Em sintonia com a comunidade Mateana, convido você a refletir sobre o sentido de ser Igreja hoje. A exemplo daquela comunidade, também nós fomos convocados para o encontro com o Senhor Ressuscitado, e dele receber o seu ordenamento: “Ide e fazei com que todas as nações se tornem discípulas, e eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
Podemos dizer que a Igreja de Jesus apresentada por Mateus está centrada no discipulado daqueles e daquelas que são chamados a viver no tempo presente os ensinamentos do Mestre como se estivessem vivendo os tempos finais, do juízo.
Para Mateus não basta simplesmente a fé, é preciso coerência de vida. “Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que entrará no Reino, mas quem faz a vontade do Pai” (Mt 7,21).
A mensagem de Jesus é o Reino que Nele mesmo se torna presente e chega até nós. Embora seja inseparável da Igreja, o Reino transcende os limites visíveis dela; ele se realiza onde Deus está reinando pela graça e pelo amor, estabelecendo comunhão, mesmo no coração de quem se acha fora do ambiente perceptível da Igreja, conforme no diz as orientações da Catequese Renovada (CR, 204).
A Igreja no Evangelho de Mateus
Na parábola do joio e do trigo, Mateus tenta explicar como no Reino e na Igreja coexistem filhos e filhas do Reino e filhos e filhas da iniqüidade. Há que se esperar pacientemente o fim do mundo quando virá o Filho do Homem para separar uns dos outros |
A realidade da Igreja, na comunidade mateana se apresenta de forma complexa na pluralidade de suas imagens: ora se apresenta como rede lançada ao mar que acolhe uma diversidade de peixe (Mt 13,47-50); ora se assemelha ao campo de um pai de família, que plantou nele a boa semente e o inimigo foi lá e semeou o joio no mesmo campo. Ambas cresceram juntas e só no final se realiza a colheita (Mt 13, 24-43); ora é figurada com um grande banquete no qual nem todos se encontram vestidos adequadamente (Mt 22.1-14). Quando a comunidade se encontra nessa fragilidade, uma certeza se tem: Jesus assegura a sua presença (Mt 18,20), para que as mesmas possam realizar a sua missão de ensinar e observar tudo o que ele ensinou.
Jesus reafirma sua presença “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Ajuda as comunidades a saírem dos conflitos, a refazerem o caminho de aprofundamento da fé no Senhor que conduz a história. Aqui, Jesus é aquele que propõe a vida comunitária como uma das maneiras privilegiadas de manter firme sua memória-presença na caminhada do povo fiel. Jesus tem como objetivo mostrar o que acontecerá com o Reino dos céus.
No capítulo 13 Mateus apresenta um discurso onde Jesus, através de sete parábolas, apresenta a natureza surpreendente do Reino do céu.
Na parábola do joio e do trigo, Mateus tenta explicar como no Reino e na Igreja coexistem filhos e filhas do Reino e filhos e filhas da iniqüidade. Há que se esperar pacientemente o fim do mundo quando virá o Filho do Homem para separar uns dos outros. É o Reino do “já e ainda não”, ou seja, implantado o Reino dos céus, todos são convidados a participar. E, na caminhada, vão aprimorando o jeito de Jesus. Este poder de compreensão é dom de Deus dado à comunidade dos pobres e pequenos que assumem no dia-a-dia a prática de Jesus expressa nas Bem-aventuranças (Mt 5,3-12). Convivendo juntos, só no final dos tempos, se necessário haverá separação.
Para Mateus, a colheita abundante provém da vida dos discípulos e discípulas que partilham do caminho de Jesus e assimilam a proposta do Reino.
E como caminham as nossas comunidades hoje?
Palavras como: perdoai sempre, reuni-vos em meu nome, ide atrás da ovelha desgarrada, |
O Reino dos céus está aí com toda a sua potencialidade. As comunidades não podem desencorajar-se ante as dificuldades e diversidades. Todo aquele que se constitui discípulo e discípula de Jesus são desafiados pelo Mestre a compreender a profundidade da vontade do Pai, e o ápice do caminho do aprendizado será o amor. Este caminho será, sem dúvida, a participação no mistério da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Na construção do Reino é preciso ter paciência e esperar a hora certa para fazer o discernimento adequado. Viver como Jesus nos pediu e ordenou. Palavras como: perdoai sempre, reuni-vos em meu nome, ide atrás da ovelha desgarrada, tornai-vos como crianças, tende cuidado, purificai vossos corações, tendes confiança, dai-lhes vós mesmos de comer, todas fazem parte do cotidiano daquele que quer fazer o Reino acontecer.
A missão da comunidade é grande. Assumir o projeto de Jesus de construir o Reino de Justiça e Paz, na fraternidade e no amor, está se tornando cada vez mais difícil.
A cada tempo precisamos retomar. E hoje se apresenta o grande momento nas nossas comunidades: colocar em prática o projeto da V Assembleia do povo de Deus: “Proclamar a Palavra” caminhando lado a lado com as nossas Foranias, Regiões e a grande Arquidiocese Metropolitana.
Fica aqui o convite, a exemplo da comunidade de Mateus, que sejamos perseverantes na certeza de que somos muito amados por Deus. E Ele, que é Pai, tem cuidados maternais com as suas comunidades.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizonte.