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[Artigo]A paróquia e o planejamento orçamentário – Dom Edson Oriolo, bispo auxiliar na Arquidiocese de BH

Atualmente, estamos vivendo numa sociedade com muitos desafios, situações difíceis e crises. Uma dessas crises é a econômica. Há muitos desempregados e o dinheiro está escasso. As famílias e as pessoas estão tentando administrar da melhor maneira possível a vida, eliminando gastos supérfluos, luxos e caprichos. A sociedade procura ser feliz e viver bem, com dignidade.

Uma realidade que transcende essa situação é que as famílias e as pessoas não deixam de ajudar financeira e materialmente o próximo e as instituições. O doar-se faz parte da vida das pessoas. A solidariedade e a partilha estão intrinsecamente ligadas ao cotidiano das pessoas. Ajudar, fazer doações a causas úteis e necessárias para a humanidade significa cooperar para uma sociedade mais justa, fraterna e humana, ou melhor, construir a civilização do amor.

Ajudar pessoas e instituições, mesmo em crise econômica, é construir um mundo melhor. O espírito de doação é uma das maneiras de colhermos e agradecermos à bondade divina, manifestada em tempos de crises. Basta apreciar o comportamento do agricultor que nunca deixa de replantar parte do que colheu e, assim, preserva as futuras colheitas.

Nossas comunidades e paróquias fazem parte deste contexto histórico que estamos vivenciando, ou melhor, à luz da revelação divina, escrevemos a nossa história de salvação principalmente dentro de nossas famílias, comunidades e paróquias.

Mas, para que nossas comunidades e paróquias possam anunciar o projeto de Deus, necessitamos das doações e da ajuda dos fiéis leigos. Recebendo essas doações e ajudas, os responsáveis e os colaboradores dos bispos nas comunidades e paróquias devem administrar com senso de família o que recebem: “Em todos os negócios jurídicos, o pároco representa a paróquia, de acordo com o direito; cuide que os bens da paróquia sejam administrados de acordo com os cânones 1281-1288” do Código de Direito Canônico.

Desse modo, para administrar bem neste momento de crise, somos chamados a aprender a zelar pelas nossas responsabilidades administrativas e econômicas. Frente a elas, acredito que um planejamento orçamentário ajudará nossas comunidades e paróquias a realizarem uma evangelização adequada, manifestando transparência em suas contas.

Além do nosso dever de honestidade cristã, é preciso ter presente que existem muitas controvérsias sobre as isenções concedidas à Igreja. Ter tudo documentado é fundamental para dar credibilidade à maquina adversa do governo.

Se o ganho e o uso do dinheiro fazem parte de nossa vida como administradores, para sermos bons e fiéis administradores das doações que são feitas, faz-se necessário vivenciarmos a logística de um bom orçamento paroquial. Tratamos com um dinheiro que não é nosso. Ele chega até nós como fruto do trabalho de pessoas sensíveis e humildes.

Penso que o sistema orçamentário seja um instrumento eficaz no processo de gestão econômica e financeira na vida das comunidades e paróquias. É um excelente instrumento de planejamento e controle de resultados financeiros. Ele vai acompanhar e monitorar o desempenho das doações e ajudas do cotidiano.

É importante fazermos um orçamento paroquial e procurar segui-lo. Situar onde estamos e onde queremos chegar. Encarar a nossa realidade e estabelecer objetivos altos a fim de construir a civilização do amor. Neste momento de crises e desafios, precisamos construir uma sociedade justa para que todos tenham dignidade e vida em abundância.

O orçamento é a contabilidade do futuro. Mesmo assim, existe um grau de incerteza, que acaba provocando variações nos resultados projetados na medida em que as operações vão se realizando. Mas ele retrata as necessidades e desejos da paróquia em um determinado tempo.

Sendo assim, alguns passos são importantes:

1) Elaboração de um orçamento paroquial.

-Relacionar as receitas e as despesas na vida da comunidade e paróquia.

-Levantar a situação atual econômica de nossas comunidades ou paróquias, pois, numa sociedade em crise, muitas vezes cometemos negligências na administração. Precisamos sim aumentar as receitas, mas, por outro lado, reduzir as despesas para bem administrar e corresponder às nossas responsabilidades.

2) Elaboração de uma boa planilha orçamentária com descrição das receitas e despesas (valores) focando os seguintes itens (seja mensal, bimestral, trimestral, semestral ou anual):

Nesta planilha, é importante registrar detalhadamente:

a) As receitas básicas do mês (ofertas, dízimos, doações, festas, aluguéis etc…);
b) Outros recebimentos previstos com as respectivas datas de recebimentos (doação para determinada ação na comunidade ou paróquia);
c) Todas as despesas básicas mensais (água, luz, telefone, internet, colaboradores etc.), com a data aproximada do pagamento;
d) As despesas básicas semanais que devem ser multiplicadas por cinco semanas (feira, padaria, supermercado, combustível, estacionamento etc…). Cinco semanas para evitar surpresas, que certamente acabarão por acontecer;
e) As despesas mensais fixas (manutenção da Igreja, Centro Pastoral, INSS, FGTS, Côngruas etc…), oriundas de compromissos regulares já assumidos, registrando a data do pagamento;
f) Os investimentos feitos a partir de economias sejam as de pequeno ou de grande valor, como a troca de carro ou de equipamentos;
g) As despesas com a arquidiocese ou diocese na dimensão da diocesaneidade;
h) As despesas extras como as coletas especiais da diocese e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil;
i) As despesas variáveis como investimento dos leigos (encontros, retiros etc…);
j) As despesas adicionais com reformas, rescisão, situações trabalhistas.

Mas é bom lembrar que para os que não têm uma renda fixa ou regular, é preciso trabalhar com uma média conservadora, ou seja, planejar levando em consideração um valor menor do que a média real. Poderão aparecer situações de queda momentânea.

Por meio de um bom planejamento orçamentário, será possível evangelizar com todos os recursos, usufruindo deles com tranquilidade e amor. Ter um bom planejamento orçamentário é fazer da nossa Igreja “uma Igreja pobre para os pobres”, como nos ensina o papa Francisco.

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Dom Edson Oriolo

Bispo Auxiliar na Arquidiocese de Belo Horizonte MG, Mestre em Filosofia Social pela PUC Campinas, Especialista em Aristóteles, pela Unicamp, e em Marketing pela Universidade Gama Filho. Também pela Universidade Gama Filho, é pós-graduado em Gestão de Pessoas. Leader and Professional Coach pela Act Coaching Internacional. Escreve em várias Revistas, Periódicos sobre Gestão Eclesial, Paróquias, Pastoral Urbana e Pastoral do dízimo.



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