Quando, para amar alguém, é preciso afastar-se do ambiente familiar, deixar de lado os amigos, os sonhos pessoais , o projeto de futuro que esse amor pretende está furtando a pessoa da experiência nobre de amar |
Você é o ar que eu respiro”, “sem você não vivo mais”, “minha vida sem você não tem mais sentido”. “Só você e ninguém mais em minha vida”… Essas simples frases podem parecer encantadoras em um momento e, aparentemente “provar” amor por alguém, mas o que inicialmente se apresenta como encanto pode se tornar verdadeira armadilha.
Armadilha não pelo fato da intenção de “provar” que ama, mas por esse amor ser exclusivista.
Nossa vocação é amar. Doar-nos para alguém faz parte do estatuto afetivo do ser humano. Impossível pensar uma vida sem se dedicar ao bem do outro. Fazer feliz, nos faz ser felizes. Mas há perigo iminente quando fomentamos nossa mente para que ame alguém de maneira exclusivista. Exclusividade é dedicar-se inteiramente a alguém ou a alguma coisa. E destinar sua atenção, energia e afeto para aquilo que você endereçou seu coração. No entanto, quando o ato de amar torna-se exclusivista pode ser prejudicial à saúde afetiva de qualquer pessoa.
Será perigoso amar com exclusividade alguém?
Muitos, na ânsia de viver um grande amor, acabam, sem perceber, deixando na margem outros “amores” que sustentam o equilíbrio afetivo de uma pessoa. Quando, para amar alguém, é preciso afastar-se do ambiente familiar, deixar de lado os amigos, os sonhos pessoais que carrega, o projeto de futuro que esse amor pretende está furtando a pessoa da experiência nobre de amar.
A experiência do amor é plural. Logicamente, a maneira de amar é diferente. Amar os familiares tem conotação e grau diferente do que amar sua profissão.
Mas, a questão está ligada ao fato de destinar toda a vontade de amar somente para um lado e, consequentemente, abandonar todas as outras forças vivas de amor.
Nos dias atuais, as relações são estabelecidas com maior facilidade e, tendo em vista os recursos de comunicação que temos, os laços estão cada vez mais enfraquecidos e, assim, o amor vai se tornando cada vez mais líquido, conforme lembra o sociólogo Zigmunt Baumann. A presença da pessoa fica cada vez mais cara em tempos de relações virtuais e é nesse momento que as portas das prisões afetivas são abertas. “Fico com você, mas para isso terá que abrir mão de todas as outras possíveis presenças”. A fragilidade das relações expõe a pessoa aos perigos de ser ludibriada nos afetos, tornando-se vítima daqueles que, pela ausência de responsabilidade afetiva, exigem amor exclusivista, fazendo com que a pessoa “abandone” os outros amores por causa do grande amor da sua vida.
Na mensagem cristã, vemos a preocupação de Jesus Cristo com relações reais e saudáveis, um amor recíproco e envolvente, em que todos estejam dispostos para amar, sem necessidade de encarcerar o outro em afetos desvirtuados. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).
Padre Ederson Iarochevski
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