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[Artigo] O caminho de constituição do Cristianismo – Neuza Silveira, Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH

A maioria das denominações cristãs professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o Messias que virá será um homem, descendente do rei David.

Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d.C., Jesus de Nazaré, nascido na cidade de Belém, mas tendo crescido e vivido na Galileia, começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias.

Com a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a “partilha do pão” em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o batismo aos novos convertidos.

Essa comunidade constituída após a morte e ressurreição de Jesus já tinha uma estrutura de vida formada na experiência de vida comunitária e vivência no Templo. Uma experiência aprendida com Jesus, mas que vinha de uma tradição judaica, vivida pelos fariseus que já liam as escrituras tirando delas uma interpretação que ia além do que estava escrito. O cristianismo nasce no seio dessa comunidade judaica.

No tempo do judaísmo, o povo considerado fariseu era um grupo constituído de pessoas que, no seu tempo, eram considerados os “separados para Deus para a prática dos mandamentos da Torah”. Eles liam e interpretavam as escrituras colocando em prática os mandamentos da lei de Deus.

Após a invasão dos Romanos desde o ano 63 a.C, os fariseus já se encontravam estruturados em relação à leitura e interpretação da Torah e em relação à sociedade organizada em torno da relação mestre-discípulo. Eles viviam tendo por base uma organização hierárquica, a saber:

Primeiramente Deus, que tudo cria e faz aliança com seu povo. Em segundo lugar, a Torah considerada como orientação, instrução dada por Deus, caminho a ser seguido. Em teceiro lugar, o Mestre, aquele que irá estudar a torh e ensina-la. Não mestre sem Torah e sem discípulo, nem Torah sem mestre. Em quarto lugar estão os discípulos que, ao redor do mestre receberá do mestre os ensinamentos da Torah e aos poucos vão se formando. Por último tem-se a comunidade/sociedade formada de pessoas que se encontram ocupadas com suas obrigações cotidianas e sem tempo para se ocupar de um estudo que requer muita dedicação, mas pode usufruir daquilo que o mestre com seus discípulos colhem dos textos. Assim, observando essa hierarquia de valores, podemos compreender que quem conduz e educa o povo é Deus, de forma indireta. Quem está em contato com o discípulo está com o mestre, com a Torah e com Deus.

Esta experiência de vida foi transpassada para a experiência de vida daquelas comunidades que escreveram os Evangelhos, pois neles encontramos sempre Jesus, como mestre, rodeado de seus discípulos e ensinando-lhes aquilo que, mais tarde estarão ensinando aos outros. Podemos concluir dessa observação de leitura que existe essa cadeia de transmissão: quem é discípulo hoje será mestre amanhã e o ensinamento nunca deixará de ser passado e vivido.

A nova identidade da comunidade cristã

Por volta dos anos 66 d. C, inicia-se a revolta judaica e a comunidade cristã de Jerusalem, constituída pós-ressurreição de Jesus, decide separar-se dos judeus e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo. Após a derrota dos judeus por volta dos anos 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o cristianismo o período que se abre em 70 e que segue até aproximadamente 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como de organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.

Os cristãos reconheceram as escrituras judaicas, incorporando-as em sua Bíblia, ou seja, a Bíblia do Cristão que é contituída do Antigo Testamento (as escrituras judaicas) e o Novo Testamento (os Evangelhos, Atos dos Apóstolos, as Epístolas Paulinas e Apocalipse). Assim, na bíblia encontramos as raízes do cristianismo e sua constituição que, juntamente com a tradição da Igreja, nos oferecem os conteúdos da fé cristã. Uma fé que, segundo o Papa Franscisco é um encontro, uma experiência partilhada. Segundo o Papa: “o cristianismo não é uma ideologia, não é uma corrente filosófica, mas um caminho de fé que nasce com um evento testemunhado pelos primeiros discípulos de Jesus”. Diz ele: “A ressurreição é o núcleo central da fé; Aceitar que Cristo morreu na cruz não é um ato de fé, é um fato histórico. Mas, crer que Jesus ressuscitou é um ato de fé. Nossa fé nasce na manhã de Páscoa. E é belo pensar que o cristianismo é essencialmente isso. O cristianismo é graça; é surpresa, mas deve encontrar nosso coração aberto, capaz de receber as maravilhas do amor de Deus.

Faz-se necessário para a vivência cristã um esforço para contribuir com a própria conversão e construir uma Igreja mais fiel a Cristo, uma Igreja que seja um lugar para trabalhar apara o Reino e assim construir o caminho que leva até Jesus e nos ajuda a confiar no Pai.

Neuza Silveira de Souza
Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte



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