Na celebração do Dia Mundial das Comunicações Sociais, no último domingo, 29 de maio, forças comunicativas da Igreja no Brasil assumiram três compromissos a partir do convite do Papa Francisco para “escutar com o ouvido do coração.” Sete grupos que reúnem profissionais e agentes de pastoral divulgaram carta aos comunicadores, na qual firmaram o compromisso de cultivar a escuta atenta, na sinodalidade e na política, motivando a vivência do “‘apostolado da escuta’ na comunicação”.
Assinam o documento os Jovens Conectados (Equipe de Comunicação da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB); o Ministério de Comunicação Social da Renovação Carismática Católica; a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB); a Comissão de Comunicação do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB); a Signis Brasil; a Pascom Brasil e a Assessoria de Comunicação e Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB.
Veja a carta aos comunicadores na íntegra: Para ler o PDF, clique aqui:
CARTA AOS COMUNICADORES
“Um coração que escuta” (1 Rs 3, 9)
Comunicadores e comunicadoras do Brasil,
Celebramos com grande alegria o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, na Solenidade da Ascensão do Senhor, neste ano, no dia 29 de maio. Esta data é um presente do Concílio Vaticano II, por meio do decreto Inter Mirifica, a toda a Igreja, especialmente a nós comunicadoras e comunicadores nas mais diversas frentes de trabalho. O Papa Francisco, deixa-nos na sua preciosa palavra, uma mensagem para que escutemos com “o ouvido do coração”, porque “a escuta é uma dimensão do amor”.
A comunicação é uma atividade que se confunde com o próprio existir. Sem ela não haveria a vida, começo de tudo e singular condição para se fazer qualquer coisa.
Este documento é resultado da escuta constante do apelo diário das pessoas que expressam o sofrimento que não é só deles, mas nosso também. É um grito em meio à fadiga do excesso das informações e do bombardeio de notícias, inclusive as falsas e as espetacularizadas. Conforme o Papa Francisco, nesta realidade, a comunicação não é uma teoria nem uma técnica, mas a “capacidade do coração que torna possível a proximidade”.
Nosso querido Papa nos conclama, então, a “escutar com o ouvido do coração”, fato que deve nos levar a repensar a maneira como nós comunicadores e comunicadoras estamos agindo. Se não escutarmos, não teremos a capacidade de apresentar as nossas impressões, muito menos de contar as histórias com a precisão que o fato merece. Estaremos, ainda, oferecendo ao outro uma escuta que talvez não seja verdadeira ou seja incompleta. Neste ciclo vicioso vamos contribuindo para a construção de um mundo diferente daquele de que precisamos. Uma escuta equivocada, sem compromisso e sem amor pode provocar reações que não condizem com o bem e com a justiça.
Na sua mensagem, o Papa Francisco lembra que ouvidos, todos temos; “mas muitas vezes, mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o outro. Pois existe uma surdez interior, pior do que a física. De fato, a escuta não tem a ver apenas com o sentido do ouvido, mas com a pessoa toda. A verdadeira sede da escuta é o coração”, que torna possível a proximidade.
Diferentemente do que temos assistido crescer no seio da sociedade, é preciso abrir o coração para dar espaço para o outro se aproximar e comunicar. Não são raras as vezes que ouvimos, mas o fazemos apenas com os ouvidos do corpo, pois o que vale não é a interação, mas a persuasão daquele que tenta falar. Afinal, vale mais o que se pensa do que o que o outro tem a dizer. Antes de escutar, é preciso nos despirmos dos sentimentos e preconceitos já arraigados na mente. E isso só é possível escutando-nos a nós mesmos.
Conscientes de tudo isso e motivados pela celebração do 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, nós, forças comunicativas da Igreja no Brasil, assumimos, juntos, três compromissos:
- CULTIVAR A ESCUTA ATENTA
Queremos ouvir com o ouvido do coração, de forma atenta, sensível e crítica as “eternas questões do homem que testemunham o seu desejo de transcendência e o anseio por formas de vida autêntica, digna de ser vivida” (Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, n. 187). Porque como diz o Papa Francisco: “a escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação”.- NA SINODALIDADE
Queremos contribuir de forma sinodal para “construir uma Igreja sinfônica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe”, como nos ensina o Papa Francisco.- NA POLÍTICA
Queremos ouvir, neste ano de eleições, as propostas dos candidatos de modo que nossos sentidos despertem para o voto consciente e comprometido, na certeza de que a política “é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Evangelii Gaudium, n. 205).Impulsionados pelo Evangelho de Jesus Cristo, vivamos o “apostolado da escuta” na comunicação.
Ascensão do Senhor, 29 de maio de 2022