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[Artigo]– Quem faz a história do povo é o povo – Neuza Silveira, Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte

As pessoas que acreditam na sua vocação de construir um mundo melhor, quer dizer, aqueles que são conscientes e que assumem responsabilidades, são as pessoas que vão pelos caminhos construindo suas histórias, ou seja, histórias de sua vida, de seus relacionamentos, de suas experiências junto às outras pessoas, de seus aprendizados.

Nós, catequistas, somos chamados a despertar as crianças, jovens e adultos para verem que muita coisa não vai para frente porque as pessoas não as assumem.  São sempre pequenas coisas, pequenas discordâncias que destroem o relacionamento entre as pessoas. Nesse sentido, somos levados a ajudar a criar a consciência da responsabilidade para que as coisas progridam, cresçam e possam, na vida, florescer.

É preciso haver gente de coragem que alerte o pessoal para acabar com tudo aquilo que leva à destruição, como por exemplo: briga, inveja, violência, desrespeito, etc. É preciso mudar de atitude, transformar as coisas negativas em positivas. É preciso sentir o sentido da vocação e missão. O que devemos fazer para causar transformações?  Para anunciar coisas boas que dê sentido à vida?

Catequistas e evangelizadores, e todos aqueles que tomam a consciência de sua missão, do sentido da vida a partir da Palavra de Deus, encontrarão como exemplo, primeiramente, os profetas bíblicos, depois as experiências das primeiras comunidades cristãs; e, seguindo o percurso da vida, todos aqueles que conosco caminham e nos orientam para o bem, fazendo como opção de vida a fé em Deus e no ser humano que é chamado a colaborar. Todos aqueles que desejam construir um mundo melhor, ou seja, são conscientes e assumem responsabilidades. Aqueles que reconhecem e deixa fluir de si a centelha divina que o torna em sua essência um ser religioso.

Os profetas nos falam a partir de suas experiências com o povo do seu tempo.

Os profetas do Antigo Testamento se apresentavam divididos em suas atividades: Os chamados ‘profetas anteriores’ – Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis – contam a história do povo de Israel desde a travessia do Rio Jordão e a conquista de Canaã, passando pela ascensão e queda dos reinos israelitas, até sua derrota e seu exílio nas mãos dos assírios e babilônios. Os considerados ‘profetas posteriores’ pronunciam os oráculos, ensinamentos sociais e expectativas messiânicas de um grupo de indivíduos inspirados e que vivem os conflitos do seu tempo, que vai de meados do século VIII a.C até o final do século V A.C., período em que o povo se encontrava perdido em meio às guerras e transformações culturais e religiosas advindas de outros povos.

Os escritos, também conhecidos como os livros sapienciais, são formados por uma coletânea de homilias, poemas, orações, provérbios e salmos que representam as expressões mais memoráveis e poderosas de devoção do israelita comum em tempos de alegria, crises, culto e reflexão pessoal. A maioria deles foi escrita entre o período do século V até o período do século II a.C, período esse em que o povo vivia a experiência de várias mudanças, estilos e normas de vida através da convivência com os povos persas e helenistas.

Apreendendo esses escritos, encontramos nesses livros as narrativas da saga do povo de Israel. “Saga” é uma palavra que significa lenda ou aventura. É um dos gêneros literários da narrativa, ou seja, da contação de história. A saga consiste em descrições de histórias de personagens famosos de uma determinada cultura ou religião. Nos textos encontramos uma sequência de fatos narrados, sejam eles imaginários ou reais, onde os personagens atuam em um determinado espaço e tempo. Mas os relatos de suas experiências de vida se constituem em ensinamentos para todas as gerações futuras e são modelos de vida para nós. São formas de vida sobre o amor, a justiça, a misericórdia, a valorização da pessoa, o reconhecimento do Deus-amor que faz sempre o bem, e a tomada de consciência de que as coisas ruins provêm das ações do próprio ser humano.

Fazendo referência ao gênero literário utilizado na época para escrever as histórias do povo de Deus, quero com isto dizer que elas, as histórias, podem ser trazidas para as nossas realidades e podemos nos fazer personagens delas, irmos até lá no seu contexto, como podemos trazer os personagens até aqui, em nosso tempo, e aprender com eles, a partir de nossa realidade. O ser humano é um ser que cria símbolos, que os interpreta, que os comunica, e, por seu meio, se relaciona ativamente com toda a realidade. A própria vida humana é uma aventura.

Atualizando a palavra na vida

O catequista evangelizador que toma conhecimento da beleza da Palavra d Deus, no seu contexto, ou seja, no tempo espaço em que o povo vivia, ele pode trazê-la para nossa realidade, olhando aqui para o tempo e espaço onde encontramos.

Utilizando dos recursos que se têm hoje, dos meios de comunicação, das formas de linguagens, gestos, símbolos e formas de interpretação, torna-se possível fazer experiências de vida, assim como os profetas, para descobrir o sentido da vida. Ajudar as pessoas a crescer e viver na verdadeira alegria, na paz e na confiança em Deus.

Como exemplo, pode-se olhar um pouco sobre a vida do Profeta Elias.  Quem o conhece? Em que tempo viveu na história? A partir de sua luta e de sua resposta dada a Deus ele nos ajuda a fazer a experiência do partilhar o pão de cada dia. Estando em dificuldade, ele vai pedir ajuda a uma viúva (a viúva de Sarepta). E aprendemos com a história que na vida deve-se ajudar sem ver a quem e procurar conhecer as necessidades dos outros. Ás vezes é difícil tirar daquilo que se tem para dar ao outro. E muitas vezes, quem tem pouco, ajuda com melhor facilidade.

Será que hoje encontramos pessoas como a viúva de Sarepta?  Pessoas que se abrem para ajudar aos outros, acolhem sem discriminações? Procuram entender as pessoas e suas necessidades? Encontramos pessoas para profetizar? Anunciar e denunciar?

Na história disse que Deus enviou o profeta Elias para Sarepta. Ele escutou o chamado e foi. E hoje? Como estão as respostas ao chamado de Deus?

A história continua. A missão é urgente. O anúncio da Palavra precisa ecoar até os confins do espaço, como diz Paulo. Para começar, podemos muito aprender com Elias como fazer missão. Como responder o chamado de Deus.



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