“Prezado, estou muito surpreso. Ontem me contaram sobre o seu projeto, que não conhecia e nem sabia que você estava desenvolvendo. Compareça à minha sala amanhã 10h para falarmos sobre isso”. Assinado, “O Diretor”.
Pronto! Alguém comentou com o chefe sobre aquela sua ideia que é diferente de tudo o que a empresa faz. É uma quebra de paradigma. Seus colegas já haviam manifestado uma preocupação a respeito de você estar desenvolvendo um projeto em cima dela. Alguns chegaram a dizer que você ia “quebrar a cara”. E você, mesmo assim, tocou em frente, continuou conversando com pessoas, reunindo informações, montando suas planilhas e alinhando conclusões. E agora, o chefão ficou sabendo e você começa a temer pelo pior.
Pare para pensar e verifique: quantas vezes você interpretou de forma errada um e-mail? Quanto desentendimento, tensão, irritação, desperdício de tempo isso gerou? |
Você lê o e-mail umas cinquenta vezes e fica muito ansioso. Você o repassa a alguns colegas e pede a opinião da galera. Um deles responde com o desenho de uma forca. Outro sugere que você revise seu currículo, porque sua demissão, a esta altura, já deve até ter sido decidida. Outro sugere a reza de um “Pai Nosso”. E você nem dorme direito. Dá uma olhada em seu projeto e começa a ter milhões de dúvidas onde antes você só tinha brilhantes certezas.
Chega a hora da reunião. E acontece a surpresa: o diretor “a-do-rou” o projeto. “Era isso que eu queria, uma coisa diferente, algo que desse uma injeção de ânimo na turma toda, algo que mostrasse para as pessoas que a gente pode pensar fora da caixa. Vamos fazê-lo”, aprova ele, sem esconder a animação.
Hã? Como foi que você se enganou tanto com o e-mail do dia anterior. Depois que você o leu achou que encontraria um pelotão de fuzilamento na sala do diretor mas, de repente, você recebeu o OK que você tanto esperava.
Pare para pensar e verifique: quantas vezes você interpretou de forma errada um e-mail? Quanto desentendimento, tensão, irritação, desperdício de tempo isso gerou?
A conversa ao vivo, olho no olho, é diferente, permite aos interlocutores uma troca que vai além das simples palavras |
Hoje estamos nos comunicando muito por ferramentas de comunicação e conversando pouco com as pessoas. E-mail. WhatsApp. Inbox. SMS. Twitter. A lista é grande. E esses canais são irresistíveis. Eles nos dão praticidade, velocidade, alcance, interfaces, plataformas. Mas podem gerar enganos. Porque “lemos” um e-mail com a interpretação de nosso estado de espírito do momento, com nossos corações e mentes, cercados de nossos humores e anseios. E, além disso, nem sempre as pessoas escrevem tão bem quanto falam. O contrário é mais comum.
A conversa ao vivo, olho no olho, é diferente, permite aos interlocutores uma troca que vai além das simples palavras. Há o tom de voz, coisa que a linguagem escrita não transmite. A maneira de enfatizar a palavra aprofunda seu sentido. A forma de construir e declamar uma sentença amplia o entendimento das mensagens que ela contém. Os silêncios entre as frases permitem a assimilação das informações. Expressões faciais e maneirismos contribuem para “colorir” ou explicar uma ideia que, escrita, teria sido entendida de outra forma.
E, mais importante, na conversa pessoal há a interlocução, que faz do debate um instrumento de “negociação de ideias”, de pontos de vista, que potencializa todas as variáveis do entendimento. Nada substitui a boa e velha conversa face a face quando a necessidade é a de se comunicar bem e direito.
Temos de conversar mais.
Marco Piquini
ex-diretor de Comunicacao da Iveco para a América Latina
consultor e palestrante