Deus é comunhão. O Deus que Jesus revelou é uma comunhão de amor. O Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai no Espírito Santo que os une pelo amor. Jesus é o Filho de Deus, gerado e não criado. Ele se coloca a serviço do Pai e recebe a força do espírito Santo. O espírito anima, dá vida a toda a criação do Pai e leva as pessoas a terem fé em Jesus. A Trindade toda sai de si para a salvação do ser humano.
O Ser humano é chamado a crer no Deus Trindade. Assim, uma das tarefas da formação cristã é trabalhar e possibilitar o conhecimento da fé que introduz a pessoa na compreensão e experiência do mistério do Deus revelado por Jesus Cristo, da Sagrada Escritura, da Igreja e da Sagrada Tradição. Podemos dizer que a “porta da fé” está sempre aberta para nós. Em Cristo descobrimos que Deus é amor (1Jo 4,8), mas amor ressuscitado. Deus é o ressuscitador que realiza a nova criação. Está sempre presente em nossa vida. É o Deus da ressurreição, aquele que, a partir de Cristo ressuscitado, abre caminho ao nosso futuro último. Mais do que dentro ou sobre nós, Deus está diante de nós e vai construindo a esperança à qual somos chamados a recuperar para cada um nós da melhor forma possível: “enraizando a nossa vida em Cristo ressuscitado”.
Quais as reais possibilidades de acesso à fé? Que itinerário irá seguir?
A Fé é dom de Deus que nos é dada na liberdade de cada um. Ela não se transmite mais culturamente. Necessário se faz que cada um e cada uma desejem entrar pela porta da fé e percorrer itinerários pessoais que abram possibilidades de vivenciá-la.
A fé cristã tem sua centralidade na pessoa de Jesus Cristo. Ela inicia-se e completa-se em Jesus Cristo (Hb 12,2), mas antes existe um discreto e silencioso itinerário aberto a todos os homens e as mulheres da terra. Conforme nos diz a Sagrada Escritura, na Primeira Carta de Pedro, “Sem terdes visto o Senhor, vós o amais. Sem que agora o estejais vendo, credes nele. Isto será para vós fonte de alegria indescritível e gloriosa, pois obtereis aquilo que desejais: a vossa salvação” (1Pd 1, 8-9). A salvação é a meta da nossa fé. Então podemos dizer, num sentido mais próprio, que não é possível conceber a vida humana sem fé.
Quando falamos em “fé” precisamos ir além do conceito que encontramos em nossos catecismos; ir além do Credo que professamos; a fé significa um ato de confiança elementar, constitutivo da nossa vida, pois desde o nascimento nós necessitamos dessa confiança. Ao nascer, a criança já identifica sua mãe, nela confia e se entrega, se aconchega. Fé é acreditar, confiar em alguém. É confiar na vida e isto supõe transpor limiar, ir além do fundamental, passar do medo da existência à confiança da vida. Mas ninguém passa sozinho. Sempre estamos a precisar de alguém que nos ajude a fazer a passagem. Sempre haverá um alguém antes de nós para ajudar-nos a afazê-la. Somos seres de confiança, embora necessitemos que alguém nos acompanhe e provoquem em nós o primeiro passo da fé. Desde o nascimento à fé.
Sabemos que percorrer esse caminho não é fácil. Mas ninguém irá fazer o itinerário no meu lugar. Dizemos ser esta fé elementar uma fé antropológica, uma fé que crê no valor da vida humana. É aquela fé comum a muitos homens e mulheres que encontramos no caminho da existência. Trata-se da confiança fundamental na vida que é provocada por Jesus, por sua presença, por aquilo que ele realiza, por sua bondade e sua proximidade. Essa fé é caminho para se chegar ao agir de Jesus. Ele é o caminho que possibilita o encontro pessoal com Deus.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte