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Breve história dos livros litúrgicos – Padre Márcio Pimentel, Paróquia São Sebastião e São Vicente

Os primeiros escritos que apontavam um Ordo para a celebrações litúrgicas surgiram entre os séculos IV e V. Um exemplo antigo é do Papiro de Der Baliseh, que nos apresenta a liturgia tal qual era celebrada no Alto Egito no século IV. O fragmento encontrado registra uma Oração Eucarística, onde encontramos uma aclamação do povo após a narrativa da instituição: “Anunciamos a tua morte, proclamamos tua ressurreição e oramos…”. Também os chamados libelli utilizados nas celebrações são de grande importância no desenvolvimento da liturgia e para o surgimento dos livros litúrgicos propriamente ditos. Aqui temos o começo do que se denominou mais tarde ‘liturgia romana’. Neunheuser chama esta época de “época da liturgia romana pura”. Este período pode ser delineado a partir da criatividade eucológica e da organização interna da celebração.

Um fato de grande importância para o florescimento da liturgia romana foi a passagem do grego ao latim. Já no século III, Orígenes atesta o fato de ser muito natural o fato cada povo rezar a Deus em sua própria língua. A mudança do grego para o latim foi dando-se paulatinamente. Uma vez que a liturgia é a ação de um povo vivo, nada mais lógico do que se questionar sobre a língua com a qual se devia celebrar. Sob a autoridade do Papa Dâmaso, no século IV, o latim foi instituído como língua litúrgica. Ainda que parecesse um idioma artificioso, porque não correspondia ao modo coloquial do falar cotidiano (métrica, acentuação, vocabulário, etc) se pode entrever uma tentativa de fazer notar a importância da compreensão da comunidade ao celebrar, para que pudesse melhor participar dos ritos. A questão ligada ao uso da língua vernácula na liturgia – no âmbito católico romano – será debatida em várias ocasiões. Às vésperas do Concílio Lateranense V, dois monges camaldolenses apresentarão ao Papa Leão X o pedido para que se insira a língua popular na liturgia para que o povo melhor participasse e fosse educado pelos mistérios que celebrava. O Concílio de Trento compreende a importância de se explicar a celebração dos mistérios durante os mesmos, uma vez que optou por não inserir a língua vernácula.Uma questão que somente viria a ser  resolvida com o Concílio Vaticano II e sobretudo com a reforma que dele se origina.

Sobre os libelli, sabe-se que surgem entre os séculos IV e V e trazem consigo coletâneas de orações que, mais tarde, serão compiladas no Sacramentário Veronense (século VI). Daí para a frente surgirão outros “livros”, chamados também mais apropriadamente de Sacramentários, porque oferecem uma organização mais precisa das celebrações, no que se refere tanto aos textos eucológicos fixos e móveis, quando à designação das funções. São eles, o Sacramentário Gregoriano e o Sacramentário Gelasiano (século VII). Um pouquinho depois, começam a surgir os Ordines, que apontam a gestualidade e ações litúrgicas propriamente ditas. Trata-se de codificações que visavam facilitar o desenrolar das celebrações, de modo que as ações rituais se dessem ordenadamente. Temos assim, livros com as orações (Sacramentários) e livro com as instruções para a ação (Ordines). Quando surge o Pontifical romano-germânico é que se dá a fusão de ambos tipos de escrito em um livro só. Havia também os livros em que se elencavam e organizavam os cânticos litúrgicos (Cantatorium antiphonarium e Graduale), bem como aqueles destinados às leituras bíblicas, chamados de Lecionários e Evangeliários. À esta etapa, sucede a organização do que se designou “Missal Plenário” ou “Missais da Cúria (século XIII)”, contendo todos os elementos compilados em uma só obra.

 

 

 

 

 

Padre Márcio Pimentel é especialista em Liturgia pela PUC-SP e mestrando
em Teologia na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje / Capes)
Paróquia São Sebastião e São Vicente

1 Antologia Litúrgica: textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 567.
2 NEUNHEUSER, Burkhard. História da Liturgia através das épocas culturais. São Paulo: Loyola, 2007, p.101s.
3 Cf. ORÍGENES. Contra Celso, Livro VIII, 37. In. Antologia Litúrgica: textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 269.
4 Cf. GERHARDS, Albert. KRANEMANN, Benedickt. Introdução à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2012, p. 233s.
5 Cf. LARMERI, Angelo. Alla ricerca del fondamento teológico dela partecipazione ativa alla liturgia. Il dibattio nella comissione litúrgica preparatória del Concilio Vaticano II. Roma: Edizioni LIturgiche, 2016, p. 9.
6 Cf. PIO IV. Concílio de Trento, 22ª Sessão, Doutrina e Cânones sobre o sacrifício da Missa, cap. 8. In. DENZINGER-HÜNERMAN. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas-Loyola, 2007, p. 449.
7 Cf. GERHARDS, Albert. KRANEMANN, Benedickt. Introdução à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2012, p. 92s.289-290.

 



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