No mundo contemporâneo estamos sempre à procura de respostas sobre a vida, seu sentido e, no fundo, sobre nós mesmos. Sempre há buscas secretas que inquietam nosso coração. É constante o desejo de sabermos quem realmente somos, de onde viemos, porque estamos nesse mundo, quais as nossas funções e que sentido têm as escolhas que a vida exige de nós e nesse contexto, há anseios que apontam para Deus. Esse desejo move homens e mulheres a irem ao encontro de um projeto de vida.
O ser humano está, ao mesmo tempo, de si próprio tão próximo e a si próprio tão misterioso. Desde que existe, interroga-se ele sobre sua natureza, sobre suas origens, sobre seu destino. Antes, estas perguntas eram respondidas com mitos, nos quais o homem prolongava em arquétipos ideais, os componentes de sua natureza.
Hoje, o homem e a mulher modernos substituíram essa compreensão mítica por uma tentativa de compreensão científica: pelas ciências do homem, tentam eles penetrar nas profundezas de sua pré-história e configurar uma perspectiva do seu futuro, mas com isso vem-se a dar numa zona obscura que olhar humano algum consegue sondar. Há uma parte do homem, a parte essencial, que chega ao mistério em sentido próprio e no qual só a revelação nos pode introduzir.
Segundo o autor teólogo, Cardeal Jean Daniélou na tentativa de procurar responder as muitas perguntas dos cristãos diante da complexidade da origem do ser humano que se coloca na busca por sua identidade, no desejo de se compreenderem nesse mundo, ele, o autor, parte dos relatos bíblicos, iniciando pela criação, Para o autor, segundo os relatos bíblicos, pode-se compreender o que é a natureza do homem, ao apreender os ensinamentos de que ele foi criado à imagem de Deus, o que significa não ser ele nem um Deus, como querem os mitos, nem um produto da natureza, como querem os evolucionistas, mas transcende à natureza, ao mesmo tempo em que é transcendido por Deus.
Os relatos bíblicos da criação revelam qual é a origem do homem: não um ser celeste caído no mundo da matéria, nem um animal evoluindo pouco a pouco em inteligência, mas uma criatura espiritual no centro de uma criação material. Eles nos revelam em que consiste o destino do homem: não em reencontrar, pela ascese, ou seja, pela prática de exercícios para o desenvolvimento espiritual, ou a prática de renúncias para dominar os seus sentidos, o deus que ele teria sido por natureza, nem em se criar a si próprio, transformando as condições materiais de sua existência, mas sim em ser introduzido por Deus, por um dom gratuito, na pertença da vida divina, o Paraíso. Assim, a criação do homem aparece como integrante das maravilhas de Deus, tal qual a aliança feita com Abraão e a ressurreição de Jesus Cristo. Para nós cristãos, a ressurreição de Jesus Cristo é o ponto de partida da nossa fé cristã.
A lembrança da criação é acompanhada do anúncio da nova criação: a do êxodo, da profecia do novo êxodo. A Abraão é anunciado que todas as nações da terra serão abençoadas em sua descendência (Gn 12,3); a Moisés, que um profeta maior que ele lhe sucederá; a Davi que um rei de sua raça reinará para sempre. O Novo Testamento nos mostra em Cristo a realização desses anúncios. A vida de Jesus aparece, toda ela, como a repetição de tudo que fora inaugurado em Adão. É o mesmo Verbo de Deus que modelara Adão que vem retomá-lo no seio da Virgem. Pela ressurreição de Jesus, Deus o acolhe e o estreita em seus braços fortes, e neles o ressuscitado permanecerá, agora que a humanidade é introduzida por ele na vida da Trindade.
A humanidade presente são os povos da terra e nela está o problema da diversidade dos povos e sua significação que é importante, tanto para a concepção da civilização humana, como para a Igreja. Esta, atualmente, depois de uma longa caminhada, nos apresenta a vida cristã como projeto de vida que nos insere na vida do Cristo e no mistério dos desígnios de Deus.
Nesse sentido, a vida cristã é um projeto de vida, nos aponta a Igreja no Documento 107 da CNBB. Um projeto que, passo a passo, vai ensinando-nos e nos permitindo que nós mesmos nos deixemos se envolver pelo mistério amoroso do Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Todos nós, mas principalmente os catequistas e agentes evangelizadores, somos chamados a promover um novo jeito de dialogar como nossos catequizandos e catecúmenos de forma a possibilitar a presença fervorosa do Senhor na sua vida. Ajudar a homens e mulheres, jovens, adolescentes e crianças a encontra-lo porque seu Espírito nos dá a água viva verdadeira, assim como ele disse à samaritana à beira do poço de Jacó, na cidade de Sicar.
O chamado à comunidade para a participação no projeto da vida Cristã, através de um processo iniciático que se realiza por meio de um itinerário se constitui em tarefa ministerial para a comunidade, ela que é fonte, conteúdo e agente de ponto de chegada do cristão iniciado e maduro para o testemunho do seguimento de Jesus. É ela que acolhe, motiva, ajuda e testemunha a fé no cotidiano dos iniciados em processo de educação da fé.
Percebe-se que a comunidade cristã, na maioria das paróquias, está ausente dos nossos atuais itinerários catequéticos. Como ela poderá ser envolvida nesse processo iniciático, bem como cada família pode estar contribuindo para a inserção de seus filhos na vida misteriosa do Cristo, desde seu nascimento, vamos continuar refletindo no próximo encontro.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH