Conforme nos orienta o Papa Francisco, em sua mais recente encíclica, a Fratelli Tutti, somos chamados a ser catequistas que caminham e procuram estar próximos uns dos outros, superando preconceitos e interesses pessoais. Ele nos diz: “O amor constrói pontes e nós somos feitos para o amor”. Amemos uns aos outros e vamos expandir esse amor para uma dimensão maior, universal, trabalhando para uma cultura do encontro, de uma Igreja em saída. Deixemo-nos sair de nós mesmos para encontrar nos outros “um acrescentamento de ser”, na prática da caridade, nas questões do direito à vida com dignidade e uma atenção especial para com a educação dada pela família. Ao pensar e gerar um mundo aberto, tenhamos o coração conectado ao mundo inteiro.
Convidados a viver o diálogo e a amizade social, possamos fazer a experiência apreendida do Poeta Vinicius de Moraes que conceitua a vida como “a arte do encontro” com todos, também com as periferias do mundo e com os povos originais, porque de todos se pode aprender alguma coisa: ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. Com todos sejamos amáveis. Este é o apelo do Papa Francisco: recuperar o “milagre da amabilidade”, uma atitude esquecida por muitos.
Constantemente somos chamados a recomeçar, a aproveitar novas oportunidades, a nos renovar e nos transformar diante de uma sociedade ferida, sem perspectivas, nos colocando de braços abertos e de forma gratuita a demonstrar o desejo de ser presença incansável no exercício do compromisso de inclusão, de integração do outro no seu habitat, assim como nos demonstrou o Samaritano que, diante de uma realidade presente, sem temer as dificuldades que pareciam enormes, toma a iniciativa de cuidar do próximo, de prestar-lhe socorro encaminhando-o até o lugar apropriado.
O Evangelho de Jesus não terá sentido para nós se não nos apropriarmos de ensinamentos como esses e aplicá-los à nossa vida. Como o Samaritanos, somos chamados a convidar outros e a encontrarmos um “nós”, mais forte do que a soma de pequenas individualidades. Lembremo-nos de que “o todo é maior do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas” (EG,235).
Fazer a leitura dessa realidade e trazê-la para a prática da vida atual é para nós, catequistas, fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus e ajudar outros a fazer o mesmo. Não é o que Jesus sempre diz ao concluir um ensinamento? “Vá e faça como ele fez?”. Faz-se necessário ir além fronteiras numa saída de si mesmo e caminhar atentos às fragilidades de cada homem, de cada mulher, de cada criança, cada adolescente, cada jovem, cada idoso, sempre em atitude de solidariedade, caridade e amabilidade.
Esse tempo de quaresma foi, diferentemente dos outros, um tempo de maior interioridade, de maior tempo de oração. Isso por causa do distanciamento social, do apelo: “fica em casa”. Muitas pessoas, ao precisarem ficar em casa, fizeram da sua casa esse lugar propício para “pensar no outro”, preocupar-se com os acontecimentos e dificuldades do outro. Foram tantos os desempregos, tanta falta de alimento, foram tantos os desalojados. Essa situação causou o despertar de muitos para uma realidade cruel, em que foi possível ver o irmão ferido e, solidariamente, ir ao encontro dele.
A Semana Santa se aproxima. A expectativa de renovar o encontro com o ressuscitado acende em nós a chama ardente do amor de Deus, ativa em nós o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e escolher a todos.
Nas periferias da vida existencial, cada pessoa possa viver e saborear a mística do mistério da nossa fé. Viver sempre à luz do Ressuscitado.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano
Bíblico-Catequético de Belo Horizonte