Um jovem sacerdote chega a uma pequena paróquia francesa, em uma região chamada Ambricourt, onde viverá com profundidade a beleza e os desafios do sacerdócio. Diário de um pároco de aldeia, é um clássico da literatura do século 20, escrito por Georges Bernanos, “considerado por muitos o “Dostoiévski francês“, recorda dom José Otacio, que essa semana partilha conosco a interessante dica de leitura.
Em sua trajetória, o jovem padre, o qual tinha uma saúde frágil, alimentando-se apenas de pão e vinho, vivencia de forma intensa a experiência do seu sacerdócio, a partir do encontro com uma pequena multidão de personagens: o médico ateu, o padre que abandonou o sacerdócio, as questões familiares dos moradores de sua pequena aldeia. Dom José Otacio observa que existe uma busca do jovem padre para vencer o tédio, a mediocridade das superficialidades humanas, vivendo a espiritualidade com força para formatar a vida: “Ele quer viver e quer imprimir nas pessoas essa espiritualidade, mas o fato de querer imprimi-la não quer dizer que ele já a tenha.” Assim, o livro prossegue com uma narrativa que dom José Otacio define como densa e envolvente: “Como Bernanos tem a capacidade extraordinária de dar nome para os sentimentos, de descrevê-los, a leitura nos faz sentir a densidade da vida que está atrás daquelas palavras. Ele não está ensinando o padre a ser padre, apenas contando como um sacerdote viveu essa aventura.”
A paróquia do jovem padre, como o próprio personagem a descreve, é como todas as outras e, no decorrer da narrativa, o leitor vai percebendo que os dramas do ser humano, onde ele estiver, ele os vive, mesmo em uma pequena aldeia. Os desafios das relações interpessoais são vivenciados de forma intensa, transformando as reflexões trazidas pelo Diário de um pároco de aldeia, em uma leitura para ser revisitada em vários momentos. “Um livro como esse, não lemos e guardamos, de vez em quando abrimos e damos uma espiada”, sublinha dom José Otacio, recordando que a primeira vez que o leu, estava ainda no Seminário, em Roma. E qual a diferença entre a leitura feita pelo jovem seminarista e, mais tarde, pelo padre? “Ao ler esse livro, como seminarista, eu pensei: vou aprender para não experimentar todas essas tensões. Como padre eu disse para mim mesmo, não tem como fugir delas.”
Por meio de seu personagem, Bernanos descreve o tédio como uma poeira, que pode passar de um ser humano para o outro, a partir da própria relação humana. Dom Otacio sublinha que cada pessoa ao ler a obra poderá experimentar a proposta do Papa Francisco: “Irá sentir que os seus horizontes relacionados aos sentimentos afetos são alargados pela literatura”. O cineasta francês Robert Bresson fez uma adaptação do romance para o cinema, em 1951.