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Dia da caridade


 

Alegra-nos saber que a virtude máxima da tradição cristã seja reconhecida na celebração do dia a ela dedicado, 19 de julho. Mas soaria paradoxal se esta data esgotasse nossa lembrança sobre algo tão nobre e significativo para nós cristãos. A caridade alimenta-nos todos os dias e horas. Sem ela, a vida se torna vazia. Paulo no discurso sobre a caridade leva ao extremo a reflexão. Ao praticarmos os atos valiosos e heroicos de falar em línguas, do dom da profecia, do conhecimento dos mistérios e de todas as ciências, a fé de transportar montanhas, a distribuição de todos os bens aos famintos, a entrega do corpo às chamas sem amor seríamos, como o som que tine, címbalo que nada soa e por isso nada ganharíamos. Em seguida, canta as loas da caridade até terminar dizendo: o amor é o dom maior (1Cor 13, 1-13). Página magistral que serve de leitura obrigatória para o dia da caridade!

A questão não se resolve com a afirmação da sublimidade do amor. Continua a pergunta: que significa amar? Pergunta que brota de todos os lábios e que encontra tantas respostas e as mais díspares. O ser humano, na unidade substancial, se constitui de corpo, alma e espírito. O segredo do amor consiste em tocar e afetar a tríplice dimensão, sem restringir-se exclusivamente a uma só delas e respeitando a hierarquia.
 

O amor-espírito opõe-se a todo individualismo. Profundamente altruísta, não exige reciprocidade

O amor-corpo pede presença física. Olhar, abraços, beijos conforme o  estado e natureza da relação. Sem ele, não amaríamos como seres humanos e corpóreos que somos. No entanto, quando ele se absolutiza e sobrepõe às outras dimensões, deforma-se e degrada-se. Possui terrível tendência à exclusividade até a exaustão. Não se sustenta no tempo se não se prolongar nas outras dimensões.

O amor-alma implica relações afetivas, amizade, benevolência. Vai além do corpo. Mantém-se e se alimenta de sinais presentes e ausentes. Cresce nas presenças, mas continua sem elas. Vive da memória dos momentos felizes. Permite a pluralidade de relacionamentos. Supera o ciúme, muito próprio do amor-corpo. Alegra-se com a felicidade, sucessos, triunfos do amigo. Faz-se presente nas horas de alegria e tristeza.
        
O amor-espírito atinge o ponto alto. Muitas vezes se restringe a ele o termo caridade. Envolve atitudes maravilhosas, difíceis e cada vez mais raras na sociedade atual, muito voltada para o indivíduo. Os dois amores anteriores conseguem ainda conviver com certa dose individualista. O amor-espírito opõe-se a todo individualismo. Profundamente altruísta, mostra-se na saída de sí para o outro de maneira gratuita, sem cobrança, sem busca de volta. Não exige reciprocidade. Se esta vier, alegra-se. Mas não se condiciona a ela. Mesmo quando o outro nos nega, o amor-espírito prossegue.

Jesus proclama como traço do discípulo chegar a amar o próprio inimigo. Ele não só ensinou como praticou. Na cruz demonstrou-o ao pedir ao Pai que perdoasse aqueles que o humilhavam, torturavam e crucificavam. O amor ao inimigo, o perdão àqueles que nos ofendem, sem exigir mutualidade: eis o auge. A verdadeira caridade cristã pede que o amor-espírito informe os dois outros amores corpo e alma na unidade de um único amor.

 

Pe. João Batista Libanio, SJ
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)

 



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