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Catequese com inspiração catecumenal (2)

O catecumenato, processo catequético de iniciação dos primeiros séculos, na sua época, foi  uma verdadeira escola de fé. Ele oferece  um modelo de catequese que se apresenta num modo especial e significativo de fazer a iniciação cristã. Primeiramente para os adultos não cristãos, a catequese traz um sentido de instrução. A novidade é ser apresentada por etapas,  estar relacionada com o ano litúrgico e apoiada nas celebrações da Palavra.

Um segundo meio é a própria prática da vida cristã. O catecumenato oferece uma formação compreendida num itinerário espiritual de passagem do velho homem para o novo, que tem sua perfeição em Cristo, uma progressiva mudança de mentalidade e costumes, com suas consequências sociais.

O terceiro meio de formação na fé é a própria participação litúrgica. Devem ser realizadas  celebrações  da Palavra, como também os catecúmenos devem participar da vida litúrgica na comunidade. Nesse sentido, os catequistas da iniciação cristã são também ministros da oração e ministros da celebração da Palavra de Deus.

Todo o itinerário da iniciação cristã deve ser iluminado pelo princípio da interação fé e vida, garantindo que a opção preferencial de Jesus Cristo  pelos pobres e marginalizados seja sempre atualizada e assumida no testemunho cristão

Hoje o catecumenato é proposto pela Igreja como modelo, pelo fato de apresentar elementos importantes que, adaptados à nossa realidade, podem contribuir na elaboração de itinerários próprios para cada contexto atual. Ele deverá ser visto com inspiração. A proposta do Estudo 97 da CNBB nos diz ser o modelo catecumenal, não um projeto fechado, para ser seguido ao pé da letra em todas as situações, mas para ser adaptado às realidades.  Daí a importância de encontrar no catecumenato elementos essenciais que sejam iluminadores de novos itinerários que, juntamente com as experiências já bastante ricas que temos, podem  nos ajudar na construção de um estilo iniciático para o processo de educação da fé.

Vários são os elementos do catecumenato batismal que devem ser fonte de inspiração  para a catequese pós-batismal.

1.    Recorda constantemente a toda a Igreja a importância da função de iniciação, com os fatores básicos que a constituem: a catequese e os sacramentos correspondentes; Trabalhar a importância da unidade dos três sacramentos de iniciação, dentro de  um processo evangelizador que leve a um experiência de encontro pessoal com Jesus, o Cristo.

2.    É responsabilidade de toda comunidade cristã. A instituição catecumenal acrescenta na Igreja a consciência de sua função maternal; A comunidade é também fonte, conteúdo, agente e ponto de chegada do cristão iniciado e maduro no testemunho cristão. É a comunidade que acolhe, motiva e testemunha a fé no dia-a-dia da vida dos iniciandos.

3.    Está impregnado pelo mistério da Páscoa de Cristo, centro da mensagem cristã; O Diretório Nacional de Catequese nos diz  que a catequese, ao apresentar a mensagem cristã, não apenas mostra que é Deus e qual é o seu designo salvífico, mas como o próprio Jesus fez, revela também o homem ao homem, e lhe descobre a sua vocação. O mistério de Cristo anunciado na catequese é o mesmo que é celebrado na liturgia para ser vivido.

4.    É lugar inicial de inculturação, em que os catecúmenos são acolhidos integralmente, com seus vínculos culturais. A comunidade eclesial é fator principal de inculturação e a catequese tem de procurar conhecer as culturas e as suas componentes essenciais; aprender as suas expressões mais significativas, deve saber respeitar os seus valores e riquezas próprias.

5.    Proporciona à catequese pós-batismal dinâmica e características configuradoras: a intensidade e a integridade da formação; seu caráter gradual, com etapas definidas; sua vinculação a ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos; sua referência constante à comunidade cristã. O jeito de celebrar, os elementos simbólicos e rituais, a Palavra e as boas homilias formam eficazmente o cristão. As celebrações ajudam os catecúmenos a gravar no coração os ensinamentos recebidos em relação aos mistérios de Cristo e a maneira de viver conforme os ensinamentos evangélicos. Mas para que assim aconteça, a catequese deve ser apresentada no sentido mistagógica.. A palavra “mistagogia” significa guiar, conduzir para dentro do mistério. Ela nos leva a uma conversão da interioridade, uma adesão existencial à pessoa de Jesus Cristo.

6.    Outro elemento importante é o envolvimento das famílias do iniciando. A vida familiar deve tornar-se um itinerário de educação da fé. Os pais cristãos devem esforçar-se para retomar no ambiente familiar a formação que recebem de fora e podem constituir-se em itinerário de educação da fé. O futuro da evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica.

7.    Uma catequese na sua dimensão sóciotransformadora. Todo o itinerário da iniciação cristã deve ser iluminado pelo princípio da interação fé e vida, garantindo que a opção preferencial de Jesus Cristo  pelos pobres e marginalizados seja sempre atualizada e assumida no testemunho cristão. O desejo de levar a sério o processo de iniciação e de ter cristãos  comprometidos e imersos nas grandezas do mistério da fé pode levar a Igreja a um processo de inclusão  e acolhimento de todos aqueles que precisam e tem direito de se sentirem amados por Deus.

Pensar no resgate de todos esses elementos  para a construção de um processo itinerante de educação da fé, só pode acontecer a partir de uma correspondente preparação e contínua reflexão e revisão de vida de todos os catequistas, agentes de pastoras e a comunidade como um todo.

Descobrir o mistério da pessoa de Jesus Cristo e os mistérios do Reino, assumir compromissos, viver a espiritualidade requerida pela moral cristã são realidades  muito exigentes que exigem uma verdadeira conversão no caminhar do cotidiano.

Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico-catequética
da Arquidiocese de Belo Horizonte.



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