Ser catequista é uma experiência tão antiga quanto a Igreja. É alguém chamado a conhecer Jesus Cristo, amá-lo e levar sua mensagem a todos por meio do testemunho de vida.
A alegria de ser catequista acontece quando a pessoa se sente verdadeiramente inserida na vida da Igreja, sempre em busca de conhecimento e experiências que possam contribuir para o amadurecimento da fé de todos os irmãos. Desenvolve um bonito trabalho, apaixonante, mas exigente porque o catequista precisa testemunhar aquilo que fala. Na sua missão de atrair pessoas para o seguimento de Jesus e fazer experiência do amor de Deus, ele se torna uma pessoa encarregada para ser sinal-instrumento eficaz, para transmitir, com a própria vida e pela Palavra, a Boa Nova do Reino de Deus que se revelou plenamente em Jesus Cristo.
O catequista é chamado a ser testemunha do mistério
É importante observar que o Novo Testamento nos transmite mais ações de testemunho do que atividade missionária, sobretudo o Evangelho segundo São João. O testemunho consiste principalmente no anúncio querigmático, na proclamação direta e pública do desígno de Deus de salvar tudo em Jesus. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, além da pregação, há outra forma de evangelização, a saber, o testemunho de vida. Tanto a pregação quanto o anúncio são mediações para a caminhada de conversão.
Podemos experimentar essas mediações partindo dos relatos que provém da origem da prática batismal dos primeiros cristãos que procede do batismo de João. Ele proclamou e praticou um batismo em sinal de conversão, para o perdão dos pecados (Mt 1,4; Lc 3,3). Batizar-se, segundo o rito de João Batista, equivale a “ser submerso” ou morrer; o batismo ou a imersão já era usado no judaísmo como símbolo de uma mudança decisiva na vida, tanto religiosa como civil. Jesus, ao ser batizado por João, com uma particularidade: não confessou seus pecados (Mc 1,9), nem teve que converter-se (Jo 1,5), ele tomou consciência de sua missão na sociedade injusta de seu tempo e trouxe um significado novo, a saber, libertar os homens e mulheres de toda opressão.
Assim, o batismo cristão significa o compromisso de acabar com a injustiça e construir uma sociedade justa, para o que Deus concede o Espírito Santo, pois de acordo com a prática cristã mais primitiva, herdada por João Batista e reinterpretada por Jesus, o batismo é obra do Espírito de Cristo, em cujo nome é celebrado. Batizar-se significa identificar-se com a causa de Jesus, optar pelo sentido da vida dada por Cristo. Implica em compromisso de vida.
A experiência que leva ao mergulho do Mistério
Jesus é o primeiro iniciador da fé e o Catequista um continuador de Jesus nesse processo. A evangelização pretende comunicar a fé aos que não possuem ou a possuem insuficientemente, isto é, os que não creem ou não creem plenamente. A fé é da ordem do transcendente, não se comunica apenas com palavras. Torna-se necessário que a vida da testemunha seja o que diz. A pessoa é cristã a partir da experiência, da expressão de sua espiritualidade, ou seja, o cristão é visto, não pelo seu discurso, mas pela vida humana que emana do seu ser de um modo peculiar, à luz e exigências do evangelho.
Ao falar em experiência, utilizamos de um bom conceito expresso por Leonaldo Boff, no seu livro “Jesus Cristo libertador”. Ele diz que a experiência é a ciência ou o conhecimento (ciência) que o ser humano adquire quando sai de si (ex) e procura compreender um objeto por todos os lados (peri). Movimento de saída de si para perceber a realidade a partir de outro ponto de vista, de vários lados, e, sobretudo, aprender com o novo que está sendo contemplado. A experiência vai além do vivenciar, pois além de viver o ato em si, a experiência indica uma reflexão no ato do viver gerando nova consciência sobre o fenômeno vivido, isto é, provoca novas compreensões, novo jeito de viver.
Nesse sentido, pode-se dizer que há experiência humana quando há relação conosco mesmos, com os outros e com o mundo, participação real do sujeito num acontecimento. A experiência humana aprofundada pode ser caminho de evangelização. Assim, falar de experiência religiosa no processo evangelizador, é uma forma de o ser humano mergulhar na infinitude transcendental. Trata-se de uma experiência do sagrado, ou seja, a percepção da presença do sagrado no universo humano. É uma experiência de medo ou de atração diante do mistério. Pode-se dizer que as pessoas, diante do medo ou diante dos momentos felizes, momentos de realizações, elas se aproximam do sagrado.
Mas, para além da experiência religiosa está a experiência do mistério transcendente (Deus). Uma bela definição dessa experiência está nas palavras do professor Henrique C. de Lima Vaz, em seus escritos de filosofia 1, que a classifica como sendo a experiência do sentido radical. Trata-se de uma experiência única, particular, e ao mesmo tempo, revigora a vida de quem a realiza. Ela possibilita que o ato do viver seja construído, permanentemente e com sentido no cotidiano do dia-a-dia do existir. Assim, a pessoa que consegue contemplar os acontecimentos da vida e retirar deles um sentido ao existir realiza a experiência de Deus.
Falar das formas de fazer experiências nos chama a atenção para perceber como se realiza nossas próprias experiências na caminhada com Cristo. Perceber como vai se formando a mentalidade cristã e traduzindo-a em comportamento evangélico: desprendimento de si mesmo, entrega aos outros, compromisso social, expressão das crenças profundas e na participação em certos gestos sacramentais que se relacionam com o sentido da vida. A vida cristã é impossível sem o “sair de si” de estar em comunidade. Esta tem seu fundamento na palavra de Deus, vive um processo de conversão, está encarnada na realidade do mundo, celebra a salvação de Deus, testemunha sua própria fé e se reconhece como autêntica comunhão.
Diante da missão de evangelizar, de fazer ecoar a Palavra de Deus, o Catequista é chamado para ser encantador de pessoas por Jesus, o catequista precisa ser aquela pessoa que vive, ama e reflete seu ato de viver transformando-o em experiência que dá sentido à vida; uma pessoa de maturidade humana e de equilíbrio psicológico; pessoa de espiritualidade, que deseja crescer na santidade; que alimenta sua vida na força do Espírito Santo, para transmitir a mensagem com coragem, entusiasmo e ardor a Palavra de Deus. Que toda catequista possa renovar sua vocação e permanecer fiel na transmissão da mensagem dos ensinamentos de Jesus Cristo.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado
Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte