Será que o século XXI acabará se tornando um imenso cemitério de esperanças? Muitas promessas que foram feitas, advindas do sonho do progresso acelerado, foram desfeitas ao longo do tempo. Chegamos aos tempos modernos com crueldades, injustiças e insegurança.
Quando o futuro nos é furtado, o presente nos basta. Isso incorre em um perigo gravíssimo A vida hedonista e pragmática toma conta da pessoa |
Também é perceptível que, após o iluminismo e a desvalorização da fé religiosa não houve uma fé maior no ser humano. Sente-se que o abandono de Deus parece ir deixando o homem contemporâneo sem horizonte ultimo, sem metas e pontos de referência. É triste a constatação de Gioacomo Vattimo, de que devemos aprender a “viver na condição de quem não se dirige a lugar nenhum”.
Quando o futuro nos é furtado, o presente nos basta. Isso incorre em um perigo gravíssimo. A vida hedonista e pragmática toma conta da pessoa. Assim, instalados em um sistema que se alimenta apenas do “agora”, com uma segurança leviana, a coisa mais inteligente a fazer é retirar-se ao santuário da vida e desfrutar de todo o prazer agora mesmo.
A cultura da indiferença sobrepõe à cultura do encontro justamente porque as questões coletivas e o bem comum são causadas pelo desinteresse das pessoas. Assumir compromissos que me coloquem na via de encontro com o outro é o desafio do nosso tempo porque o lema de uma sociedade pautada pelo relativismo é “salve-se quem puder”.
A desesperança tem encontrado hospedagem no coração do homem contemporâneo. Assim, a falta de fé em si e no seu próprio progresso, a falta de confiança na vida vai, vagarosamente, petrificando os sentimentos de justiça, bondade, comunhão e verdade no ser humano. Verdade ainda maior detectada em nossas comunidades é que, quando a pessoa vai abandonando Deus, cada vez mais se torna uma pergunta sem resposta, um projeto impossível, alguém que caminha para lugar algum.
Não estará o homem de hoje, mais do que nunca, precisando do “Deus da esperança”? (Rm 15,13). Este Deus de quem muitos duvidam, que tantos já abandonaram, mas que outros tantos continuam perguntando por ele. O Deus que pode devolver-nos a confiança radical na vida e mostrar que o homem continua sendo um ser capaz de projeto e de futuro.
Padre Ederson Iarochevski