Para o evangelista Mateus, a Igreja está centrada no discipulado daqueles e daquelas que são chamados a viver no tempo presente os ensinamentos do Mestre como se estivessem vivendo os tempos finais, do juízo. Para Mateus não basta simplesmente a fé, é preciso coerência de vida. “Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que entrará no Reino, mas quem faz a vontade do Pai” (Mt 7,21).
A mensagem de Jesus é o reino que Nele mesmo se torna presente e chega até nós. Embora seja inseparável da Igreja, o reino transcende os limites visíveis dela; ele se realiza onde Deus está reinando pela graça e pelo amor, estabelecendo comunhão, mesmo no coração de quem se acha fora do ambiente perceptível da Igreja, conforme no diz as orientações da Catequese Renovada (CR, 204).
Caminhando com a Igreja, neste ano fizemos a experiência do discipulado, conforme o evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus nos orienta. Como eram os discípulos de Jesus segundo o Evangelho de Mateus? O que aprendemos com eles?
Uma das tendências que se torna evidente nos estudos referentes à apresentação dos discípulos por Mateus, é que eles são um reflexo da própria comunidade. São transparentes, ou seja, na representação dos discípulos vê-se a vida e a situação da comunidade de Mateus e os compromissos de seus membros.
Em todos os evangelhos, os discípulos aparecem como personagens e figuras centrais. Mateus apresenta sua ideia de discipulado colocando seus discípulos junto às questões que confrontam a comunidade e o ambiente do Evangelho, assim como sobre as prioridades e seus valores.
Mateus apresenta Jesus e os seus discípulos atuando essencialmente na região da Galiléia, mais concentrados na cidade de Cafarnaum, considerada a Cidade de Jesus (Mt 9,1).
Os discípulos, em Mateus, não se aventuram por sua própria conta, mas permanecem com Jesus sendo instruídos sobre o Reino dos céus e a vida do discipulado de forma correta. Participam da vida de Jesus, fazem com ele a experiência de vida junto à comunidade até a ressurreição. O trabalho missionário era somente de ordem, ou seja, eles saiam em missão e retornavam para continuarem o aprendizado. Só depois de passarem por essa experiência, indo com Jesus até a ressurreição é que eles são enviados para a missão. Ai sim, eles recebem a ordem e a jurisdição da missão.
O Ministério dos Discípulos de Jesus após a ressurreição.
Se antes, durante o ministério de Jesus, os discípulos eram enviados para a práxis: curas, milagres e exorcismos, agora, pós-ressurreição, os discípulos são enviados para ensinar às pessoas as ordens de Jesus. São enviados para fazer discípulos no mundo, instruindo-os nas normas da comunidade e do Reino. Importante lembrar que no tempo de Jesus ainda não havia o exorcismo como é conhecido na doutrina das Igrejas. Tratava-se de uma cura, visto que se tinha a concepção de que as doenças, também as psíquico-mentais, eram causadas por seres sobrenaturais, como espíritos, demônios etc.
Fazer discípulos é o processo de trazer pessoas para a comunidade, ou seja, para a Igreja, adquirindo sua pertença nesta comunidade pelo Batismo.
Um dos pontos alto de entendimento dos discípulos sobre Jesus e o Reino, em Mateus, pode-se dizer ser a confissão de Pedro em 16,13ss. Pedro e os discípulos compreenderam quem é Jesus. Pedro reconhece Jesus como o Cristo, O Filho do Deus vivo. E Jesus diz que foi Deus quem revelou isso a Pedro. Deus revelou a Pedro a verdadeira identidade de Jesus.
Sabendo agora quem é Jesus, os discípulos podem instruir outros sobre ele e o modo de vida que a comunidade é chamada a praticar. Os discípulos são seguidores de Jesus que compreendem sua mensagem e, agora, levam-na adiante, na forma de instrução, orientação e experiências pessoais com o ressuscitado.
O enfoque do ensino da educação ajuda a assegurar a continuidade das crenças e valores adequados na comunidade.
A esse modelo de discipulados, todos nós somos chamados a exercer. Diante da realidade atual, uma sociedade marcada pelo pluralismo religioso, tem-se de estar atentos, assim como os discípulos de Jesus, manter a identidade viva de Jesus em nosso agir, fortalecendo o discipulado no seguimento de Jesus, atentos à revelação de Deus que continua na nossa História: na vida e nos fatos da vida.
Todos nós somos discípulos missionários. Toda a Igreja é responsável pela sua missão. Todos os batizados e batizadas, sem exceção, são chamados a viver essa missão no compromisso ao Reino de Deus que é justiça e fraternidade. O Papa Francisco nos convoca a sair pelos caminhos do mundo anunciando o Reino e indo ao encontro dos pobres e dos que sofrem toda forma de exclusão.
O reino dos céus está presente com toda a sua potencialidade. As comunidades não podem desencorajar-se diante das dificuldades e diversidades. Todo aquele que se constitui discípulo e discípula de Jesus são desafiados pelo Mestre a compreender a profundidade da vontade do Pai, e o ápice do caminho do aprendizado do amor. Este caminho será, sem dúvida, a participação no mistério da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
A missão da comunidade é grande. Tem trabalho para todos. Comunicar a Boa Notícia da salvação com alegria e confiança, anunciar Jesus Cristo e o seu reino, como o bem maior de nossa vida é uma forma de fazer pastoral. Assumir o projeto de Jesus de construir o Reino de Justiça e Paz, na fraternidade e no amor, está se tornando cada vez mais difícil, mas é tarefa necessária.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.