Caminhamos com Igreja, nesse período quaresmal, e fizemos uma grande experiência de fé recordando um tempo rico da nossa praxis cristã quando somos chamados à reflexão sobre a fragilidade e efemeridade da vida humana.
Especialmente nesse tempo, em que o mundo vive a experiência de quarentena por causa do corona vírus, mais forte se torna a fé do povo, voltados para Deus e para os irmãos, procurando viver esse dificil momento com a força da fé, a certeza da esperança e o fervor da caridade. Assim é que o Papa Francisco nos convocam a viver.
Façamos memória do tempo quaresmal, nos seus aspectos litúrgicos e teológicos.
O período da quaresma, nesse ano, iniciou com a quarta-feira de cinzas, no dia 26 de fevereiro, e se estende até o domingo de Ramos, e à luz do simbolismo Bíblico, carregando consigo seu valor salvífico-redentor encerrará com a quinta-feira Santa. É todo um tempo marcado pelo convite ao recolhimento e à conversão dos devotos; tempo de graça e reconciliação, itinerário para uma profunda e verdadeira conversão.
Através do sinal das cinzas inicia o caminho de conversão, que atingirá sua meta na celebração do sacramento da penitência, nos dias antes da Páscoa. Tempo privilegiado da redescoberta da inserção no mistério pascal de Cristo mediante o sacramento do batismo. Uma preparação espiritual para a celebração do grande mistério pascoal. Todas as celebrações desse tempo são marcadas por grandes símbolos e exigem atitudes sinceras de conversão, em vista da celebração da Páscoa.
Nesse ano, o período quaresmal torna-se mais forte diante da realidade que estamos vivendo. O tempo nos ajuda a dar sentido evangélico nos momentos de provação e nos prepara melhor para a grande festa litúrgica, a maior do cristianismo.
A quaresma é tempo que nos reportam para as experiências dos 40 anos vividos pelo povo de Deus, no deserto, depois de experienciar a ação de Deus e serem líberos dos 400 anos que viveram escravos no Egito. Também, nos reportam para os 40 dias em que Moisés permaneceu no Monte Sinai, em oração, aguardando a ação divina para o estabelecimento dos mandamentos nas tábuas da lei. Ainda nos lembra os 40 dias em que Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para recolher-se em oração e jejuar, antes de iniciar sua missão. Nesses 40 dias Jesus rezou ao Pai pelos os que não rezam, jejuou por quem não o fazem, venceu as tentações do demônio.
Vivendo esse tempo quaresmal, tempo de silêncio para estar com Deus, hoje, ele se torna muito mais forte e nos possibilita a viver a prática da penitência, na certeza da vida doada por Deus e crescer no exercício da caridade.” Oração, penitência e caridade plenifica a vida cristã, mesmo em tempos de corona vírus”, tempo em que somos subjugados à mobilidade forçada, às restrições e ao medo. Mas como vem nos orientando os especialistas médicos, o melhor remédio é o ficar em casa e cuidar-se.
Nesse sentido vamos fazer a experiência do Domingo de Ramos e da Semana Santa em nossas casas, recordando o sentido das igrejas domésticas, santificando o domingo, dia do Senhor, o que também nos reportam para as experiencias das primeiras comunidades.
Qual o significado do Domingo de Ramos?
O Domingo de Ramos abre por excelência a Semana Santa. A celebração desse dia nos faz recordar a entrada de Jesus em Jerusalém. Ao celebrarmos as bênçãos dos Ramos e caminhar em procissão, fazemos a entrada triunfante na Igreja (Templo Sagrado) e, em comunidade, experimentamos toda a alegria do acontecimento daquele dia: a chegada do Senhor em Jerusalém para celebrar a Páscoa do seu tempo. (Lembremos que nesse ano faremos a procissão em nossas casas).
Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento, símbolo da pobreza e do serviço. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”…. Uma aclamação cheia de alegria e esperança, pois Jesus como o profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias esperado, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política religiosa e econômica imposta cruelmente pelo Império Romano, naquela época, que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos. O povo esperava um rei que impusesse a paz, pela força e pela espada.
O Domingo de Ramos pode ser chamado também de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”. Nele, a liturgia nos relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte. Este é o único domingo no qual se faz a memória da paixão do Senhor.
Esta procissão e a benção dos ramos para nós constitui um só rito litúrgico não podendo fazê-lo em separado. A procissão que acontece é carregada de um profundo significado de fé. Em Jerusalém, enquanto os chefes do Sinédrio pensam na eliminação de Jesus, nesse mesmo momento o grão de trigo que morre começa a dar fruto: alguns pagãos pedem para ver Jesus. Esse pequeno grupo de estrangeiros é o núcleo da futura Igreja. Hoje, esta procissão não é apenas uma recordação de um acontecimento passado, mas de tornar presente o acontecimento, através da celebração litúrgica, e de vivê-la na fé. Sempre fomos chamados a entrar com Jesus no drama da sua paixão para compartilhá-la. A Igreja tem por vocação ser instrumento de Cristo em favor da redenção do mundo.
Celebrando o Domingo de Ramos
O sinal externo da procissão adquire todo o seu relevo na medida em que tenhamos formado uma comunidade de fé com o anuncio da Palavra de Deus. Uma celebração que se inicia com a entrada de Jesus em Jerusalém deve elevar os ânimos dos fiéis à proclamação da paixão de Jesus na liturgia e à sua atuação sacramental na liturgia eucarística.
Compreendendo o sentido e significado do domingo de ramos, podemos vive-lo bem em nossas casas. Várias são as sugestões dadas através dos meios de comunicação. Vamos apanhar nossos ramos, fazer nossa procissão nos espaços que temos, acolher as benções que nos serão oferecidas pelos santos padres, através dos meios de comunicação, e assim, unidos a uma só voz, façamos chegar aos céus nossos cantos e orações, mantendo unidas nossa Igreja terrestre à Igreja celeste em um só louvor.
Como nos diz o profeta Jeremias: há um tempo para tudo. Que para além de tudo aquilo que esse tempo nos proporciona para olharmos para nossa interioridade, que também possamos olhar para fora e perceber que a natureza também é favorecida. Ela também aproveita a oportunidade para se restabelecer, já nos ajudando a respirar melhor, e mais tarde nos oferecer melhores condições de vida.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado
Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.