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As antífonas do Ó no Tempo do Advento

O tempo do Advento conta com especiais composições literárias e musicais chamadas de “antífonas maiores”, ou “antífonas do ó”. Elas compõem o Ofício de Vésperas do dia 17 ao dia 23 de dezembro, introduzindo e encerrando o Cântico da Virgem Maria. São introduzidas pela interjeição “Ó” que conota a admiração da Igreja pelo mistério de Cristo que vem ao encontro do seu povo no seu Natal. Cada antífona é estruturada com um título cristológico (Sabedoria, Adonai, Raiz de Jessé, Chave de Davi, Sol oriente, Rei das nações, Emanuel), seguido de uma explicitação bíblico-teológica e concluída por uma súplica que, por sua vez é introduzida pelo verbo vir (Vinde!).

 

Contemplar é ampliar
a experiência do templo, ver de
perto, abrir os olhos, vigiar. É reconhecer
o invisível, o
inaudito,o belo para além do gosto, o essencial

As antífonas são contemplações de Cristo que a Igreja realiza cantando. Contudo, contemplar é algo custoso na cultura e sociedade hodiernas. Vivemos em um tempo de consumismo, de compra, de aquisição imediata, onde as relações são reduzidas à objetivação e ao uso. Esse comportamento entra na Igreja e se mostra quando as pessoas pensam que podem pagar pelos sacramentos, que têm direitos porque contribuíram, ou quando não toleram pequenos atrasos porque tem o tempo contado… Exige escuta, silêncio, abertura ao Outro, ao desconhecido e supõe fazer espaço, deixando-se guiar, conviver com a gratuidade e com aquilo que parece inútil para a sociedade.

 

Contemplar é ampliar a experiência do templo, ver de perto, abrir os olhos, vigiar. É reconhecer o invisível, o inaudito, o belo para além do gosto, o essencial. Quem contempla tem gosto para a arte, para o lúdico, para o gozo, para a poesia, para o símbolo. As antífonas do Ó nos remetem para essa experiência de Deus, que em Jesus de Nazaré realizou historicamente nossa relação consigo. Por isso, as antífonas iniciadas com Ó remetem à essa capacidade eclesial para a admiração, a contemplação.

 

Dentre as antífonas, figura a terceira, rezada no dia 19, “Ó raiz de Jessé”, que agora transcrevemos:

Ó Raiz de Jessé, ó estandarte,

Levantado em sinal para as nações!

Ante vós se calarão os reis da terra,

E as nações implorarão misericórdia:

Vinde, salvar-nos! Libertai-nos sem demora!

 

São muitas as referências bíblicas. Jessé é pai de Davi e seu nome significa “presente de Deus”. Da sua raiz surgirá um novo fruto, conforme a profecia de Isaías (11,1.10). Mas o tronco que remete à descendência davídica, igualmente recorda a cruz, como sinal erguido para as nações. A reminiscência bíblica retoma o simbolismo da serpente erguida no deserto por Moisés (Nm 21,8-9) que na cruz vai ser superado (Jo 3,14-15).

 

Na iconografia cristã medieval, a Raiz de Jessé recebe uma representação fantástica: Jessé é representado adormecido: ora do seu lado, ora do ventre, ou ainda da região pubiana brota um enorme tronco com toda a sua descendência, a começar de Davi. As imagens lembram o sono de Adão, de Jacó e de José. No topo, Cristo está como última ramagem, seja sozinho, como Pantocrator (Senhor do Universo), seja como menino, nos braços de Maria. Apontam, conjuntamente, para a dupla espera do tempo do Advento: a vinda histórica e a vinda futura, que aguardamos e ansiosos suplicamos: maranatha!

 

Pe. Danilo César Lima
Liturgista

 



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