Catequese e liturgia são duas faces do mesmo mistério. A Liturgia é fonte privilegiada de catequese. Ela é ação sagrada por excelência, cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte da qual deriva sua força, e requer uma participação plena, consciente e ativa (cf. SC 7, 10 e 14). A catequese bebe desta fonte e a ela conduz, como fonte inesgotável, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã.
Assim, a catequese como educação da fé e a liturgia como celebração da fé são duas funções da única missão evangelizadora e pastoral da Igreja. A liturgia, com seus sinais, palavras, ritos, requer da catequese uma iniciação dos catequizandos nos sinais litúrgicos, de forma a proporcionar a eles a compreensão, participação e vivência na celebração. O rito litúrgico conserva a memória do Mistério Pascal de Cristo.
Alguém se torna discípulo de Jesus na Igreja através da ação litúrgica do batismo e por meio da ação evangelizadora da catequese. (cf. Mt 28,19s). Tanto a catequese como a liturgia têm o desafio de ajudar as pessoas a fazer verdadeiras experiências do Deus da vida e do amor. Que elas possam se perceber como lugar da presença de Deus. Paulo Apóstolo já nos chamava atenção: “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16).
Desde o início da Igreja, liturgia e catequese estão unidas entre si na Iniciação Cristã. A catequese procura atingir a pessoa toda, em todas as suas faculdades, ajudando-a na interação fé e vida através dos ensinamentos de Jesus. Ele que é a plena revelação do Pai, é também o verdadeiro sacerdote, que na comunidade de fé, na sagrada Liturgia, oferece a Deus o sacrifício de sua própria vida. É o mistério Pascal celebrado.
Para o Vaticano II a liturgia é como celebração memorial do mistério pascal, na perspectiva da História da Salvação: “Na liturgia Deus fala ao seu povo, Cristo anuncia o Evangelho e o povo responde a Deus” (SC 33). A catequese litúrgica leva a uma maior experiência do mistério cristão. Ela ajuda as pessoas a ser presença do Reino no mundo: na sociedade, na família, na escola, no trabalho, na política, no lazer, anuncia o modo de viver do jeito que Jesus ensinou. É uma catequese inspirada pela experiência de Deus na caminhada da comunidade.
Nas etapas posteriores ao Vaticano II, percebe-se como o uso plural das linguagens catequéticas muito tem melhorado e nos ajudado, por meio dos ritos e dos símbolos, a expressarem a experiência da fé e a interiorizar a tradição eclesial.
A catequese inspira-se na pedagogia de Jesus: o acolhimento, o anuncio do Reino de Deus, como a Boa Noticia da verdade, liberdade, do amor, da justiça, da paz, alegria, perdão, que dá sentido à vida (cf. Lc 4,17-22; 17,20-21); promove a vivência da fé, da esperança e da caridade, a conversão, a firmeza diante das tentações, das crises, buscando a força na oração. Um Reino do jeito que Deus gostaria que existisse em nosso mundo.
Hoje, muitas pessoas cristãs já percebem que o caminho que deve percorrer todo batizado abrange simultaneamente a profissão de fé, a celebração do mistério, a prática da vida cristã e a oração. Estas são as dimensões fundamentais da vida cristã. A catequese deve tê-las em conta em suas tarefas, articulando-as com outros elementos que integram a missão da Igreja. O caminho da fé terá sua identificação com o evento Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo, na liturgia, quando a Palavra da salvação se faz sinal eficaz, e quando o sacramento nutre a fé e impulsa para a missão e o testemunho.
A prática autêntica dos sacramentos tem aspecto catequético. A catequese é elemento fundamental da Iniciação Cristã e está estreitamente vinculada aos sacramentos da iniciação. Como processo da educação da fé, a catequese inicia a todos na plenitude da vida cristã. Além disso, a catequese está intrinsecamente unida a toda ação litúrgica sacramental, porque é nos sacramentos e, sobretudo na Eucaristia, que Jesus Cristo atua em plenitude para a transformação dos homens. (Doc. de IC 20).
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.