Várias são as imagens distorcidas de Deus no meio de nós: pecados, sofrimentos, doenças, desastres e infortúnios da vida são vistos como castigo de Deus, cobranças pelas nossas desobediências. Por outro lado, aqueles que se encontram bem, com saúde e conseguem ser bem sucedidos na vida são vistos como os que foram recompensados por terem sido “bonzinhos”. Essa visão leva a pensar que a relação com Deus se baseia na troca de favores ou no mérito pessoal. O amor de Deus, dessa forma, é visto como prêmio.
Forte no meio de nós é, ainda, a falsa imagem do Deus da prosperidade. Na teologia da prosperidade a pobreza, miséria e faltas de recursos são vistas como maldição. Os adeptos desse conceito acabam por concluir que a pessoa pobre o é, por ser preguiçosa e não trabalhar. A prosperidade é vista como um amontoado de bens materiais, e a graça de Deus só acontece quando tudo está bem. Assim rezam e pedem bênçãos a Deus para obter o que desejam. A oração também é usada de modo pragmático quando espera-se que sirva para exorcizar o mal (demônio) que atrapalha a as conquistas materiais.
Sabemos que o sofrimento e as doenças são consequências do modo de vida que levamos, das injustiças praticadas. Nós produzimos os males e isso não é agradável a Deus. Ele não abandona os pobres e sofredores, pelo contrário, os trata preferencialmente. É por meio deles que Deus procura construir uma sociedade mais justa, pois os excluídos são os mais injustiçados.
Muitas imagens distorcidas de Deus fazem parte do imaginário do povo. Ainda continua-se acreditando no Deus da sorte, da predestinação, da prosperidade, da retribuição. Temos muito que aprender para perceber a gratuidade de Deus. O que fazemos aqui neste mundo não é para depois do feito merecermos o seu amor. É porque já o temos e somos sempre impulsionados, por esse amor gratuito, a cuidar das coisas criadas por Ele e por todos os seres humanos, criaturas criadas para o amor.
O amor de Deus ofertado a nós é Dom, e como todo Dom, precisa ser trabalhado e educado para colocá-lo em prática. Jesus, ao se fazer presente no meio de nós, revelando-nos o amor de Deus, nos ensina a viver esse amor.
Ainda temos muito a caminhar. Compreender a gratuidade de Deus e deixar se envolver por ela, buscar compreender a relação entre Deus e o ser humano, ou seja, o que é próprio de Deus e o que é próprio do homem nas relações. Somos chamados a trabalhar as relações entre nós e Deus e entre todos nós de forma fraterna e reconstruir uma nova mentalidade que nos leve a perceber o Deus da Graça e da Misericórdia.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana
Bíblico-Catequética de BH