A missão que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude.
Deus é amor. Afirma-o, pela primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João, em sua primeira carta (1Jo 4,8.16).
A pessoa de Jesus não é senão amor, amor gratuito. O seu relacionamento com as pessoas que se aproximam dele manifesta algo de único, maravilhoso. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, acontecem na profundidade da sua misericórdia. Diz o Papa Francisco que “…tudo acontece em uma realidade concreta, na qual se realiza o verdadeiro amor de Deus, um amor visceral. Um amor que provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão”.
Todo esse amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. Tudo nele fala de misericórdia. O seu agir foi cheio de misericórdia. E ele está a nos convidar a sempre viver de misericórdia e a agir com misericórdia para com todos. E isto porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. Jesus nos colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Assim é Deus para conosco. Ele deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheio de alegria. Nesse sentido, somos também chamados e orientados para viver essa misericórdia sendo misericordiosos uns para com os outros.
O que podemos afirmar ser “misericórdia”. Ela é um sentimento de compaixão. É uma palavra de origem latina, formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). Ter compaixão no coração. Ter compaixão significa um coração capaz de sentir aquilo que a outra pessoa sente. Assim, praticar a misericórdia é ser capaz de colocar o coração na miséria do outro e, juntos, compartilhar da mesma dor.
Há uma urgência de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo de hoje. Nesses novos tempos em que a Igreja se encontra comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia se torna determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio.
Quando olhamos para o mundo com os olhos de Jesus, passamos a perceber que as exigências da vida cristã nos chegam com mais leveza, pois passamos a realizá-las com o mesmo amor que Jesus realizou seus ensinamentos. Da mesma forma que Jesus encontro no Abba (paizinho querido) uma fonte inesgotável de amor e de sentido, porque colocava todas as suas ações voltadas para o projeto salvífico do Pai, assim também nós podemos colocar Jesus mais próximo de nós, procurando ser exemplo “ao vivo” de seguidor de Jesus Cristo. Uma pessoa comprometida com a prática da vida cristã. Ser alguém íntegro, justo, solidário, de bem com a vida, alegre, cuidador da dignidade da vida e participante da vida concreta de sua comunidade de fé.
Na prática dessa vivência fazemos a experiência do amor de Deus. Uma experiência que nos leva para o conhecimento de Deus, para ser iniciado no “Mistério”. A gente só se conhece quando se reconhece amado.
Deus nos amou primeiro. E a experiência de ser amado por Deus modifica a vida. Todo esse amor de Deus foi plenamente revelado em Jesus Cristo. E todos nós somos chamados a fazer essa experiência de amor com Jesus para, na prática de nossa missão, promover o Encontro com aquele que é a verdadeira alegria da nossa vida. A missão é o critério para verificar a verdade dessa experiência, uma vez que a missão emana da experiência profunda do Amor de Deus.
Como diz a primeira carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus”. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor (1Jo 4,7-8). Deus é amor e podemos conhecê-lo na prática do amor. E quem nos ajuda a viver esse amor é Jesus Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH