Nesta caminhada que estamos fazendo, norteados pelos artigos publicados nas duas edições mais recentes do Jornal Opinião e Notícias, podemos perceber que o primeiro sinal da presença de Jesus no mundo, após sua ascensão, são as comunidades formadas por seus seguidores e seguidoras. Desde então, as comunidades continuam sendo e sempre serão sinais da presença viva e atuante de Jesus ressuscitado. Com a comunidade Lucana , não poderia ser diferente.
Mas quem é o evangelista Lucas? Lucas não pertenc do grupo dos 12. Mas foi companheiro de missão de Paulo. Lucas não conheceu Jesus, não caminhou com ele, mas aprendeu a amá-lo através dos ensinamentos de Paulo. E depois de ter feito a experiência com o Cristo ressuscitado, agora ele vai escrever sobre Jesus e sobre a caminhada dos Apóstolos, pois é atribuído a ele a redação do livro dos Atos dos Apóstolos.
A comunidade para a qual o evangelista Lucas escreve foi formada de cristãos que fizeram o processo de conversão diretamente do paganismo e não do judaísmo. Por isso não vamos encontrar em seu Evangelho muitas referencias sobre o Antigo Testamento. Os pagãos não tinham conhecimento da forma de vida dos judeus.
Como Jesus é apresentado pela evangelista Lucas?
Para a comunidade Lucana Jesus é o salvador da humanidade (2,11). Quando Jesus toma a decisão de ir para Jerusalém, no seu percurso ele vai construindo um verdadeiro caminho de salvação. Ele é o enviado para a missão salvífica. É o ungido pelo Espírito Santo. No caminho, o anúncio da Boa Nova acontece.
Lucas apresenta um Jesus amigo do povo, que revela em palavras e ações a face misericordiosa do Pai. Um Jesus que está sempre atento ao que acontece ao seu redor. Prontamente procura atender a todos que querem conversar com ele: os pobres, os pecadores, as mulheres, publicanos e os marginalizados.
O reconhecimento de Jesus como salvador acontece quando, ao se aproximar de Jerusalém, ele cura uma pessoa fisicamente cega e, entrando na casa de Zaqueu, vence a cegueira espiritual do chefe dos publicanos (18,35-43; 19,1-10). Depois, ao entrar em Jerusalém Jesus tem exaltado sua dignidade real: “Bendito o que vem, o Rei, em nome do Senhor. Paz no céu e glória no mais alto dos céus”(19,38).
Também são vários os relatos em que Lucas apresenta Jesus como o servo sofredor, o justo entre os iníquos. Jesus se mostra consciente da sua morte próxima, compreendendo que sua atuação, não muito agradável às autoridades judaicas, pode terminar tragicamente.
Jesus é também apresentado como o Filho de Deus. Ele não é somente o profeta escolhido e chamado à entrega total de si mesmo, mas é reconhecido como o Filho que tem uma relação especial com Deus. Jesus age inspirado pelo Espírito Santo e também reconhece o amor gratuito de Deus (20,21-22). No evento do Batismo e da transfiguração é a voz de Deus que qualifica Jesus como “o Filho bem-amado” e “o Filho eleito” (3,22; 9,35).
O evangelista Lucas ainda fala do Jesus orante. Ele tem uma profunda relação com o Pai, veio para realizar a vontade dele e ora em várias circunstancias: Jesus fez suas orações quando foi tentado no deserto, quando foi se preparar para sua missão (Lc 4,1-13), na escolha dos doze (Lc 6, 12-13), na transfiguração (Lc 9,28-31) e na cruz (Lc 23,24). Nesse sentido Jesus também nos convida a orar nas várias circunstancias de nossa vida e nos convoca para sermos misericordiosos assim como ele foi e continua sendo, pois ele vive no meio de nós, assim como o encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos: um Jesus como o Senhor ressuscitado, vivo e presente no meio das comunidades, pela força de seu Espírito.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora da Comissão
Bíblico-catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte