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[Artigo] O Querígma como ação evangelizadora da catequese – Neuza Silveira

O evangelho de João nos fala sobre os ramos unidos a uma videira: “permanecei em mim, e eu permanecerei em vós” e nos oferece a fonte do dinamismo do amor, que é o Pai – “Como o Pai me ama, também eu vos amei”

Muito se tem falado de uma catequese evangelizadora, querigmática, voltada para a importância do “Primeiro Anúncio”, na certeza de que ele oferece a porta aberta para a vivência em busca das experiências originárias das primeiras comunidades que beberam na fonte da pregação apostólica.

Muito também se tem perguntado: Quem é Jesus? Como apreender seus ensinamentos? Como recuperar sua força missionária? Como se adaptar às culturas diversas (sociais, econômicas, políticas e religiosas)? E sempre a resposta dada é: Jesus é o Filho de Deus que veio ao mundo, comunicou a Boa Nova do Reino de Deus e deixou expresso o desejo de que todas as pessoas vivam baseadas na compreensão e no amor e que o aceitem, de livre vontade, em suas vidas.

Ainda dizemos: o anúncio do querigma exige comprometimento, pois ele conduz a uma conversão e fé inicial em Jesus Cristo. Embora esse anúncio se constitui como uma opção prioritária na catequese, ele é o fio condutor de toda a catequese, ou seja, ele se faz presente, perpassa toda a caminhada de aprendizagem e vivência na catequese. O querígma é um convite para fazer adesão à pessoa de Jesus Cristo e permanecer nele.

Mas o que é “permanecer em Cristo”?

Permanecer em Cristo demonstra um relacionamento pessoal, próximo a Jesus e aos irmãos na vivência de um amor fraterno que dê visibilidade da nova vida manifestada e comunicada por Jesus. Assim, permanecer em Cristo, conforme o evangelista João 2,5-6 nos ensina a conhecer Cristo, não com um conhecimento superficial, mas extrair dEle a vida em sua essência. Podemos bem compreender esse sentido de vida trazendo para o nosso imaginário o que o evangelho de João 15 nos fala sobre os ramos unidos a uma videira: “permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. João nos oferece a fonte do dinamismo do amor que é o Pai. “Como o Pai me ama, também eu vos amei”. Nesse sentido, o Pai ama o Filho e este fluxo do amor do Pai para o Filho continua, através dele, até nós, nos envolve e nos entrelaça no seu amor. Um amor que não é apenas sentimento, mas uma relação criada pelo dom de sua vida, relação fecunda, que se alastra no amor fraterno.

Jesus nos comunica o mistério do amor do Pai que se revela por meio dele. Deus é a fonte do amor, do qual Jesus, o Filho amado, se sabe portador. Esse amor do Pai impele o Filho a manifestá-lo, dando até sua vida pelos que são chamados a se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12-13). O amor do Pai em Jesus é também modelo que deve inspirar o relacionamento dos discípulos de Jesus. Assim podemos compreender que o amor do Pai, que Jesus acolhe e traduz em amor por nós, é a fonte e o modelo de nosso amor pelos irmãos. Esse dinamismo do amor está no ordenamento de Jesus sobre o amor fraterno, o mandamento de amar os irmãos.

O amor se torna um presente que devemos partilhar com todos. Somos chamados a nos tornarmos “aliados” de Deus e de Jesus, na expansão do seu amor. Anunciar, expandir esse amor é a tarefa do querígma: anunciar o Deus-amor que se manifesta no dom que Jesus faz de sua vida pelos irmãos. Em Cristo fomos feitos seus herdeiros. A herança é serem filhos no Filho. Viver sempre como primícias o amor de Deus. O amor que nos é dado não porque somos bons, porque merecemos, mas porque Deus é bom e é próprio do amor expandir-se por meio das pessoas amadas.

Como se deixar envolver por esse amor?

Como discípulos, somos chamados a assumir a cruz de Cristo. Essa missão se encontra no seguimento contínuo de Jesus Cristo. Esse seguimento exige comprometimento e muitas vezes, renúncia de interesses nossos que não entram em harmonia com o projeto do Reino. O seguimento nos coloca no caminho do serviço e da doação. Doar a vida colocando-a a serviço do Reino, ela jamais poderá se perder.

Situamos em nossa realidade presente. Estamos vivendo o tempo quaresmal, aproximação do tempo pascal que nos convoca a reavivar nossas experiências de vida com o Cristo ressuscitado. Comprometidos com esse tempo, colocamo-nos na possibilidade de fazermos a experiência de uma verdadeira conversão que nos faz próximos de Jesus e nos coloca no seu caminho. Assim podemos nos envolvermos em seu mistério e nos deixar maravilhar-se pelas maravilhas do encontro pessoal com Ele.

O primeiro passo para essa caminhada é a fé. Fé em Jesus Cristo.

Possuir uma identidade de fé cristã esclarecida, fundamentada no amor do Pai e do Filho, vivenciada e celebrada na vida é tarefa de uma catequese querigmática, acolhedora e evangelizadora. Uma catequese que se entrelaça com a acolhida, o diálogo, com a oração pessoal e comunitária, com a Palavra de Deus e Testemunho de vida, seus sinais e símbolos. Uma catequese capaz de nos transportar para a mistagogia. A vida misteriosa do Cristo ressuscitado.

Quando nos deixamos penetrar pelo mistério da vida do Cristo, uma nova vida surge no horizonte, uma vida possível de se viver, fundamentada no amor.

Neuza Silveira de Souza
Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.



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