Em 28 de novembro de 2015, realizou-se na PUC Minas o 3º Encontro Arquidiocesano de Fé e Política. Naquela ocasião, após diversas explanações sobre o contexto sociopolítico brasileiro à luz das propostas do Papa Francisco, os participantes reuniram-se em grupos de discussão visando ao debate sobre os desafios para a formação, a organização e a ação de grupos de fé e política atuantes na Arquidiocese de Belo Horizonte.
Ao final, os resultados dos trabalhos foram apresentados ao plenário. Esse material foi posteriormente organizado e categorizado, na forma como se apresenta a seguir, de modo a contemplar o conjunto de ideias, experiências e sugestões apresentadas pelos grupos, incluindo tanto posições convergentes quanto contraditórias.
Espera-se que este documento sirva como estímulo à reflexão e ao aprofundamento sobre cada uma das questões levantadas, e que inspire os grupos e outros coletivos de fé e política em suas próprias decisões de encaminhamento.
A – Formação
1. Temas a serem trabalhados
Segurança pública, violência, assassinatos (homicídio, trânsito); reforma urbana (habitação, concentração fundiária, precarização, expulsão dos pobres, mobilidade urbana, transporte como direito e tarifa de transporte); reforma do Judiciário; auditoria cidadã da dívida, sistema financeiro global de exploração; barragens, em especial de rejeitos de mineração, com destaque para o projeto de construção de uma barragem em Rio Acima que afetaria toda a região metropolitana.
2. Conhecer e aprofundar as orientações do Papa
Estudo da carta dos movimentos populares na Bolívia e do discurso do Papa aos movimentos populares em Roma e na Bolívia. Promoção de um encontro arquidiocesano preparatório ao Encontro Brasileiro dos Movimentos Populares, em diálogo com o Papa Francisco.
3. Formar novas lideranças
Incentivar o protagonismo leigo, na perspectiva de que sejam agentes de mudança; oferecer formação especializada tendo em vista uma atuação mais eficaz.
4. Resgatar a memória de grupos de luta da Igreja Católica
5. Promover formação continuada com estímulo à participação dos jovens. Promover o protagonismo jovem e sua atuação em suas comunidades e no mundo.
6. Fazer uso de ferramentas virtuais, tais como vídeos e redes sociais e outras mais.
B – Atuar na Igreja, para atuar na sociedade
7. Incidir na formação dos seminaristas a partir da perspectiva do Papa Francisco, com ênfase em temas sociais e políticos.
8. Atuar segundo a estrutura da Arquidiocese (regiões, foranias, paróquias) visando descentralizar e fortalecer os grupos. Estimular o trabalho dos grupos observando que não se mantenham vinculados exclusivamente à Igreja. Atuar no âmbito das paróquias e foranias buscando mobilizar a própria comunidade. Estimular a formação de grupos de modo que cada paróquia venha a ter um grupo de fé e política, conforme proposto na APD.
9. Ocupar os espaços institucionais da Igreja (paróquias, foranias e regiões), participando, por exemplo, do Conselho Pastoral Paroquial e do Setor Social e Político das regiões.
10. Estimular a criação em cada paróquia de um Núcleo de Acolhida e Articulação da Solidariedade Paroquial (NAASP).
11. Promover e ampliar os trabalhos que já existem, em âmbito paroquial, e também arquidiocesano, tais como a Casa de Apoio Nossa Senhora da Conceição, que acolhe moradores de rua e portadores de HIV.
12. Trabalhar os temas políticos e sociais nas escolas católicas, buscando estimular o jovem como ser social e político, que não tenha medo de professar sua fé e saiba se posicionar em relação aos problemas sociais e políticos.
13. Participar da V Assembleia do Povo de Deus (V APD), buscando fortalecer a articulação do setor social e político; aprofundar uma cultura sociopolítica que se torne uma agenda arquidiocesana; articular as várias agendas.
C – Comunicação e ação
14. Descentralizar informações e fortalecer comunicação alternativa, de modo a contribuir para romper o bloqueio da mídia. Estimular meios alternativos, apoiar o jornal Brasil de Fato (socializar formas de acesso ao jornal), e criar canais de apoio. Buscar fazer com que as informações cheguem não somente aos grupos e lideranças, mas a toda a comunidade.
15. Construir e fortalecer redes virtuais (internet) entre grupos, movimentos e paroquias. Utilizar as rádios da internet.
16. Fortalecer a comunicação nas paróquias, buscando uma comunicação motivadora e envolvente.
17. Fortalecer as semanas sociais nas paróquias, principalmente naquelas onde não há grupo de fé e política.
D – Organização e ação
18. Oferecer apoio e orientação sobre como construir grupos de fé e política.
19. Atuar conforme o tripé “organização, formação e luta”.
20. Atuar em rede. Romper as estruturas dos grupos isolados e atuar articuladamente, contribuindo para que a articulação política promova coesão, capacidade de planejamento e efetividade na ação, criando um calendário de eventos comuns, com articulação a partir de temas.
21. Participar de redes amplas que incluam órgãos municipais, integrando comissões locais; articular-se com centros de saúde e demais órgãos públicos da região, igrejas, associações comunitárias, CEBI, círculos bíblicos, Pastoral da Juventude, pastorais sociais, Pastoral da Catequese, escolas e comércio da região.
22. Contribuir para a unidade dos movimentos populares.
23. Estimular os grupos para que atuem articulados, de forma ecumênica e inter-religiosa.
24. Trabalhar na perspectiva da diversidade, visando ao fortalecimento das mulheres, ao envolvimento de diferentes etnias, dos indígenas, ciganos, afrodescendentes e quilombolas presentes nos municípios que integram a Arquidiocese de Belo Horizonte.
25. Trabalhar o termo “política”, para vencer resistências. Desconstruir a associação da política com práticas de ódio e reconstruir a ideia de política como ação com vistas ao bem comum.
26. Driblar a resistência das pessoas ao termo política, fazendo uso do termo Fé e Vida, Fé e Cidadania, Justiça e Fé, Fé e Compromisso.
27. Trabalhar com o olhar voltado para o bairro, para solução dos problemas locais, começando pelas comunidades; articular-se com as associações de bairro; fortalecer a concepção de fé e política na vida comunitária.
28. Que as bases envolvam os padres em suas ações de modo a estimular o comprometimento deles com questões sociais. Incentivar os párocos para que abordem questões sociais e políticas nas homilias.
29. Trabalhar iniciativas e grupos específicos com juventude e adolescentes.
30. Realizar uma semana de fé e política na Arquidiocese.
31. Fortalecer a luta pela Reforma Política, promovendo assembleias populares, tal qual proposto pela Campanha Nacional de Luta pela Constituinte Exclusiva; realizar encontro específico dos grupos de fé e política para traçar metas.
32. Estimular um encontro com todas as pastorais da Igreja visando a maior conscientização social e a união de esforços e práticas entre os movimentos e pastorais.
33. Envolvimento pessoal nas agendas e lutas dos vários coletivos, a exemplo da Coalizão para a Reforma Política, o Fórum Nacional pela Democratização dos Meios de Comunicação, a Campanha pela Reforma Política via uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político, a luta pela reforma do judiciário, os movimentos de moradia, etc.
34. Para o próximo encontro arquidiocesano de fé e política, trabalhar nos grupos por temas; propor posições divergentes na composição das mesas; melhorar a divulgação dos encontros nas casas parlamentares.
35. Realizar o Encontro Estadual do Movimento Mineiro de Fé e Política em setembro de 2016, em parceria com as CEBs; participar dos encontros preparatórios, incluindo o tema fé e política nos encontros de CEBs.
36. Participar do 10a Encontro Nacional de Fé e Política, em Campina Grande (PB), de 22 a 24 de abril de 2016.
E – Políticas públicas e atuação na institucionalidade
37. Estimular a construção de um projeto político a partir das bases para pautar as eleições de 2016. Atuar de modo independente dos poderes públicos.
38. Criar rede dos parlamentares e executivos eleitos com compromisso com fé e política, para partilha de experiência, em âmbito forâneo, regional e arquidiocesano.
39. Que os políticos sejam chamados, independentemente de partido, a prestar contas, participar de debates, apresentar projetos, alimentando o diálogo.
40. Que os grupos procurem conhecer os candidatos e que façam o estudo cuidadoso dos projetos ou programas deles, recomendando aqueles que se mostram comprometidos com os projetos de interesse social, sem, no entanto, “fechar” em um nome.
41. Promover ações articuladas para fortalecimento das políticas públicas.
42. Promover a formação e a articulação de conselheiros.