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Cristo é o sentido da nossa existência

O ser humano tem sede de Deus

Quem jamais experimentou um vazio existencial? Quem não se sentiu sozinho e abandonado em meio a tantas pessoas? Quem nunca desejou algo eterno na vida?

Independentemente de raça, idade ou cultura, o ser humano anseia o infinito. Toda pessoa, em todo momento da vida, se depara com essa verdade sobre si mesma e com a insatisfação em relação às realidades criadas: o mundo, os objetos, as outras pessoas e a própria vida. Possuímos uma abertura ao transcendente, que é Deus, e enquanto não o buscamos, continuamos inquietos e seres frustrados, sem sentido existencial.

 

Somos seres que buscamos e enquanto não encontramos não nos satisfazemos, todavia o encontro não é consequência do nosso esforço particular, mas consentimento à relação com Deus

O salmista fala do seu desejo de Deus afirmando: “Desde a aurora te procuro. De ti tem sede minha alma, anela por ti minha carne, como terra deserta, seca, sem água” (Sl 63,2). Comparamos este versículo com o nosso ciclo vital: já nascemos para Deus, desde a aurora da nossa existência, procuramos aquele que nos fez, sentimos uma “saudade” da nossa origem e passamos essa vida como uma terra árida em busca de água para fertilizá-la, que é Deus, quem nos vivifica, tornando-nos fecundos e capazes de viver realizados. A intuição de que fomos feitos para Deus nos põe a caminho e em busca da nossa realização existencial.

Entretanto, nessa caminhada da vida e nas investigações que nos propomos, infelizmente nos satisfazemos com coisas que não são Deus, ao contrário, são bens temporais, pessoas passageiras, realizações temporais e prazeres efêmeros. Aceitamos algo finito e relativo para satisfazer o nosso desejo de infinito e absoluto. Essa ilusão de que outra coisa substitui Deus na vida de um ser humano é presente na nossa sociedade contemporânea e promove proliferação de uma nostalgia de viver.

Somos seres que buscamos e enquanto não encontramos não nos satisfazemos, todavia o encontro não é consequência do nosso esforço particular, mas consentimento à relação com Deus, que nos amou por primeiro.

Deus tem a iniciativa

Porque fomos criados pelo amor de Deus e com essa sede insaciável, ele mesmo é quem tem a iniciativa de vir ao encontro do ser humano, para realizá-lo e cumprir a meta para o qual foi destinado: a comunhão com a Trindade. Deus também deseja o ser humano, sua obra-prima na criação e único ser capaz de relacionar-se com Ele.

 

Deus, porque ama o ser humano, também deseja encontrá-lo e realizá-lo em seu amor. Por esse motivo, inúmeros na história da humanidade testemunham o autêntico valor de viver, que é a aventura de sentir-se amado por Deus

Quem tem a coragem de olhar com seriedade a própria história de vida, constata o quanto os fatos passados (bons ou ruins), as experiências vividas e o instante presente corroboram para afirmar que Deus me ama. Não por causa de virtudes possuídas nem qualidades pessoais, mas porque sou uma predileção dele. Mesmo quando me afasto pelo pecado, nego-o com minha vida e fujo em busca de outros deuses, Deus me acolhe com os braços abertos, como um pai amoroso que reencontra um filho disperso, que em vez de castigo ou punições, ele festeja esse retorno entre abraços e beijos (cf. Lc 15,11-32). Sem merecer, Deus me ama e me busca com um amor infinito.

Santo Agostinho, assim como nós, experimentou uma vida dissoluta e devassa, em meio aos prazeres mundanos e satisfações de desejos carnais. Ele teve um maravilhoso encontro com esse Deus que ama apaixonadamente o homem e dessa maneira se expressou: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas de tuas criaturas. Estavas comigo e eu não estava contigo (…). Tu me chamaste e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhastes e tua luz afugentou minha cegueira (…). Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz”.

Deus, porque ama o ser humano, também deseja encontrá-lo e realizá-lo em seu amor. Por esse motivo, inúmeros na história da humanidade testemunham o autêntico valor de viver, que é a aventura de sentir-se amado por Deus, para amá-lo em todas as pessoas.

Cristo é a resposta

Convencer-se de que Deus nos ama não é uma dedução lógica nem uma descoberta científica, mas uma acolhida, por ação do Espírito Santo, do dom que é a vida de Jesus.

No Evangelho de João lemos: “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (3,16). A maneira de Deus nos amar pode ser percebida na história da humanidade, na sua relação com o ser humano, escolhendo um povo para fazer uma aliança, dando sua Lei e enviando profetas para nortear o povo. Entretanto, ele quis ser humano, assumiu nossa carne e viveu nossa vida amando até as últimas consequências, ensinando-nos que somos capazes de amar.

 

Na sua busca por felicidade e plenitude de vida, o homem encontra no mistério de Cristo a resposta para a sua grande interrogação existencial

A paixão e morte de Jesus Cristo é o ápice de sua vida terrena, assim como ele viveu, também morreu. Isto é, sua existência foi total doação de si mesmo por amor a Deus e ao ser humano e o Gólgota não constitui algo dissociado de sua vida, mas representa um coroamento daquilo que fora seus anos de anúncio do Reino de Deus, revelando Deus e o ser humano. Ao contemplarmos o crucificado, vemos além de uma pessoa derrotada, vemos a mais absurda prova de que Deus nos ama, “pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8).

Essa compreensão e acolhida do mistério da vida de Jesus só é possível por ação do Espírito Santo, que foi derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5). O Espírito Santo habita em nosso interior nos fazendo filhos de Deus pela Cruz de Cristo, por isso o chamamos de Pai (Rm 8,15; Gl 4,6) e proclamamos Jesus como Senhor (1Cor 12,3). O dom que o ressuscitado dá aos seus discípulos (cf. Jo 21,22-23), para que experimentem e testemunhem sua ressurreição, nos é dado para que também testemunhemos o irresistível amor com que Deus nos ama. Isso é a autorealização humana, compreende-se em Cristo, plenamente humano e divino, que nos revela a plenitude de ser humano itinerante para o divino.

Na sua busca por felicidade e plenitude de vida, o homem encontra no mistério de Cristo a resposta para a sua grande interrogação existencial. Mais que um evento histórico do passado, a paixão, morte e ressurreição de Jesus se tornam presentes no Espírito Santo, que é o amor de Deus presente nos corações, impulsionando o homem para meta da sua própria vida: a comunhão de amor com a Trindade. Respondendo ao apelo de amor que Deus nos faz em seu Filho, achamos a resposta para questão que nos ocupa toda a vida.

Que sejamos como aqueles primeiros discípulos, que ouviram o convite de Jesus: “Vinde e vede” (Jo 1,39). Vamos, vejamos e permaneçamos com ele a nossa vida, pois só nele encontramos sentido.

 

 

 

 

 

 

 

Pe. Marcus Mareano, NJ

Presbítero do Instituto Religioso Nova Jerusalém

Vigário paroquial da Paróquia São José, em Vespasiano

Doutorando em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia



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