Somos chamados a estar atentos à realidade que nos rodeia. Como discípulos missionários de Cristo, na missão de anunciar o Evangelho, a realidade se torna conteúdo. Nela se faz necessário mergulhar com o olhar da fé, em atitude de discernimento.
Se olharmos bem a realidade, podemos encontrar os nossos mais diversos catequizandos. Eles estão por toda parte esperando que nós, catequistas, os enxerguemos, acolhendo-os para anunciar-lhes a Palavra de Deus.
Ver a realidade como conteúdo catequético
Acolher a Palavra e aceitar Deus na própria vida, é dom da fé. Mas a fé é como uma caminhada. É seguir o caminho de Jesus. O que os discípulos fizeram pelos caminhos da Galiléia e da Judéia até a Cruz, acompanhando fisicamente Jesus, deve ser refeito hoje, em nosso meio, mas sabendo que os evangelhos foram escritos, não apenas para recordar o itinerário terreno de Jesus, mas para fazer dele o roteiro ideal da caminhada de todo discípulo, orientado para uma fé que seja de adesão de toda a pessoa humana a Cristo, a Deus e a seu projeto para o mundo (cf. CR n.64).
Fazer adesão à pessoa de Jesus Cristo é um desafio
A catequese precisa se preocupar em manifestar a unidade profunda que existe entre o projeto salvífico de Deus – a história da salvação – e a história humana; entre a Igreja, Povo de Deus, e as comunidades; entre a ação reveladora de Deus e a experiência do homem; entre os dons e carismas sobrenaturais e os valores humanos.
Esta é a preocupação que continua na Igreja: A prática da catequese deve estar ligada não só às circunstâncias históricas, mas a diversos modos de pensar na relação com a Revelação de Deus, nos dada por Cristo. Assim, ao assumir as angustias e esperanças do homem de hoje, a catequese possa lhe oferecer as riquezas de uma salvação integral em Cristo. Contudo, isso só se torna possível se, além da mensagem bíblica em seu conteúdo, também lhe apresentar sua realidade vital encarnada nos fatos da vida. É nesse sentido que as situações históricas atuais e as aspirações humanas são parte do conteúdo da Catequese.
Então, percebemos as marcas da nossa história que estão sendo deixadas na realidade do homem pós-moderno?
As realidades de hoje dificultam formar identidades, afirmar certezas. As mudanças acontecem tão rapidamente que afetam os critérios de compreensão, dada a variedade das ofertas, o que impossibilita estabelecer relações contínuas. Cada vez mais aumentam as propostas de felicidade, realização e sucesso pessoal, em detrimento do bem comum e da solidariedade. Essas situações provocam o individualismo, contribuindo para que desapareçam as atitudes solidárias e fraternas.
O individualismo também pode visto onde menos deveria estar, até mesmo em ambientes religiosos, onde se percebe a busca da própria satisfação, prescindindo do bem maior: o amor de Deus e o serviço aos semelhantes.
São nessas realidades é que precisamos testemunhar nossa fé cristã, solidários a todos. Sabemos que a realidade é complexa – existem luzes e sombras, alegrias e preocupações. Para nos estabelecer nesse contexto, necessitamos de uma atitude de diálogo, da procura de elementos comuns que permitam, em meio à diversidade, estabelecer relações e fundamentos para a ação.
Como catequizar nesta realidade atual? Como fazer ecoar o anúncio da Boa Nova, no cumprimento da ordem dada por Jesus: “Ide e anunciai a todos o Evangelho”?
Somos todos desafiados por estes tempos de transformações a discernir, na força do Espírito Santo, os sinais dos tempos. Como anda a sua realidade? A sua comunidade é catequizadora? Vamos Juntos retornar às fontes e buscar o fundamento – Jesus Cristo? A exemplo das primeiras comunidades, principalmente, da comunidade Joanina, somos convocados a perceber os sinais deixados por Jesus, o Cristo e a percorrer o caminho, construindo o Reino de Deus, fonte de graça, justiça, paz e amor.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte