O Advento é um tempo especial que nos prepara para o Natal, mas não ao modo penitencial, como faz a Quaresma. Ao contrário, o Advento nos remete a experiências profundas de esperança, de consolação, de vigilância e de alegria. A palavra alegria vem do latim “alacer”, que significa, entre outras coisas, vivacidade, entusiasmo.
Entusiasmo, por sua vez é uma alegria que habita dentro, que preenche ou, se desejarmos, que vem de dentro para fora. Em outras palavras, não é algo meramente exterior, epidérmico ou aparente. Falamos então de uma alegria profunda, que se enraíza numa experiência sólida e que vai muito além de dar risadas ou distrair.
Os evangelhos nos falam da experiência da descoberta de algo precioso, como a parábola do tesouro escondido num campo, ou da pérola de grande valor (Mt 13,44-45). Quem encontra o campo, cheio de alegria, o mantém escondido e investe tudo na compra daquele campo. Trata-se de algo que tem grande valor (tesouro, pérola), que foi encontrado, talvez ao acaso. Isto é, sem depender muito de si mesmo. Em ambos os casos, o homem que descobre o tesouro ou aquele que descobre a pérola, são afortunados, que agarram a oportunidade quando ela se apresenta. Lembremos que a parábola está falando do Reino de Deus, realidade à qual o evangelista Mateus emprega essas imagens.
A alegria do tempo do Advento é essa alegria secreta, de uma descoberta de algo oculto, secreto, que se dá a conhecer de modo misterioso e escondido. Algo que já se faz presente, mas não inteiramente manifesto. Mas é algo que compensa, pois move a gente a um grande esforço, é algo que nos empenha. A alegria do Advento é a alegria do Reino, das bem-aventuranças, uma alegria que independe de mim mesmo, mas me arrebata e me captura. É uma alegria que chamamos graça, isto é, algo dado, algo nos visita, algo que me vem ao encontro de forma inesperada.
João Batista falou no domingo passado da presença do Messias que os religiosos de Jerusalém não conseguiam reconhecer. O Messias estava lá, já presente no meio deles e eles não o viam, embora o procurassem. O profeta não tinha mais perguntas, só dava respostas. Os que perguntavam não tinham respostas, somente dúvidas, inquietações, confusão… Só João sabia o que estava escondido, no meio dos judeus. Só João tinha descoberto o tesouro tão esperado e ansiado por gerações e gerações de judeus… João tinha a alegria. Aquela mesma alegria que dirá o apóstolo Paulo com outras palavras:
Da Igreja eu me fiz ministro, “exercendo a função que Deus me confiou a vosso respeito: a de fazer chegar até vós a palavra de Deus, mistério que ele manteve escondido desde séculos e por inúmeras gerações e que, agora, acaba de manifestar-se a seus santos. A eles Deus quis revelar a riqueza da glória deste mistério entre as nações, isto é, Cristo no meio de vós, a esperança da glória”.
A alegria verdadeira é o combustível escondido no tanque que movimenta o carro, a força interna que faz a gente prosseguir que não se esvai em euforia, nem em desespero. Mas como azeite, faz acender a nossa lâmpada e iluminar o nosso olhar para ver adiante e sair, passo a passo, no meio da noite.