Reduzir o Evangelho a um ideal moral ou a uma regra de vida elevada faz com que o cristão tenha uma visão distorcida do que ele realmente deve ser. Muitos cristãos têm como meta testemunhar Cristo e procuram levar uma vida conforme o ideal evangélico, mas, às vezes, isso caminha para uma experiência que o faz entender que ele detém o monopólio da moral cristã. Esquece que muitas vezes lá onde os olhos não alcançam existem muitos que, desprovidos dessa mentalidade, levam uma vida moralmente eficaz, principalmente no que envolve a bondade, a solidariedade e a compaixão, valores humanos fundamentais.
Não se vive a proposta de Cristo desta forma, tendo um ideal evangélico perfeito, não se presta um culto agradável a Deus com essa mentalidade. Fazer a experiência de Cristo é perguntar-se: o que desejou o Pai ao revelar em Cristo sua nova lei? E como o cristão deve revelar os mistérios de Cristo em sua vida moral?
A primeira pergunta deve ser respondida reconhecendo que a presença de Cristo no coração do mundo veio da parte do Pai para dar pleno cumprimento à lei, ou seja, fazer da lei lugar de encontro do homem com Deus e de Deus com o homem. Quando isso não acontece, o que se percebe é a multiplicação de prescrições, fardos pesados sobre os ombros e a fé torna-se lugar do legalismo. Perde-se o foco e começa a partir daí a busca por aquilo que não é essencial no caminho verdadeiro da fé. Para Moisés, a lei deveria revelar a verdadeira fidelidade a Deus e o homem deveria dar pleno cumprimento a ela na obediência do coração. Mas, se perdendo dentro de seus desejos, o homem não consegue essa façanha.
Cristo é o primeiro a cumprir verdadeiramente a lei de fidelidade ao Pai, cumpre-se Nele o encontro da fé e lei vividas na integridade do coração. Dá-se Nele o cumprimento daquilo que o Pai desejava, que a lei do Senhor pudesse instruir os caminhos dos homens. Jesus prova aos seus que a lei exterior não é a lei que advém do Pai, pois a que vem de Deus vem do interior dos corações e renova os homens.
A segunda pergunta iremos respondê-la quando descobrirmos que a autenticidade da vida de um cristão não passa simplesmente por uma moral cristã perfeita, por um caminho evangélico exemplar a ponto de dizer: eu sou o exemplo de cristão! Mas sim, na verdadeira alegria de perceber que a sua vida é gerada na morte e Ressurreição do Senhor. A vida de um verdadeiro cristão deriva da Páscoa daquele que soube dar complemento à Lei de Deus na obediência, soube cumpri-la e levá-la à perfeição no “abraço” que deu na Cruz em favor de todos. Observemos que a vida do cristão será sempre mais perfeita quando também vivê-la na força do Espírito Santo, e com isto enfrentar as mortes de cada dia na certeza que sua obediência não vem de seu exterior, mas de seu interior que é conduzido pelo Espírito que moveu o Cristo. Para que isso se cumpra nos corações, faz-se necessário entender o que Cristo disse aos seus discípulos: “Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o remendo tira parte do vestido e fica maior a rotura. Nem põe vinho novo em odres velhos; de outro modo arrebentam os odres e derrama-se o vinho e estragam-se os odres. Mas vinho novo é posto em odres novos e ambos conservam-se”. (Mateus 9:14-17)
Que os corações se abram e nasçam no mundo cristão entendendo que uma moral cristã ou ideal evangélico só tem sentido se estiver fundamentado na morte e ressurreição de Cristo.
Padre Joacir Alves Antunes
Paróquia Cristo Operário, Contagem
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