Educar desde à infância a saborear as verdadeiras alegrias, em todos os ângulos da existência – a família, a amizade, a solidariedade,…o amor pela beleza da natureza, significa exercitar o gosto interior e produzir anticorpos contra a banalização e o abatimento hoje difundidos |
Deus é fiel à sua criação. Ele criou o ser humano para si e não se cansa de nos olhar e de nos atrair. Por isso, é somente em Deus que o ser humano há de encontrar a verdade e a felicidade.
Com o olhar mais atento poderemos aflorar nossa sensibilidade para sua presença silenciosa tantas vezes abafada dentro de nós. Colocando-nos à escuta interior seremos capazes de perceber seus sinais; pode-se ouvir a voz da consciência, observar mais de perto a carência de nosso coração e até mesmo nossas atitudes egoístas. O caminho interior nos dá força e coragem para tomarmos atitudes que nos abrem para a verdade, a justiça e a liberdade. Deus quer se encontrar conosco e juntos percorrermos o caminho interior Podemos também perceber e reconhecer os sinais de Deus: onde se vive o amor, onde se sabe perdoar, onde se constrói a paz, onde somos acolhidos sem preconceitos.
Com um olhar mais atento podemos olhar para a natureza e lá perceber a presença de Deus: no ciclo das estações, na beleza de sua paisagem, na fecundidade da terra e em todo o movimento do universo.
Para perceber os sinais de Deus precisamos ter fé e a fé precisa ser educada. Diz BENTO XVI na Audiência Geral do dia 07/11/2012 sobre o Ano da Fé: “Educar desde à infância a saborear as verdadeiras alegrias, em todos os ângulos da existência – a família, a amizade, a solidariedade com quem sofre, a renúncia ao próprio eu para servir ao outro, o amor pelo conhecimento, pela arte, pela beleza da natureza, tudo isso significa exercitar o gosto interior e produzir anticorpos eficazes contra a banalização e o abatimento hoje difundidos”.
A experiência do povo da Bíblia nos ajuda a fazer a nossa experiência
Como povo de Israel, falamos com Deus nos momentos difíceis da vida. Como o povo do exílio o invocamos e sabemos que Ele não abandona seu povo. É a experiência de que tudo pode falhar, menos a misericórdia divina. Esta atitude divina que abraça, acolhe e que se dedica a perdoar. Segundo o Papa Francisco, a misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus.
Encontramos ainda, na Bíblia, a experiência de Jacó que luta com Deus, imagem de nossas batalhas com o Senhor. Assim como Jacó, também podemos dizer no final de nossas lutas: Deus estava aqui e eu não sabia. A memória vitoriosa da Páscoa – passagem da morte à vida, da escravidão à libertação – animou o povo a seguir adiante.
Olhando para a experiência do povo da bíblia e da caminhada das primeiras comunidades que se puseram a caminho depois da ressurreição de Jesus, hoje percebemos como se torna significativo anunciar o Reino, a partir da experiência dos nossos catequizandos. Buscar nos fatos da vida a experiência que se fez com Deus e tornando-a “matéria-prima” da catequese, ou seja, fazer da realidade dos nossos catequizandos, permeadas pelo cotidiano de cada um, o conteúdo da catequese pois é lá “em meio aos fatos da vida que Deus atua e nos surpreende”, assim diz O Papa Francisco na celebração da Santa Missa, na basílica do Santuário Nacional de Aparecida.
Com o olhar atento Deus nos acompanha; espera que lhe abramos aos menos uma fresta para que possa agir em nós. Também espera que possamos perceber a sua forma de amar: com compaixão e misericórdia. Jesus não olha para a realidade do exterior sem se deixar tocar, como se tirasse uma fotografia; ele se deixa envolver. É desse olhar que precisamos quando nos encontramos perante um pobre, um marginalizado, um pecador. Uma compaixão que se nutre da consciência de que também somos pecadores e nos leva a se envolver com essa realidade, não se esquecendo, porém, que nossos desejos e capacidade de intervenção nos fatos estarão sempre submetidos à vontade do Pai, do seu plano que é maior que o nosso. Nossa tarefa é ajudar as pessoas a ler a manifestação de Deus em suas vidas. Perceber esse agir de Deus na vida é a arte de quem aprendeu a dialogar com ele.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana
Bíblico-catequética de Belo Horizonte