Muito se fala sobre a importância da Palavra de Deus. Ela é fundamental para a nossa catequese. E é importante lembrar que no Diretório Nacional de Catequese encontramos essa reafirmação: a Palavra de Deus (Bíblia) é a primeira fonte da catequese, Palavra esta carregada de seu sentido simbólico e com o significado de fazer ecoar a Palavra de Deus a todas às nações. Grande é o desafio dos catequistas, das comunidades e de toda a Igreja eclesial: fazer ecoar a Palavra de Deus como processo de educação e aprofundamento da fé, de forma permanente, acompanhando adultos, jovens, adolescentes e crianças no caminho de descoberta da mensagem de Jesus Cristo.
Muito também se fala sobre uma catequese evangelizadora que ajuda no conhecimento cada vez mais profundo de Jesus Cristo e de sua proposta do Reino. A catequese, vista como uma dimensão que se encontra inserida e ou ‘encarnada’ em todos os campos da ação evangelizadora da Igreja, necessita de ‘catequistas bem formados’ para a execução das tarefas catequéticas apresentas em seu conjunto de atividades especificas de educação sistemática da fé.
Para uma boa catequese, vários são os aspectos que necessitam ser valorizados na ação catequética: participação na comunidade; ligação com a liturgia; interação fé e vida; diálogo que faz do catequizando um bom interlocutor; alimentação constante na fonte da Palavra de Deus; consciência de responsabilidade na transformação social e nas questões ecológicas; desenvolvimento de espírito missionário; educação para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
Buscar a Palavra de Deus, compreendê-la, vivenciá-la e anunciá-la é nosso tarefa de catequistas.
A redescoberta do fundamental – saborear, interiorizar, contemplar a realidade e anunciar Jesus Cristo
O mundo atual passa por profundas transformações. Acontecem rápidas mudanças que mudam as realidades, transformando-as e dificultando sua compreensão. Não se trata apenas de uma época de mudanças, mas ‘mudança de época’ que traz um conjunto de novas circunstancias que afetam o cotidiano da vida. Podemos dizer que nos encontramos numa realidade que passa da repetição para a diversidade, do fixo para o móvel, do analógico para o digital, da indiferença para a exigência da responsabilidade social e ambiental. Estar presente nesse mundo, para nós catequistas, anunciadores da Palavra não significa apenas a nos ajustarmos a essa nova realidade, adequando o nosso agir a ela, mas reinventar o nosso pensamento e a ação, redescobrir o fundamental, ou seja, tentar descobrir a experiência de base e ir reconstruindo a partir dela. Fazemos uma busca de compreensão da realidade para melhor interagirmos com ela em vista do crescimento do Reino de Deus. Esta é a missão de toda Igreja, nos diz o Papa Francisco em sua Exortação Evangelli Gaudium (EG, 273).
A missão da Igreja e a nossa missão de catequista nela inserida, é anunciar a Palavra. Levar Jesus cristo ao conhecimento de todos e à vivência e amadurecimento da fé a todos os cristãos. Estamos falando da transmissão de uma mensagem de vida. A vida em Cristo.
O Antigo Testamento chama a Torá “o Caminho”. Jesus vai dizer: “Eu sou o Caminho” (a verdadeira Torá). A Palavra de Deus no Antigo Testamento representa toda a atuação profética designando uma Palavra de Deus profética. Deus falou aos profetas e falou através deles. A Palavra acaba invadindo toda a concepção bíblica da revelação.
O Novo Testamento mostra como chegamos à verdadeira Vida seguindo a Palavra. A vida de Jesus é um acontecimento de tal magnitude, que sua presença viva constitui-se para a experiência original cristã na figura real e palpável da revelação de Deus. Ele foi mestre e revelador com a doutrina, mas também com a sua vida: com sua total presença e manifestação pessoal, com palavras e obras, sinais e milagres, e, sobretudo, com sua morte e ressurreição gloriosa dentre os mortos. É a vida do Cristo recolhida nos evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas que deixa transluzir algo do que, tanto para Jesus como para seus ouvintes, teve de ser a experiência da revelação.
A revelação de Jesus assimilada como ‘Palavra’ acaba chegando aos fiéis como anúncio, como eu-angellion. Suas palavras foram se tornando ‘Palavra do Senhor’. No Evangelho de João Ele é chamado de Logos, e numa grande transformação passa de 1pregador1 a ‘objeto a se ‘objeto da pregação. Jesus é identificado com a própria Palavra (Logos): Ele é por inteiro ‘revelação e palavra’.
Trazendo a reflexão para os nossos dias atuais, a Igreja do Brasil traz em suas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja, no período de 2019 a 2023 uma convocação para vivermos o desafio de uma vida testemunhada pela fraternidade e solidariedade afetiva juntos aos irmãos, comprometidos com a opção evangélica preferencial pelos pobres. Como Igreja e como cristãos no mundo, somos chamados a nos qualificar para a tarefa permanente de construção de uma sociedade assentada sobre os valores do Evangelho de Jesus Cristo.
Diante da complexidade do mundo atual, da vida urbana e da mudança de época, a Igreja nos pede para retornar nossos olhares para a formação de pequenas comunidades eclesiais, como indicação do Documento de Aparecida. As pequenas comunidades são consideradas como ambiente propício para escutar a Palavra de Deus, viver a fraternidade, animar a oração, aprofundar os processos de formação continuada da fé, e fortalecer o firme compromisso do apostolado na sociedade de hoje (DAp, 309).
As diretrizes nos apresentam uma reflexão sobre a Igreja nas casas (comunidades de comunidades) e a Igreja em Missão, um caminhar evangelizador assumindo o compromisso de formar comunidades que vivam como Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária, lugar onde as pessoas vivenciem e testemunhem a comunhão fraterna, todos juntos peregrinando rumo à pátria definitiva. Eis a nossa missão.
Para a realização dessa caminhada convido vocês catequistas para refletirmos juntos, iniciando pelo busca do conhecimento da Palavra – Jesus Cristo. Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele é a Nova Aliança instituída em sua pessoa: um vinho novo que faz os odres velhos se romperem (Mc 2,22).
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de belo Horizonte.