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Cidade Terrestre e Cidade Santa

 

O homem moderno carrega uma consciência crítica no âmbito da religião; aos olhos dele a religião é responsável pela alienação secular do homem. Para muitos o caminho da fé leva a favorecer a ordem estabelecida, e infantiliza os menos favorecidos com a ideia de um Deus que resolve tudo. Bem compreendido, o cristianismo escapa a esta crítica.  O cristianismo não pode e nem deve ser lugar de alienação, pois o convite que o próprio Cristo faz a cada homem é que sejamos luz e verdade no coração da humanidade. E o homem só conseguiria ser sal e luz quando despertar a consciência de que foi gerado em Deus para anunciar o seu reino.

No entanto, permanece uma questão: o que entendemos por reino de Deus e reino da terra? A maneira como encaramos estas duas realidades é que nos coloca longe do verdadeiro entendimento. Queremos um reino da terra, mas não queremos abrir mão de muitas coisas que nos escravizam nesse reino, enquanto na Palavra ouvimos “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem sobre a terra” (Gn 1,28). É o chamado de Deus que nos quer livres e que respeita sua criatura dando a ela o livre arbítrio. Mas a condição do pecado levou o homem a dispersar-se dentro do mundo e, consequentemente, o homem deixou de ser, na ordem divina, um cooperador na realização da obra criadora. E assim assistimos a um mundo que talvez saiba construir um mundo dentro de sua própria vontade e esquece que a vontade de Deus também deve perpassar essas duas realidades: a cidade terrestre e a cidade de Deus.
    

 

O cristianismo bem compreendido nunca deve ser lugar de alienação e sim lugar de ressurreição, e essa ressurreição deve atingir o homem naquilo que constitui o o centro de sua existência, a saber, a própria promoção humana

 

Se revisitarmos constantemente a Palavra de Deus, veremos que Jesus soube construir estas duas realidades sem perder a referência que vinha do coração do Pai. Pelo seu jeito de ser e agir Ele revela e realiza em si todos os dados da vocação integral do homem. O significativo é que Ele, sendo o Filho do homem, se integra dentro da família humana e chama todos os outros homens a ser nele uma pertença verdadeira ao projeto de Deus. Ele viveu a cidade terrestre, mas trouxe consigo também a cidade divina; ao intervir na história humana Ele trouxe o principio vivo de sua fecundidade e promoveu o homem dentro de sua dignidade humana.  Assim, o cristianismo bem compreendido nunca deve ser lugar de alienação e sim lugar de ressurreição, e esta ressurreição deve atingir o homem naquilo que constitui o pino do centro de sua existência, a saber, a própria promoção humana.

E essa promoção humana só acontecerá, verdadeiramente, quando o homem descobrir que ele sozinho pode até fazer muitas coisas, mas que sem a ordem da fé irá assistir à destruição das coisas que foram feitas pelo criador.

Para ver com os olhos de Cristo será preciso que os homens encontrem sua essência na Palavra daquele que soube construir as duas cidades na obediência e na realeza que recebeu na força do batismo. Portanto que o Espírito ilumine os olhos de nosso coração, para vermos com os olhos de Cristo.

 

Pe. Joacir Alves Antunes
Pároco da Paróquia Cristo Redentor

 



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