom divino. Não se trata apenas de contar a vida de Jesus, mas de mostrar que em Jesus o caminho da fé de Israel, arraigado no caminhar histórico de Israel e de todas as religiões, chega à sua plenitude e revela o caminho salvador de Deus, presente desde sempre de diversas formas (cf. Hb 1,2). Por isso, os evangelhos e as cartas dos apóstolos ‒ primeiros subsídios da catequese ‒ mostram, com a insistente repetição da frase “para que se cumpram as Escrituras”, que, em Jesus, chega à plenitude o caminho da autocomunicação divina, não só para Israel, mas para toda a humanidade.

No nosso caminhar, Jesus Cristo é a referência. E os sacramentos, como ato do próprio Cristo na ação ritual da Igreja, Ele é quem nos inicia, nos torna cristãos, nos introduz no relacionamento com a Trindade e com o corpo eclesial. Ele introduz cada batizado ao encontro profundo com o Mistério Pascal e, com isso, ao encontro de sua própria realização como ser humano. (cf. Doc. 107. n. 125).

Os Sacramentos de Iniciação (batismo, crisma e eucaristia) formam um só conjunto, cuja totalidade constitui a introdução do novo cristão na Igreja. São integrados no mesmo caminho de fé. São etapas de um único processo de mergulho na vida iluminada por Cristo e testemunhada na Igreja. A Eucaristia é o sacramento da plenitude, pois realiza plenamente o que os outros dois anunciam. Ela é uma culminância, um sinal de plena e definitiva inserção na Igreja.

Ao participar da Celebração Eucarística, pode-se compreender a Eucaristia  a partir do seu rito, apresentado em três partes principais. Primeiramente, uma apresentação a que chamamos de ofertório. A seguir vem o sacrifício eucarístico constituído pela grande prece de ação de graças, pronunciada sobre os elementos do pão e do vinho. A terceira parte é a distribuição dos elementos consagrados para a comunhão dos fiéis. Assim diz Santo Ambrósio em seus ensinamentos sobre ‘Os sacramentos e os mistérios”: O Povo, purificado e enriquecido dos dons eminentes (o batismo e a confirmação) põe-se em marcha para os altares, dizendo: Eu irei ao altar de Deus, do Deus que alegra minha juventude. […] ele entra e vendo o santo altar preparado, clama: “Tu preparaste uma mesa diante de mim”.

Pode-se observar que a Eucaristia é apresentada, desde o início,  como um banquete celeste. A entrada na Igreja representa a entrada no santuário celeste. Tendo entrado no santuário, os batizados em Cristo contemplam os mistérios escondidos. No altar, onde figura do corpo de Cristo, pode-se enxergar, à luz dos sacramentos, que o corpo de Cristo está sobre ele. O sacrifício eucarístico é uma participação sacramental no único sacrifício celeste. A Eucaristia é o memorial eficaz da Paixão, da Ressurreição e da Ascensão . É também a participação no sacrifício e no banquete celestiais.

 

 

 

 

Neuza Silveira de Souza é Coordenadora do Secretariado
Arquidiocesano Bíblico-Catequético de  Belo Horizonte



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