O caminho da vida cristã, que passa pelo processo de iniciação e pelo aprofundamento da verdade sobre Jesus Cristo e a Igreja, se faz pela compreensão da fé e pela apreensão dos valores evangélicos. Enquanto a fé é um arremesso ao Mistério infinito e finito, invisível e visível do Cristo, que leva não só ao conhecimento das pessoas divinas e das coisas santas, senão a uma profunda comunhão íntima com Ele, os valores evangélicos são os diversos modos que podemos configurar o nosso agir no mundo às ações do homem de Nazaré, seguindo os seus mandamentos de amor a Deus e ao próximo, bem como promovendo e anunciando, aos pequeninos do Reino, os fundamentos das bem-aventuranças.
Os jovens, hoje, vivem entre luzes e sombras, enfrentando grandes desafios sociais, éticos e morais. Dentre eles, vale ressaltar as pressões da sociedade de consumo, a desenfreada busca pela riqueza e acúmulo de bens materiais, a falta de oportunidades, o hedonismo e o relativismo, a intolerância e o fundamentalismo, o impacto da rápida transformação cultural, o prolongamento do período da juventude e as mudanças físicas e psíquicas que ocorrem nesta fase. Muitos jovens cristãos correspondem de modo admirável à proposta de Jesus Cristo. São comprometidos com a missão da Igreja e com a sociedade, envolvidos nas questões sociais e na luta por políticas públicas efetivas. É neste contexto geral que a iniciação cristã dos jovens deve revelar a Luz do mundo, que é Cristo, que ilumina a vida da juventude, irradia o testemunho da fé e clarifica os valores evangélicos.
Com os sacramentos de iniciação, o jovem cristão é inserido no corpo místico e recebe a identidade cristã religiosa, se senta à mesa para celebrar e partilhar o pão da vida com a comunidade fraternal, É enriquecido pela Graça e se sente fortalecido com a unção divina. Neste processo, vão sendo capacitados a dar testemunho do evangelho em situações e ambientes diversos da existência conforme a proposta cristã.
No texto de Mateus (19,16-22), um “jovem rico” pergunta diretamente a Jesus: “- Bom Mestre, que coisa boa devo fazer para ter a vida eterna?”. Como este rapaz afortunado de bens materiais e obediente das regras da religião, os jovens de hoje são interlocutores de Jesus. Isso significa ser confrontado para viver e participar das coisas divinas: os mandamentos de amor e as bem-aventuranças. O Mestre está atento aos desafios da vida juvenil e tem uma proposta para a juventude. O catequista também deve estar atento diante das necessidades dos jovens de hoje, principalmente daqueles que no caminho acreditam ser cumpridores de mandamentos e tarefas religiosas. Estes desejam a eternidade. Mas, o que isso vale se não promover um crescimento humano e espiritual que leve a viver bem o que é bom e a desenvolver na sociedade o que é importante para a efetivação do Reino dos céus já entre nós?
A clareza das palavras do Cristo é o modo próprio que deve ser a catequese. A interpelação de Jesus leva o interlocutor a reconhecer o dinamismo da vida. Mostra em profundidade que o “quase” não é “tudo”: “- O que me falta?”. E o que Ele propõe é exigente: é deixar tudo, para alcançar o Todo. O catequista deve ajudar os jovens a ter consciência que o que fazem as vezes não é bom ou é insuficiente e, assim, ajudá-los a revelar, em seu coração, o desejo de conhecer e aprender o que é genuinamente bom e suficiente. Não basta apenas cumprir tarefas morais, senão cooperar com a transformação da realidade. É isso que Jesus propôs para o jovem rico: “- Vai, vende as tuas posses e dá aos pobres”. O Mestre exige o desapego das coisas passageiras e incertas. Requer obediência. É na obediência a Cristo que são superadas as tentações da vaidade, do egoísmo, da ganância, do legalismo e do moralismo.
Os jovens iniciados manifestam a maturidade da fé na releitura da própria vida e dos acontecimentos da história à luz do evangelho e da proposta de Jesus Cristo. Eles se colocam disponíveis para ajudar os outros jovens a crescerem na fé e na espiritualidade. Buscam reconhecer nos ambientes humanos a presença do Deus encarnado, vivo e vivificador. Com rosto jovem, são potencialmente um jeito arrojado de ser Igreja, bons discípulos na evangelização das juventudes, agentes solidários e fraternos, sabendo partilhar os bens e os dons que possuem. Aos catequistas cabem considerar os jovens, não apenas objeto de doutrinação, mas sujeitos aptos a agir e transformar com rapidez as realidades. Eles são protagonistas de uma sociedade e grandes revolucionários da história. Se assim considerá-los e valorizá-los estaremos próximos de uma Igreja viva e participativa.
Enfim, uma catequese de iniciação atenta aos desafios dos jovens, recupera o caminho que leva ao encontro com a pessoa de Jesus Cristo em plena comunhão com a Igreja. Este caminho supõe aceitar o Deus vivo e verdadeiro, mas também fazer rupturas com organizações e estruturas sociais que escravizam e produzem uma cultura de morte. A partir de uma catequese iniciática que promove o encontro com o Mestre, o jovem cristão de hoje, rico em dons, se torna um discípulo maduro na fé e que sabe partilha valores evangélicos ao ser protagonista numa “Igreja em Saída”, rumo às “periferias existências”, nas quais vivem muitos da nossa juventude.
Padre Roberto Rubens da Silva
Membro do Secretariado Bíblico-Catequético da Arquidiocese de BH.
Pároco da Paróquia Jesus de Nazaré