A cada dia que passa, mais próximo está o Senhor. É tempo de alegria. Tempo de libertar o tempo de tiranias e violências para acolher o tempo que chega trazendo o Senhor. Somos chamados a escutar as perguntas de cada tempo. De resgatar do tempo o que ele traz de bom. Esse tempo de Advento nos convocam para as grandes surpresas da chegada do senhor e nos pedem para preparar o coração, porque quem chega é o menino Deus, que nasce em Belém, mas que também vem até o ser humano por meio de seus irmãos e irmãs. Elevem de mansinho, não como um soberano altivo e indiferente, mas o grande companheiro, que sofre conosco e nos compreende. O amigo que vem nos revelar o grande amor do seu Deus, aquele que vem para restabelecer a dignidade do pobre, do que chora, do que sofre e do que é perseguido.
O Deus de Jesus, aquele ao qual chama de Abbá, é um Deus como pai-mãe que só por amor nos traz à existência e junto conosco atua em nossa história. Um Deus que, por sua Plenitude, não tem carências, mas que é inteiramente dom, que consiste em ser ágape (1Jo 4,4.8.16) e, cuja ação não é nunca egoísta, mas de pura generosidade para com o outro. Um Deus que se interessa por nós, tudo em nós: corpo e espírito, indivíduo e sociedade, cosmo e história, ou seja, um Deus que pensa em nós e se preocupa com tudo que possa ser bom e positivo para todas as pessoas e para o mundo.
O Deus de Jesus é aquele que cria por amor e que quer o bem de toda a humanidade. Embora exista o mal no meio dessa humanidade, ele existe por ser inevitável, tanto física como moralmente, nas condições de um mundo finito, e de uma liberdade finita.
Jesus, ao nos revelar o seu Deus, nos convoca a lutar contra o mal do mundo. Chama-nos a fazermos colaboradores de Deus na luta contra o mal que se apresenta como fruto da obra de seu amor por nós.
Acolher e viver esse amor que nos é dado por Deus acontece quando o buscamos na vida de Jesus, o verdadeiro Filho de Deus. É Nele que encontramos o verdadeiro sentido da fé cristã.
O Homem Jesus de Nazaré
O homem Jesus, no sentido humano da Palavra, é o ponto de partida para a busca de compreensão da fé cristã. É a partir dele que chegamos ao mistério da nossa fé trinitária. É dele que provém a religião que chamamos de Cristianismo e que se tornou uma religião mundial que declara ser Jesus a figura que, pessoalmente, revela Deus. Mas o conhecimento sobre Jesus somente o encontramos a partir do movimento que o próprio Jesus despertou no primeiro século da nossa era, movimento esse vivenciado pelas primeiras comunidades e partilhado conosco através de suas experiências de caminhadas. São os Evangelhos, a Boa Notícia sobre a vida de Jesus de Nazaré, ou seja: quem foi Jesus, o que ele falou e fez. Todas as suas experiências são relatadas na linguagem da fé, mas se referindo a uma realidade concreta e histórica.
O que as primeiras comunidades falam sobre Jesus?
Falar sobre Jesus na linguagem da fé é explicitar o que este Jesus realmente histórico significou para os seus seguidores. Trata-se de uma informação de fatos presentes, mas já interpretados na linguagem da fé. Ao falar sobre Jesus, elas afirmam que ele morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras (1Cor 15,3). Dizem: morto, porém ressuscitado (Rm 8,34; 1Cor 15,3-4). São experiências de vida nova atribuídas ao Espírito. Uma nova vida da comunidade, presente em virtude do Pneuma e colocada em relação a Jesus de Nazaré.
Esse é o convite que a Igreja, Sacramento de Cristo, continua fazendo até a hoje: que possamos a cada ano, ao celebrarmos o nascimento do Cristo, renovar nossas vidas nos constituindo “nova comunidade em Cristo”; Comunidades vivas de fiéis, conscientes de ser o novo Povo de Deus, primícias da assembleia de todo o Israel e de toda humanidade; Comunidades que caminham à Luz do Espírito do Ressuscitado.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.