“Mesmo na época em que fiquei perdido, sem uma luz, sempre trabalhava, mas foi o Centro Pop que resgatou a minha dignidade. Hoje consigo ser valorizado pelo meu trabalho” (Nélson dos Santos Pereira, 63 anos, que durante cinco anos viveu nas ruas da cidade)
Reconstruir a história e proporcionar mais qualidade de vida para pessoas em situação de rua. Esses são os objetivos principais do Centro Pop, localizado na região central de Belo Horizonte, no Barro Preto. O serviço é desenvolvido pelo Vicariato Episcopal para Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo Horizonte em parceria com o poder público.
O Centro Pop oferece um espaço para que homens e mulheres em situação de rua possam cuidar da higiene pessoal – tomar banho, lavar roupas e guardar os seus pertences. São promovidas atividades socioeducativas que possibilitam a inserção dos moradores em situação de rua no cenário sociopolítico e cultural da cidade. Há oficinas de ambientação, de criação, de esportes, de música, de capoeira e de vídeo comentado. Diariamente, o Centro Pop oferece refeições.
Ao ir ao Centro pela primeira vez, a pessoa em situação de rua é cadastrada e o educador social que o acolhe procura conhecer sua história, o motivo que o trouxe para as ruas e busca identificar como o Centro pode ser útil a essa pessoa. “O Centro é de fundamental importância por ser local onde a população em situação de rua sabe que poderá ser acolhida de maneira humanizada e ética. Um serviço que supre demandas reais e urgentes, mas que também procura incentivar e possibilitar novas conquistas a essas pessoas tão vulneráveis socialmente”, diz o coordenador da Instituição, Aluizio Geraldo de Carvalho Guimarães.
O Centro Pop realizou 25.657 atendimentos em 2015, ajudando pessoas que vivem nas ruas da cidade |
Maçariqueiro da construção pesada, Nélson dos Santos Pereira, 63 anos, depois de se desentender com a família e sair de casa na Bahia, passou 5 anos na rua, em várias cidades do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Período em que se entregou ao vício do álcool. Bebia até dez doses de cachaça por dia. Abandonou a profissão porque empresas não o contratavam por não ter um endereço fixo.
Chegou a Belo Horizonte em 2006 e, no ano seguinte, conheceu o Centro Pop. Depois de fazer uma oficina de mosaicos tornou-se um exímio artesão. “Depois que fiz a primeira peça tive a certeza de que levava jeito para o ofício”, explica o hoje artesão. Desde que começou a fazer os mosaicos, tipo de artesanato que usa peças coloridas para formar figuras, já vendeu mais de 150 unidades. O preço varia de R$ 80,00 a R$ 120,00.
Parte do dinheiro arrecadado é reinvestido em materiais. Com o valor aferido com o trabalho, o artesão Nélson Pereira hoje consegue pagar o aluguel de uma moradia própria. “Mesmo na época em que fiquei perdido, sem uma luz, sempre trabalhava, mas foi o Centro Pop que resgatou a minha dignidade. Hoje consigo ser valorizado pelo meu trabalho.”
O resgate da dignidade e da cidadania
Hoje funcionária do Centro Pop, Luciana Silva Nascimento, 34 anos, teve uma mudança radical de comportamento. “Há dois anos, eu vivia como um zumbi, misturando o dia com a noite e me entregando ao vício das drogas.” Nesse período Luciana experimentou tíner, crack e muito álcool. Chegou a misturar refrigerante com álcool que comprova em posto de combustível. “Estava totalmente perdida. Nesse período estava no fundo do poço.” Mãe de quatro filhos, ela engravidou pela primeira vez aos 15 anos.
Depois que começou a frequentar o Centro Pop e pela sua habilidade em serviços gerais, ela foi contratada pelo programa. “Fiz várias oficinas, como mosaico, criação artística, ambientação, serviços gerais e tive um bom desempenho, melhorei muito nos últimos meses.” Atualmente, Luciana está tentando mudar a vida do filho mais velho, que tem 19 anos, voltou a morar com ela e é usuário de drogas. “Tenho dado bons conselhos. Não quero que ele siga pelo mau caminho por onde eu passei. O Centro Pop me deu essa nova oportunidade de melhorar a minha vida e não pretendo desperdiçá-la.”
De acordo com Aluízio Guimarães, o programa, além de resgatar a identidade das pessoas, fortalece a autoestima delas. “Aqui eles têm um endereço fixo, recebem contatos para o trabalho. Alguns têm conseguido receber familiares. A perspectiva de mudança se torna uma realidade”, diz o coordenador.